Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

ESTRELA POLAR


~
Constelação da Ursa Menor. Johannes Hevelius, Uranographia (1690).
Imagem daqui.




A ESTRELA POLAR

Eu vi a estrela polar
Chorando em cima do mar
Eu vi a estrela polar
Nas costas de Portugal!
Desde então não seja Vênus
A mais pura das estrelas
A estrela polar não brilha
Se humilha no firmamento
Parece uma criancinha
Enjeitada pelo frio
Estrelinha franciscana
Teresinha, mariana
Perdida no Pólo Norte
De toda a tristeza humana.

Vinicius de Moraes, Poesia Completa e Prosa, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1998, p. 309-310.



segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

GATOS I


Corto Maltese com um gato.
Imagem daqui.




VENEZA AOS GATOS

Lisboa às moscas e Veneza aos gatos...
(os pombos da bondade só conspurcam
a praça de S. Marcos)
... ao gato perna alta que não vem quando o chamas,
ao contrário da patrícia mosca,
que não era para aqui chamada,
mas logo te soprou os últimos zunzuns
mal chegaste a Lisboa.

O gato de Veneza não te dá pretextos
para miares o que te vai na alma,
nem os sacros temores da miaulesca
esfinge rilkeana.
Não é um gato é um perfil de gato
tapando a saída da calleta.

O gato veneziano é gato sem regaços
e sem selvajaria.
De Veneza o gato é sempre muitos gatos
que vão à sua vida...
... como tu, afinal, não vais à tua.

(De Veneza a Lisboa, num zunido,
já trazias a mosca no ouvido...)


Alexandre O'Neill, Poesias Completas, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, p. 243.



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

CANTIGAS MEDIEVAIS GALEGO-PORTUGUESAS






O lançamento da obra decorrerá no dia 30 de janeiro de 2017, pelas 18h00, na Biblioteca Nacional de Portugal.



terça-feira, 24 de janeiro de 2017

POESIA DE LUÍSA CORDEIRO (11)



“Lusa Gente”



Como agora,

como sempre,

como dantes…,

responderam

ao grito da Vida,

“…Já não dá,

não posso mais…!”,

e,

deixaram para trás,

namoradas,

esposas,

amigas e amantes.



Em caravelas

aladas,

se fizeram

à aventura,

trocando

o sino da aldeia

e

o calor da lareira

por

uma vida tão dura,

e...

deixaram para trás,

amigos,

irmãos,

avós

e pais.



Mas,

algo precioso

se mantém…

um amoroso

cordão umbilical

que

os trás de volta

vez em quando,

ao seio amado,

ao seu país

que se chama

Portugal.




Luísa Cordeiro




segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O POLIGLOTA, ESSE HABILIDOSO


Imagem daqui.




«(...) Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: todas as outras as devia falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro. Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da fala materna com as suas influências afectivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo de carácter. Por isso o poliglota nunca é patriota. Com cada idioma alheio que assimila, introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo. Rue de Rivoli, Calle d'Alcalá, Regent Street, Wilhelm Strasse - que lhe importa? Todas são ruas, de pedra ou de macadame. Em todas a fala ambiente lhe oferece um ambiente natural e congénere onde o seu espírito se move livremente, espontaneamente, sem hesitações, sem atritos. E como pelo verbo, que é o instrumento essencial da fusão humana, se pode fundir com todas - em todas sente e aceita uma pátria.

Por outro lado, o esforço contínuo de um homem para se exprimir, com genuína e exacta propriedade de construção e de acento, em idiomas estranhos - isto é, o esforço para se confundir com gentes estranhas no que elas têm de essencialmente característico, o verbo - apaga nele toda a individualidade nativa. Ao fim de anos esse habilidoso, que chegou a falar absolutamente bem outras línguas além da sua, perdeu toda a originalidade de espírito - porque as suas ideias forçosamente devem ter a natureza incaracterística e neutra adaptadas às línguas mais opostas em carácter e génio. (...)

Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição línguas estrangeiras constitui uma lamentável sabujice para com o estrangeiro. Há aí, diante dele, como o desejo servil de não sermos nós mesmos, de nos fundirmos nele, no que ele tem de mais seu, de mais próprio, o vocábulo. Ora isto é uma abdicação da dignidade nacional. (...) Falemos nobremente mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros! (...)»

Eça de Queirós, A Correspondência de Fradique Mendes, Lisboa, Livros do Brasil, s/ d, pp. 130-131.



sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

TORNEIO DE XADREZ DA ESJS




Fotos: Marcelo Correia, aluno do 11.º UAE2

Vencedores do 12.º Torneio de Xadrez da ESJS

1.º Gonçalo Pessoa, 11.º CT1

2.º Afonso Ferreira, 11.º SE3

    3.º Jonathan Nogueira, 11.º PI2
 
 
Parabéns!

CADERNETAS DE CROMOS - 100 ANOS DO CROMO COLECIONÁVEL EM PORTUGAL


Capa da coleção de cromos-surpresa, de produção nacional, Internacionais do Futebol, da Agência Portuguesa de Revistas (1962).



Exposição patente na Biblioteca Nacional de Portugal, a partir de 1 de fevereiro e até 29 de abril de 2017.



quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

CAMILO, MESTRE DO IDIOMA

Camilo Castelo Branco (1825-1890). Retrato fotográfico de 7 de março de 1882.




