Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

segunda-feira, 13 de junho de 2011

RECORDANDO ALVES REDOL CEM ANOS APÓS O SEU NASCIMENTO (1911 - 2011)

Alves Redol
(29.12.1911 - 29.11.1969)

O escritor, natural de Vila Franca de Xira, foi uma figura central do neo-realismo português. Estreou-se em 1939 com o romance Gaibéus.

Saber mais em:
Fotografia: Professor Martinho Rangel
Cais palafítico

Os avieiros inspiraram Alves Redol.

O autor de Avieiros viveu na Palhota, pequena aldeia do Ribatejo, na década de 40 do século XX.

Aldeia 

(...) Um rio tem as suas glórias e os seus dramas, mas não se apaixona. O Tejo não pensa - age. Age ao sabor das circunstâncias. Age e constrói, age e destrói. Como o homem. Mas o homem pensa e conhece a dúvida.
E duvidou quando o Tejo foi depondo areias e terras junto do valado real da Lezíria Grande. Terras e areias que fizeram  uma praia sem dono. Ou que não devia ter dono. Mas todos os anos o Tejo depõe ou decompõe praias iguais que não chegam a criar história. Servem numa safra para recolher redes, quando muito.
Aquela praia, porém, ficou. E os avieiros sem casa, vagabundos do rio, começaram a erguer por ali as suas barracas. Pequenas, talvez para que as não vissem; ou tímidas por causa dos materiais e das agruras do tempo. As primeiras apareceram à ilharga do rio e voltadas para o Norte; as que vieram depois foram dispostas lá atrás numa segunda linha e a aldeia ficou com uma rua estreita, de areia suja e erva rala, e outra larga, de água, mais larga e longa do que qualquer avenida de uma grande cidade, porque é o próprio Tejo.
As palhotas são todas iguais. Quatro prumos metidos no chão e varas de madeira a segurar o telhado coberto pelo carroicil das abertas, que é a melhor palha nascida na vegetação da Lezíria. O material das paredes vem da mesma origem. Apodrece depressa, mas depressa se refaz. E como o vento do norte sopra rijo e traz frio, os pescadores põem na parede desse lado latas velhas e pedaços de madeira que acham nos valados ou as enxurradas trazem no Inverno. Não espanta que pareçam vergonhosas de ali estarem; e acaçapam-se. Entra-se nelas de cabeça baixa como na vida.
                             Alves Redol, Avieiros (1942)


Livro disponível na Biblioteca. Procure na Classe 8 (Língua. Linguística. Literatura).


Sem comentários:

Enviar um comentário