Fragmento de papiro com versos da Odisseia, de Homero.
Imagem daqui.
«Os grandes livros são os mais legíveis. (...) E isso significa muita coisa. Se as regras da boa leitura se relacionam de algum modo com as regras da boa escrita, então são esses os livros mais bem escritos. (Se um bom leitor é eficiente em arte liberal, o grande escritor é muito mais.) Esses livros são obras-primas de arte liberal. Dizendo isso, refiro-me, primeiramente, aos livros científicos. Os maiores trabalhos de poesia ou ficção são obras-primas imaginativas. Em ambos os casos, a linguagem é utilizada pelo escritor para servir ao leitor, seja seu fim instruir ou agradar. Dizer que os grandes livros são os mais legíveis é dizer que eles não proclamam sua inferioridade, se vocês souberem lê-los. Podem seguir as regras de leitura tanto quanto sua habilidade o permitir; e, eles, ao contrário dos livros sem valor, não deixarão de pagar dividendos. Mas também têm mais o que se ler. O que importa não é apenas o modo como foram escritos, mas o que têm a dizer. Cada uma de suas páginas encerra mais ideias do que o resto dos livros, considerados totalmente. Eis por que vocês podem ler e reler os grandes livros, sem diminuir seu conteúdo e sem conseguir dominá-los de um modo completo. Os livros mais legíveis são indefinidamente legíveis. E há outro motivo para isso. Eles podem ser lidos em diferentes níveis de compreensão, e com uma grande diversidade de interpretações. Os exemplos mais evidentes dos vários níveis de leitura se encontram em obras como As Viagens de Gulliver, Robinson Crusoe e a Odisseia. As crianças podem lê-los com prazer. mas não encontram neles toda a beleza e profundidade que encantam a inteligência adulta. (...)»
Mortimer J. Adler & Charles Van Doren, A Arte de Ler, São Paulo, Artes Gráficas Indústrias Reunidas S.A. (AGIR), 1954, p. 167.
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