A 1ª edição do Festival Internacional de Cinema Infantil e Juvenil será inaugurada em Lisboa, amanhã, 1 de fevereiro, e prolongar-se-á até dia 9 do mesmo mês.
Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs
Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra
Escola Secundária José Saramago - Mafra
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
PLAY - Festival Internacional de Cinema Infantil e Juvenil
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
A LUSITÂNIA
José de Madrazo y Agudo, A morte de Viriato, chefe dos Lusitanos
"A Lusitânia não é mito dos humanistas do Renascimento. É, a par de um nome que individualiza uma região planetária, um sinal que indicia uma realidade existencial própria, mesmo que os resíduos utilizáveis pelos sucessores e posteriores, careçam de global inteligência e compreensibilidade. A Lusitânia corresponde à zona húmida da Hispânia, onde se constituiu o meio entrópico de Portugal hispânico, como que diverso da zona de sequeiro da Península, onde prevaleceu a masculinidade castelhana, mais arrebatada do que a feminilidade, a frouxidão e a cisma da vertente lusitana. Quando dizemos que antes dos Lusitanos o que sabemos é o pouco que sabemos acerca dos povos anteriores - povos sem história - queremos significar que esse «sem história» se refere mais à nossa ignorância do que à inexistência de uma história, mas da Lusitânia sabemos quanto importa a uma definição, ainda que mais prospectiva do que perspectiva. Olhada retrospectivamente, a Lusitânia é mais do que uma perspectiva da origem, uma prospectiva do meio em que se afirmou uma entidade singular e diferente. E o carro da criação de Portugal. (...)
Lusitânia é a matriz de uma condição histórica, o poente barroco, a extremitate mundi. No Oriente, há uma ponte, a balcânica, da Europa para a Ásia. No Ocidente há a ponte hispânica, funcionando da Europa para todo o mundo. Ponte cultural é, mais do que fenómeno geográfico, uma capacidade de leitura, de síntese e de transmissão, é a virtude do pontificado cultural. Receber a herança e não a delapidar, antes a inscrever e transmitir. A categoria apresenta-se diurna e nocturnamente. A Lusitânia é uma campo, um pagus, uma região, que separa da Europa e, no entanto, a ela se mantém unida, tanto como procura unir-se a todo o mundo. Mais do que Nação, onde se nasce, é uma Pátria."
Pinharanda Gomes, História da Filosofia Portuguesa, 2- A Patrologia Lusitana, Lisboa, Guimarães Editores, 2000, pp.15-22.
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
COLÓQUIO - O DIA TRIUNFAL DE FERNANDO PESSOA
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
CICLO DE DEBATES: O HOLOCAUSTO - CONVERSAS EM CONTRAPONTO DISSONANTE
Imagem e informações detalhadas aqui.
Na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de 5 a 21 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
DA METÁFORA IV
Salvador Dalí, O Sono (1937)
Imagem daqui.
"(...) nos sonhos, as metáforas não estão agarradas à terra."
Gregory Bateson, Metadiálogos, Lisboa, Gradiva, 1989, p.95.
CONCURSO LER É UMA FESTA! - SEMANA DA LEITURA, MARÇO DE 2014
Imagem: Plano Nacional de Leitura |
Este concurso é uma iniciativa do Plano
Nacional de Leitura, em parceria com o Banco Popular, e enquadra-se na 8.ª edição da Semana da Leitura, cujo
tema é a Língua Portuguesa.
No âmbito do
concurso, os alunos são convidados a traduzir/retratar e explicar formas de
concretização da festa da leitura nas suas escolas.
Mais
informações aqui.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
OS CZARES E O ORIENTE
Ofertas da Turquia e do Irão no Kremlin de Moscovo
Sala de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian
De 27 de fevereiro a 18 de maio de 2014
Das 10h00 às 18h00 (encerramento às segundas)
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
DA CONCISÃO XXX
Imagem daqui.