«Mestre do idioma, Camilo não é porém o mais perfeito dos prosadores da língua portuguesa. Falta-lhe o senso arquitectónico de Vieira, a doçura de Bernardes, o donaire de Garrett, a finura de Eça, a sobriedade de Machado de Assis. Escrevia de jacto, com poucas emendas, como se pode ver na edição em fac-símile do Amor de Perdição. Prosador poderoso, não é só um tombo de vocábulos, com esses falsos clássicos que sobrecarregam a página de expressões inúteis e inusitadas, numa complacência verbal que cai no rebuscado. A prosa de Camilo é opulenta, mas dinâmica e sempre criativa. Não inventaria palavras, mas cria-as ou dá um rosto novo a velhos vocábulos. Quantos neologismos cunhou, não arbitrariamente mas na fidelidade à raiz da língua. Como tradutor, encontrava sempre o termo mais feliz para uma dificuldade. De passagem, lá vai mostrando a sua mestria, quando, por exemplo, propõe "adrede" para à propos.

Um escritor assim vário permite muitas leituras. Há quem leia Camilo para aprender ou refrescar o idioma. Há quem o leia ainda pelo gosto de uma história de paixão fatal ("Senhores, apraz-vos escutar um belo conto de amor e de morte? (...)", como no clássico Tristão de Bédier). Há quem o leia enfim por curiosidade sociológica, como testemunho de uma época desaparecida, de capitães-mores, de morgados, de barões, de "brasileiros", de abades, de pais autoritários que recorriam a conventos para filhas rebeldes à todo-poderosa vontade paterna. Era um mundo ainda patriarcal e rural, que se levantava contra o "sacrilégio" de proibir a inumação em igrejas (essa fora a causa da revolta popular da Maria da Fonte) e malsinara como "diabólico" o caminho de ferro, que tornava obsoletas a liteira e a sege.

Se, como escreve Jean Guitton nas suas Memórias, "l'oeuvre ne se sépare pas de la personne qui s'exprime en elle", então no caso de Camilo, de personalidade tão forte, tal separação é impensável. Ele está presente, omnipresente na sua obra, como se víssemos o seu rosto e ouvíssemos a sua voz. Não se apaga mas intervém, não raro abusivamente, ao mesmo tempo autor e narrador, protagonista e deuteragonista, testemunha e comparsa. Muitas das melhores páginas camilianas, ainda na ficção, são páginas autobiográficas, como se não conseguisse nunca desprender-se da sua pele. Interrompe a narrativa, divaga, interpela o leitor, num diálogo que é uma forma de cumplicidade. Os leitores são os seus melhores aliados - aqueles que testemunham sempre em favor dele. A impassibilidade narrativa, a objectividade histórica, a neutralidade intelectual, Camilo ignora-as. (...)»

João Bigotte Chorão, O Essencial sobre Camilo, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1998, pp. 57-58.



terça-feira, 17 de janeiro de 2017

POESIA DE LUÍSA CORDEIRO (10)

"Sons"

É som de harpa,

é tambor índio,

flauta andina,

eco no vale...


É viola,

é tronco africano,

é samba

em pau brasil...

 
É sopro,

é batuque,

é piano

e concertina,

sopro

de cornucópia...

 
É cravo,

é rufo,

é área doce e mansa,

é melodia de cascata,

é riso...
 
 
Luísa Cordeiro
 
 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

POESIA E POLÍTICA


Pierre-Nolasque Bergeret, Carlos V apanha o pincel de Ticiano (1808).
Imagem daqui.




RELAÇÃO ENTRE POESIA E POLÍTICA

"(...) A vitória de Atena sobre Poseidon parecerá a derrota da Poesia. Mas, melhor do que vitória  estaria, como na fábula está, uma honra merecida por Atena e desonra de ninguém. A Poesia e a Política ficam iguais na balança de oiro de Zeus para pesar valores humanos.

Se um escultor recebesse o encargo de representar a Poesia e a Política num mesmo pedestal, tinha uma solução: como nos bustos romanos de duas frentes e as quais fazendo parte do mesmo bloco não se verão uma à outra para a eternidade.

Assim mesmo, temos um exemplo histórico e no qual a relação entre Poesia e Política mostra evidente a igualdade entre ambas: O Imperador Carlos V pondo um joelho em terra para apanhar o pincel de Ticiano que lhe fez o retrato. Isto é, o verdadeiro serviço é o de todos a cada um. (...)"


Almada Negreiros, Obra Completa, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1997, pp. 943-944.



sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

HISTÓRIAS EM 77 PALAVRAS





Para quem quiser escrever uma história com apenas 77 palavras!


Blogue recomendado pela Direção-Geral da Educação.




DA CONCISÃO LXXIX

Claude Monet, La Pie (1869).
Imagem daqui.



6

A neve
sobre a terra
estende
um tapete de neve
para a neve.

Paul Claudel, Cent phrases pour éventails (1927), in "Vozes da Poesia Europeia - III", traduções de David Mourão-Ferreira, número 165, setembro-dezembro de 2003, p. 23.



quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

36ª EDIÇÃO DO PRÉMIO DE LITERATURA JUVENIL FERREIRA DE CASTRO

Informações detalhadas aqui.


Poderá concorrer até ao dia 17 de abril de 2017.



POESIA DE LUÍSA CORDEIRO (9)



"Devaneio"

Quanto maior
a ilusão
mais crua
é a verdade
e cada letra da saudade
fumo que se desvanece.

Devaneio...
que a solidão procura,
se transforma em amargura,
devaneio...

Sei por mim,
que só o amor perdura
e que é sol
na noite escura
onde a tristeza acontece.

Sei por mim,
que um sonho não tem fim
por ser sonho,
é...devaneio

09.10.2013
Luísa Cordeiro