Dona Isabel (1503-1539), filha de D. Manuel I de Portugal e futura mãe de Filipe II de Castela e Aragão e I de Portugal, casou em 1526 com o Imperador Carlos V, seu primo. Com este casamento pretendia alcançar-se a união de Castela e Portugal, propósito que seria cumprido por Isabel de forma determinada e determinante.
Quando morreu Dona Isabel, foi Francisco de Bórgia, Duque de Gândia, que conduziu o cadáver de Toledo a Granada, numa viagem que se prolongou por alguns dias. Quando o Duque abriu o féretro para identificar o corpo da Imperatriz, senhora a quem votava um especial afeto, exclamou: "Jamais tornarei a servir a senhores que possam morrer". Transtornado, renunciou aos prazeres mundanos e ingressou anos mais tarde na Companhia de Jesus.
Passados quatro séculos, Sophia de Mello Breyner Andresen recuperou este episódio, revestindo-o de uma roupagem poética.
Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal
Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
Sem comentários:
Enviar um comentário