"(...) deixou-se distrair pela frase colada no espelho retrovisor: Objects in the mirror are closer than they appear."
Paolo Giordano, A Solidão dos Números Primos, Lisboa, Bertrand Editora, 2009, p.248.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
AQUISIÇÕES RECENTES
AGUALUSA,
José Eduardo – A Vida no Céu.
Lisboa: Quetzal Editores, 2013. 186 p. ISBN 978-722-110-1
ALLENDE,
Isabel – A Ilha Debaixo do Mar. Porto:
Porto Editora, 2013. 511 p. ISBN 978-972-0-04481-5
CORNWELL,
Bernard – Sharpe e a Batalha de
Trafalgar. Lisboa: Planeta Editora, 2.ªed. , 2010, 355 p. ISBN
978-972-731-257-3
CORNWELL,
Bernard – Sharpe e os Fuzileiros.
Lisboa: Planeta Editora, 2004, 264 p. ISBN 972-731-155-5
CORNWELL,
Bernard – Sharpe e a Campanha de
Wellington. Lisboa:
Planeta Editora, 2003, 280 p. ISBN 972-731-157-1
CORNWELL,
Bernard – Sharpe e a Águia do Império.
Lisboa: Planeta Editora, 2005, 255 p. ISBN 972-731-166-0
CORNWELL,
Bernard – A Fuga de Sharpe. Lisboa:
Planeta Editora, 2004, 382 p. ISBN 972-731-171-7
CORNWELL,
Bernard – Sharpe e o Ouro. Lisboa: Planeta Editora, 2006, 293 p.
ISBN 972-731-183-0
CORNWELL,
Bernard – A Fúria de Sharpe. Lisboa: Planeta Editora, 2008, 378 p.
ISBN978- 972-731-230-6
CORNWELL,
Bernard – O Desafio de Sharpe.
Lisboa: Planeta Editora, 2.ª ed., 2006, 364 p. ISBN 972-731-187-3
CORNWELL,
Bernard – Sharpe e o Cerco de Badajoz.
Lisboa: Planeta Editora, 2007, 322 p. ISBN 978-972-731-204-7
CORNWELL,
Bernard – Sharpe e a Campanha de
Salamanca. Lisboa: Planeta Editora, 2007, 351 p. ISBN 978-972-731-209-2
CORNWELL,
Bernard – Sharpe e a Defesa de Portugal.
Lisboa: Planeta Editora, 2009, 381 p. ISBN 978-972-731-214-6
CORNWELL,
Bernard – A Honra de Sharpe. Lisboa:
Planeta Editora, 2009, 362 p. ISBN 978- 972-731-234-4
CURY,
Augusto – Jovens Brilhantes, Mentes
Fascinantes. Lisboa: Pergaminho, 2013. 134 p. ISBN 978-989-687-163-5
DÍAZ,
Ana – Falsos Amigos Português- Espanhol
Español - Português. Lisboa: Lidel, 2013. 167 p. ISBN 978-989-752-027
Dicionário de Verbos
Espanhol. Alfragide:
Texto Editores. 2011. 176 p. ISBN 978-972-47-4428-5
Dicionário Visual
Bilingue Espanhol Português.
Barcelos: Civilização Editores. 2009. 360 p. ISBN 978-989-550-384-1
FERRI,
Jean Yves – Astérix entre os Pictos.
Lisboa: Edições Asa, 2013, 48 p. ISBN 978-989-2500-2
Langenscheidt Portugiesisch
– Deutsch - Portugiesisch.
2011. 1343 p. ISBN 978-3-468-11274-4
MÃE,
Valter Hugo – A Desumanização. Porto:
Porto Editora. 2013, 238 p. ISBN 978-972-0-04494-5
MOURA,
Vasco Graça – Poesia 1997/2000.
Lisboa: Quetzal Editores, 2001. 425p. ISBN 564-448-4
MOUTINHO,
José Viale – Portugal Lendário.
