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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

A LÍNGUA IMPERIAL


Imagem daqui.



O Problema das Línguas

Se ter uma grande literatura fosse, por si só, suficiente para impor, não a mera sobrevivência, mas a vasta e duradoura sobrevivência de uma língua, o Grego seria hoje a segunda língua da civilização. Mas nem sequer o Latim, que também chegou a ser a segunda língua da civilização, conseguiu manter a sua supremacia. Para assegurar a sua permanência no futuro, a língua tem de ter algo mais do que uma grande literatura: ser dona de uma grande literatura é uma vantagem positiva, mas não efectiva, pois salvará a língua da morte mas não garantirá a sua promoção na vida.

A primeira condição para uma ampla permanência de uma língua no futuro é a sua difusão natural, o que depende do simples factor físico do número de pessoas que a fala naturalmente. A segunda condição é a facilidade com que poderá ser aprendida; se o Grego fosse fácil de aprender, todos nós teríamos, hoje, o Grego como segunda língua. A terceira condição é que a língua terá de ser o mais flexível possível, de modo a poder responder, na íntegra, a todas as formas de expressão possíveis, e de consequentemente ser capaz de espelhar com fidelidade, através da tradução, a expressão de outras línguas e assim dispensar, do ponto de vista literário, a sua aprendizagem.

Ora, falando não só do presente mas também do futuro imediato, na medida em que este possa ser considerado como factor de desenvolvimento das condições embrionárias do nosso tempo, só há três línguas com um futuro popular - o Inglês (que já tem uma larga difusão), o Espanhol e o Português. São línguas faladas na América, e como Europa significa civilização europeia, a Europa tem-se radicado cada vez mais no continente ocidental. Assim línguas como o Francês, o Alemão e o Italiano só poderão ser europeias: não têm poder imperial. Enquanto a Europa foi o mundo, estas dominaram, e triunfaram mesmo sobre as outras três, pois o Inglês era insular e o Espanhol e o Português encontravam-se num dos seus extremos. Mas quando o mundo passou a ser o globo terrestre este cenário alterou-se.

Será portanto numa destas três línguas que o futuro do futuro assentará.


Fernando Pessoa, Pessoa Inédito, orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes, Lisboa, Livros Horizonte, 1993, p. 237.




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