Maia: Círculo de Leitores. 2013. 524 p. ISBN 978-972-42-4892-9
PINA,
António Manuel – Todas as Palavras:
poesia reunida (1974-2011). Assírio & Alvim, 2013. 3.ª ed. 395p. ISBN
978-972-0-79295-8
RAYA,
Rosario Alonso – Gramática Básica
del Estudiante de Español. Barcelona: Difusión.2013. 312 p. ISBN
978-84-8443-7260
ROTHFUSS,
Patrick – O Medo do Homem Sábio
(Parte I). Alfragide: Edições Asa, 2011, 703 p. ISBN 978-989-557-849-8
ROTHFUSS,
Patrick – O Medo do Homem Sábio
(Parte II). Alfragide: Edições Asa, 2011, 684 p. ISBN 978-989-557-849-8
SÁNCHEZ,
Manuel Marti – Gramática Española Básica.
Madrid: Editorial Edinumen, 2010. 248 p. ISBN 978-84-9848-086-3
SCHMITT-BOHRINGER,
Astrid, RODRÍGUEZ, Teresita – Gramática
Essencial de Espanhol. Lisboa: Editorial Presença. 2009. 166 p. ISBN
978-972-23-3949-0
VIEIRA,
Pedro Almeida – A Mão Esquerda de Deus.
Porto: Sextante Editora, 2010. 318 p. ISBN 978-989-676-029-8
LIVROS DE HORAS: O IMAGINÁRIO DA DEVOÇÃO PRIVADA
[Livro de Horas] / [iluminado pelo Maître de l' Échevinage de Rouen], [Rouen, 1426-1476], Fl. 12, BNP IL.42
Imagem e todas as informações em BNP.
Imagem e todas as informações em BNP.
Colóquio Internacional - Biblioteca Nacional de Portugal
13 e 14 de fevereiro de 2014
Iniciativa conjunta da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) e do Instituto de Estudos Medievais (IEM-FCSH), o colóquio reúne especialistas nacionais e internacionais em torno de um conjunto de Livros de Horas dos acervos da BNP e da Biblioteca Pública de Évora.
Iniciativa conjunta da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) e do Instituto de Estudos Medievais (IEM-FCSH), o colóquio reúne especialistas nacionais e internacionais em torno de um conjunto de Livros de Horas dos acervos da BNP e da Biblioteca Pública de Évora.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
SEM PALAVRAS XXIX
Vangelis, Alexander (Eternal)
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
SALOIOS VII
Ilustração de Alice Rey Colaço.
"O POVO dos Saloios habita as faldas norte da serra de Sintra, desde os tempos que a memória não enxerga, foi criando grupos familiares em que todos eram parentes de todos. Casavam-se sempre entre si, e por isso, ao contrário de outros povos do reino, mais afastados, nunca foram penetrados por celtas, visigodos, árabes, romanos, judeus ou cristãos. Não se sabe, nem os membros do povo conseguem explicar, a razão do lugar que lhes serve de pátria: a parte norte da serra de Sintra.
Provavelmente, a serra fornecia-lhes abrigo dos primitivos piratas, os mais antigos de todos os piratas, os que subiam e desciam o Tejo à busca de mão-de-obra barata. Ao certo só se sabe que o povo dos Saloios não abandona o local. Quando os reis portugueses no tempo dos Descobrimentos andavam pelo reino à procura dos «homens de corda» para os meter nas caravelas para seguirem para as Índias, Áfricas e Américas, o povo dos Saloios escondia-se em abrigos naturais da serra, tapados com folhagens, e os monteiros do rei, que queriam açambarcar pela forma embarcadiços baratos, passavam, olhavam e não viam ninguém. Séculos depois, quando outros lusitanos embarcaram nas ondas da emigração para a Europa, os Saloios continuaram agarrados à serra como lapas à rocha, pensando que assim como as lapas não saem do sítio, a serra deverá ser melhor negócio: quando os que partiram regressarem, eles, os que ficaram, chegaram primeiro.
Como o 25 de Abril de 1974 caiu a uma quinta-feira, e a quinta-feira é o dia da semana em que se vai negociar à Malveira, foi lá, na Malveira, que ouviram falar da revolução: ignorando o que isso era, os mais saloios dos Saloios desconfiaram que no dia seguinte, sexta-feira, não iria andar a roda, e os que já tinham comprado lotaria venderam logo o jogo.
Não usam armas a não ser a da esperteza saloia, arma que aplicam a torto e a direito a todos os que lhes pretendem enfiar barretes. Mas como o barrete saloio é geneticamente mais resistente - a serra resiste melhor que a cidade -, ganha sempre aos urbanos. (...)"
José Sousa Monteiro, "Homenagem a Tácito", crónica do Diário de Notícias, 23 de junho de1993.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
DA MEMÓRIA III
“O poeta inglês Samuel Taylor Coleridge acabou por
me criar – admito que involuntariamente – um problema que quase chega à
dignidade de enigma. Na sua Biographia
Literaria, de 1817, cita ele um eventual catálogo de antimnemónicas que
Averroes terá publicado algures no século XII. (…) Esta lista inclui «comer
fruta verde; contemplar as nuvens ou coisas móveis suspensas no ar; ir numa multidão
de camelos; o riso frequente; ouvir piadas e anedotas; (…). O mistério está em
que não se encontra tal catálogo nas obras de Averroes e não se explica – a não
ser por uma necessidade gracejante ela própria toda antimnemónica – por que
teria Coleridge inventado tal enumeração e tal atribuição a Averroes. (…)
Coleridge acaba o capítulo VII a enumerar também os fortalecedores da memória:
«uma lógica saudável (…); o conhecimento filosófico dos factos, na relação de
causa a efeito; um temperamento alegre e comunicativo que nos dispõe a reparar
nas semelhanças e nos contrastes entre as coisas (…); uma consciência
tranquila; uma condição livre de ansiedades; boa saúde e, acima de tudo (no que
diz respeito à recordação passiva), uma digestão saudável; estas são as
melhores, são as únicas, artes da memória.»”
Luísa Costa
Gomes, “As antimnemónicas”, Notícias Magazine,
21 de setembro de 2003.
ENSINA - PORTAL EDUCATIVO DA RTP
http://ensina.rtp.pt/ |
Neste portal de educação, a RTP reúne vídeos, áudios, infografias e fotografias produzidas pelo Serviço de Rádio e Televisão de Portugal nas últimas décadas. Integra também uma área de conteúdos infantis.
A consulta pode ser feita a partir de computador, tablet ou smartphone.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
O ROMEIRO
“Roubei uma vez um livro de uma biblioteca
pequeníssima. Foi a tradução inglesa do Frei Luís de Sousa feita por Edgar
Prestage no princípio do século. Fui ver, por sugestão de um amigo, se o
«Ninguém!» tinha sido traduzido por «Nobody!» ou por «No one!». Foi traduzido
por «No one»".
Adília Lopes, Irmã Barata, Irmã Batata, in Dobra, Poesia Reunida, Lisboa, Assírio
& Alvim, 2009, p.405.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
PALESTRAS NA BIBLIOTECA
Etiquetas:
Cartaz,
Projeto "Ciência na Saramago"
SALADINO E A LENDA DOS TRÊS ANÉIS
Estátua de Saladino (1174-1193), em Damasco.
Imagem daqui.
“(…)
Deveis saber (…) que se a inépcia derruba muitas vezes os homens das boas
situações que possuem, condenando-os à pior das misérias, o sentido do
a-propósito, pelo contrário, livra o indivíduo avisado dos perigos e dá-lhe um
repouso grande e total. O facto de a estupidez arrastar os homens da felicidade
para a miséria é uma verdade de que há, sob os nossos olhos, muitos exemplos. De
momento, não tenciono referir-me a tal coisa. Todos os dias se nos oferecem mil
provas disso. A minha historieta mostrar-vos-á, porém, em poucas palavras, e
tal como vos prometi, que o sentido do a-propósito pode ser um instrumento de
salvação.
O seu valor excepcional permitiu a
Saladino não só tornar-se, apesar da sua origem modesta, sultão de Bagdad, mas
também conseguir muitas vitórias sobre os reis sarracenos e cristãos. Ao fim de
fazer várias guerras e manter, ao mesmo tempo, a sua magnificência, gastara
todo o tesouro que possuía. Um incidente fortuito criou-lhe a necessidade
urgente de uma boa soma de dinheiro. Não via onde poderia obtê-la, quando lhe
ocorreu o nome de um rico judeu, Melquisedeque, que emprestava dinheiro a juros
em Alexandria, e que ele considerava capaz de lhe prestar esse serviço em
qualquer altura. O homem era, porém, tão avarento que nunca faria tal oferta e
a Saladino repugnava-lhe a ideia de o forçar a isso. Como, todavia, a
necessidade a tal o obrigava e não fazia outra coisa senão pensar na maneira de
se servir de Melquisedeque, resolveu mascarar a sua violência com um pretexto
razoável. Convocou o judeu, recebeu-o com familiaridade, fê-lo sentar junto de
si e disse-lhe:
- Meu caro amigo, contaram-me várias
pessoas que és muito sabedor e perito em todos os problemas relacionados com
Deus. Quero pois saber da tua boca qual das três leis, a judaica, a sarracena
ou a cristã, consideras a verdadeira.
O judeu, que era na verdade um homem
industrioso e prudente, compreendeu muito bem que o Saladino, ao fazer-lhe tal
pergunta, procurava apanhá-lo na rede das próprias palavras, e pensou que não
podia louvar nenhuma das três leis mais do que as outras sem com isso permitir
ao Sultão atingir os seus fins. A necessidade de uma saída hábil aguçou-lhe o
engenho e fez com que lhe ocorresse prontamente a resposta desejada:
- Meu senhor, é uma pergunta
importante essa que me fazeis e, para vos dizer o que penso a tal respeito,
preciso de vos contar uma historieta.
Se a memória não me atraiçoa,
recordo-me de muitas vezes ter ouvido falar de um homem rico e poderoso que
possuía um tesouro no qual, entre outras jóias de grande preço, havia um
belíssimo e valioso anel. Querendo prestar homenagem ao seu valor e à sua
beleza e deixá-lo para todo o sempre aos seus descendentes, determinou que
aquele dos seus filhos nas mãos do qual o anel fosse encontrado seria o seu
herdeiro e deveria ser honrado e respeitado pelos outros como primogénito. O filho
a quem foi deixado o anel fez com os seus descendentes o que fizera o seu
predecessor. Em suma, o anel andou de mão em mão ao longo de uma série de
herdeiros. Acabou por cair nas mãos de um homem que possuía três filhos belos e
virtuosos e muito obedientes a seu pai, razão por que este a todos amava
igualmente. Mas os jovens, que conheciam a lei do anel, levados pela ambição de
ocuparem o primeiro lugar na família, pediam todos eles ao pai, já velho, que
lhes deixasse o anel à hora da morte. O bom homem, porém, tinha por todos eles
o mesmo afecto e por isso não sabia designar um herdeiro. Pensou então satisfazer
a todos, prometendo-lhes igualmente o anel. Secretamente, encarregou um hábil
artista de fazer outros dois, que ficaram tão parecidos com o primeiro que o
próprio autor mal distinguia o autêntico. E, quando a morte se aproximou,
deu-os, às escondidas, a cada um dos filhos.
Estes, após a morte do pai,
reclamaram a herança e a honra da progenitura. Como negassem uns aos outros
todas as qualidades, resolveram provar o fundamento dos seus direitos mostrando
o anel. E viram os anéis tão iguais uns aos outros que não se podia descobrir
qual era o verdadeiro e ficou pendente (e ainda está!) a questão de saber quem
era o autêntico herdeiro do pai.
O mesmo vos direi, meu senhor, das
três leis dadas aos três povos por Deus Pai. Cada um deles, certo da sua herança,
pensa deter a verdadeira lei e os seus mandamentos. Mas, tal como com os anéis,
a questão continua pendente.
Saladino reconheceu que o judeu se
libertara optimamente do laço que ele lhe havia armado diante dos pés. Resolveu
então falar-lhe realmente da sua necessidade de dinheiro a ver se ele estava
disposto a prestar-lhe tal serviço. Assim fez, confessando-lhe o que tencionara
fazer se ele não houvesse respondido com tanta prudência. O judeu entregou-lhe
de livre vontade a soma que Saladino requeria e este reembolsou-o
integralmente. Além disso, deu-lhe grandes presentes e sempre o considerou como
um amigo, mantendo-o a seu lado, num cargo importante e honroso.”
Giovanni Boccaccio, “Saladino e a
lenda dos três anéis”, in Decameron,
citado em Um Cânone Literário para a
Europa, org. de Helena Carvalhão Buescu et al., Vila Nova de Famalicão,
Edições Húmus, 2012, pp.58-59.
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
DA CONCISÃO XXIX
Antônio Torres, Baía, 13 de setembro de 1940.
Ocupa a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, desde novembro de 2013.
Imagem retirada do sítio do escritor.
"São as relações humanas e os afetos que contam; o resto é uma confusão para conferir."
Antônio Torres, numa aula, na Universidade de Nantes, França, no dia 10 de novembro de 2000.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
SEM PALAVRAS XXVIII
Mozart Piano Concerto No. 15 in B-flat major, III Allegro
TOP LEITORES (2013-2014)
Com base nos registos de leitura domiciliária, a biblioteca elegeu os leitores do 1.º período.
1.º Irina Gonçalves, 10.º I
2.º Eva Almeida, 10.º V1
3.º Vitor Vidal, 12.º R3
(Adultos)
(Alunos do ensino regular e profissional)
1.º Irina Gonçalves, 10.º I
2.º Eva Almeida, 10.º V1
3.º Vitor Vidal, 12.º R3
(Adultos)
1.º Luísa Maria Torre dos Santos
2.º Maria João Cardoso Simões
3.º Inácia Lopes
Parabéns!
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
BELA INFANTA
BELA INFANTA
"Estava a bela infanta
No seu jardim assentada,
Com o seu pente d’oiro
fino
Seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar
Viu vir uma nobre armada;
Capitão que nela vinha,
Muito bem que a
governava.
- «Dize-me, ó capitão
Dessa tua nobre armada,
Se encontraste meu marido
Na terra que Deus
pisava.»
- «Anda tanto cavaleiro
Naquela terra sagrada…
Dize-me tu, ó senhora,
As senhas que ele
levava.»
- «Levava cavalo branco,
Selim de prata doirada;
Na ponta da sua lança
A cruz de Cristo levava.»
- «Pelos sinais que me
deste
Lá o vi numa estacada
Morrer morte de valente:
Eu sua morte vingava.»
- «Ai triste de mim,
viúva,
Ai triste de mim,
coitada!
De três filhinhas que
tenho,
Sem nenhuma ser
casada!...»
- «Que darias tu,
senhora,
A quem no trouxera aqui?»
- «Dera-lhe oiro e prata
fina,
Quanta riqueza há por i.»
- «Não quero oiro nem
prata,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?»
- «De três moinhos que
tenho,
Todos três tos dera a ti;
Um mói o cravo e a
canela,
Outro mói do gerzeli:
Rica farinha que fazem!
Tomara-os el-rei p’ra
si.»
- «Os teus moinhos não
quero,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem tu trouxera aqui?»
- «As telhas do meu telhado
Que são de oiro e
marfim.»
- «As telhas do teu
telhado
Não nas quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?»
- «De três filhas que eu
tenho
Todas três te dera a ti:
Uma para te calçar,
Outra para te vestir,
A mais formosa de todas
Para contigo dormir.»
- «As tuas filhas,
infanta,
Não são damas para mi:
Dá-me outra coisa,
senhora,
Se queres que o traga
aqui.»
- «Não tenho mais que te
dar,
Nem tu mais que me
pedir.»
- «Tudo, não, senhora
minha,
Que inda te não deste a
ti.»
- «Cavaleiro que tal
pede,
Que tão vilão é de si,
Por meus vilões arrastado
O farei andar aí
Ao rabo do meu cavalo,
À volta do meu jardim.
Vassalos, os meus
vassalos,
Acudi-me agora aqui!»
- «Este anel de sete
pedras
Que eu contigo reparti…
Que é dele a outra
metade?
Pois a minha, vê-la aí!»
- «Tantos anos que
chorei,
Tantos sustos que
tremi!...
Deus te perdoe, marido,
Que me ias matando aqui.»"
Romanceiro
de Almeida Garrett, seleção, organização, introdução e notas de Maria Ema
Tarracha Ferreira, Lisboa, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, 1997, pp.266-268.
Da introdução, de Almeida Garrett: “Esta é, sem questão,
a mais geralmente sabida e cantada de nossas xácaras populares, a Bela Infanta.
(…)
Digo que esta é uma verdadeira xácara, porque, feita a
introdução, o poeta retira-se e deixa aos seus interlocutores contar a história
toda. (…)
Não sei de outra
alguma destas composições populares que tenha por assunto um sucesso ligado com
a guerra das Cruzadas: até por isso é interessante.”
Etiquetas:
Autores Portugueses,
Património
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
DA SAUDADE XIII
Vista aérea de Lisboa. Fotografia de Jean-Yves Guilloteau.
"Quando vivemos em Portugal, dizemo-nos simplesmente nós e pensamo-nos nós. Só quando passamos a viver fora de Portugal nos dizemos e pensamos portugueses."
João Palma-Ferreira, in Boletim Cultural O Homem Português, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, fevereiro de 1990.
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
TEATRO PORTUGUÊS
Fotografia de Pedro Macedo-Framed Photos, daqui.
"O teatro português vem da origem da nacionalidade; a sua autonomia social, cultural e linguística está devidamente documentada a partir de 1193, quando D. Sancho II concede aos jograis, Bonamis e Acompaniado, um casal em Canelas de Poiares do Douro e recebe dos beneficiados pela dádiva real «um arremedilho para efeito de compensação»: trata-se aqui da fonte mais antiga da História do Teatro Português e também do primeiro documento consagrado do que hoje chamaríamos direitos autorais, devidamente retribuídos e compensados...
A partir do século XII, são numerosos os documentos que atestam uma atividade de produção de espetáculos, na corte, nas Igrejas ou nas praças públicas - e esses espetáculos, como qualquer espetáculo teatral, pressupõe um texto, consagrado ou perdido, escrito ou improvisado, mas sempre, isso sim, um texto que sirva de suporte à apresentação perante um público.
E nem de outra forma se compreenderia que, a partir, concretamente, de 1502, Gil Vicente surja «em cena» com a profusão da sua obra, a genialidade dos textos e precisamente, ainda, o sentido de espetáculo, num conjunto notável de géneros e numa clara transição da tradição do teatro medieval para a intuição de novas expressões do teatro do Renascimento (...)"
Duarte Ivo Cruz
"O Teatro Nacional D. Maria II abriu as suas portas no longínquo ano de 1846 com a apresentação do drama histórico Álvaro Gonçalves, o Magriço e os Doze de Inglaterra, de Jacinto Heliodoro de Faria Aguiar de Loureiro.
Passados 168 anos, Portugal mudou, mudou muito e somos hoje uma comunidade muito diferente daquela que deu início à aventura deste teatro. (...)
Se é certo que os teatros nacionais foram criados como representantes simbólicos da identidade nacional, de um passado ilustre e de uma promessa de futuro glorioso, pensamos hoje o Teatro Nacional D. Maria II como uma instituição de coesão da comunidade de artistas e de públicos que constituem a sociedade e a cena cultural portuguesas.
Simbolicamente ao centro, no Rossio da cidade capital, acreditamos, porque sabemos o que o tempo ensina, que os clássicos ajudam a ler o mundo e a nossa realidade, as contradições do nosso tempo na voragem das mudanças sempre anunciadas. Mas essa centralidade, mais do que simbólica, conquista-se na justa capacidade de convocar os outros (...) para ocuparem esse mesmo centro, com condições de produção, de visibilidade e de acesso reforçadas. Um Teatro Nacional cultiva, com tempo, estação a estação, uma paisagem humana e constrói redes de colaboração e de trabalho, raízes invisíveis mas solidárias, com múltiplos agentes culturais e educativos, e com os seus públicos.
A dimensão de um Teatro Nacional é a dimensão da sua comunidade."
Carlos Vargas - Presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional D. Maria II
Agenda 2014, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2013.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
DIA DE REIS
Os Três Reis Magos. Basílica de Sant' Apollinare Nuovo, em Ravena, Itália.
«(…)
CAVALLEIRO
Decidme, amigos pastores,
Sois sabidores
Si iré por aqui bien
Para el lugar de Belen?
GREGORIO
Yo allá vo adó vais,
Y ando, asmo, como andais.
VALERIO
Andad, señor, por aqui
Ó por allí.
(…)
ERMITÃO
Toda la descortesia
Es villanía.
Señor, de donde sois vos?
CAVALLEIRO
De Arabia.
(…) y perdí la companhia
De una grande caballaría,
Que venía
Á tino tras una estrella,
Y ellos van en pos della
Sin perdella;
Y alcanzarlos queria
Y fortuna me lo desvía.
ERMITÃO
Y adonde van, si sabeis?
CAVALLEIRO
Van tres Reis
Adorar com sentimento
Y mui grande acatamiento
El nacimiento
Del señor de todas greis.
En nuestra tierra sabreis,
Si quereis,
Que desde Balan se velaba
La señal que se esperaba,
Que mostraba
El nacimiento que veis
Del señor de nuestras leis.
GREGORIO
Decid, señor, qué estrella era?
ERMITÃO
Quien la viera!
CAVALLEIRO
Es muy reluciente estrella,
Y un niño en medio della,
Muy mas que ella
Reluciente en gran manera:
Una cruz en su cimera
Por bandera.
GREGORIO
Donde se vió tal señal?
CAVALLEIRO
Del monte vitorial.
ERMITÃO
Oh divinal
Vitoria muy verdadeira
De nuestra culpa primera!
O Profeta Isayas,
Bien decias.
Levántate á ser alumbrado,
Hierusalen visitado
Y acatado!
Recibe tus alegrias,
Que la gloria del Messias,
Que querias,
Sobre tí es ya venida;
Y los reis de gran partida
Nobrecida, nel resplandor de tus dias,
En tus tierras los verias.
David nel salmo setenta
Y uno cuenta,
Reis de Tarsis y Sabá,
Y el de Arabia verná
Con humildá
Muy gran compaña sin cuenta
Adorar sin mas afrenta
Muy contenta.
CAVALLEIRO
De oro llevan gran
presente,
Incenso, mirra excelente,
Humildemente.
(…)»
Gil Vicente, Auto dos Reis Magos, in Obras
de Gil Vicente, Porto, Lello & Irmão Editores, 1965, pp.36-38.
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