Primeira referência escrita conhecida à «Segunda-feira»,
na Igreja de São Vicente, Braga, datada de 618.
"Nas línguas europeias, só o português e o grego moderno recorreram à designação dos dias da semana por um número ordinal, imitando o calendário judaico baseado nos dias da Criação do Mundo.
O facto de esse calendário judaico ter sido transmitido à cultura portuguesa através da acção persistente da liturgia cristã, dirigida a partir de Roma, explicará a existência de algumas diferenças, entre elas a pronúncia do nome Sábado (o
Chabat judaico) e a substituição da designação «primeiro dia» (o
yôme arichône judaico) por Domingo. Na
Hispania do séc. VI, a grande influência e implantação do calendário da liturgia romana, consta ter sido uma consequência da forte acção evangelizadora de São Martinho de Dume, arcebispo de Braga (?-10.3.579), isto é, em pleno território do actual domínio cultural lusitano.
Para além dessas alterações, os nomes portugueses para os outros dias da semana não deixam de ser a apropriação do calendário eclesiástico (da Igreja de Roma que já o tinha decalcado sobre o calendário hebraico): na liturgia católica latina temos
secunda feria,
tertia feria,
quarta feria,
quinta feria,
sexta feria e
sabbatum, o que foi pelos portugueses adaptado para «Segunda-feira», «Terça-feira», «Quarta-feira», «Quinta-feira», «Sexta-feira» e «Sábado».
A única coisa que normalmente se ignora, é que a palavra «feira» (evolução do latim
feria) significa «festividade» ou «comemoração» e, assim, corresponde a uma adaptação do significado do vocábulo «dia» (em hebraico
yom) usado no calendário judaico para exactamente indicar a «comemoração» dos dias da Criação, sendo o «Sábado» o sétimo e último dia (
Chabat deriva de
chêvá, o numeral sete). Desta verificação se deduz a nossa crítica e oposição bem fundamentada à regra do «novo acordo ortográfico» quando defende a utilização de minúsculas para os dias da semana (...).
O termo português «Domingo» (formado a partir de
Dominica dies) substituiu a designação judaica para a festa do primeiro dia da Criação, considerando a Igreja que o «dia primeiro» (em hebraico
yôme arichône - dia primeiro) passaria a ser designado por
Dominica Dies, o «dia do Senhor», e não a «*Feira Primeira», sintagma não aceitável pela norma portuguesa.
Para os que conhecem os outros calendários das línguas da Europa Ocidental, devem reparar que os dias da semana se designam nas línguas românicas pelos nomes dos astros e dos deuses mais importantes, excepto no caso dos «Sábados» e «Domingos»: o francês diz «Samedi» e «Dimanche», o espanhol escolhe «Sábado» e «Domingo», o italiano «Sabato» e «Domenica». Para os restantes dias da semana, à «Segunda-feira» chamam o «Dia da Lua»: castelhano,
lunes, ... francês,
lundi..., o italiano,
lunedì.
E assim se pode documentar em relação aos restantes dias da semana. (...)"
Pedro da Silva Germano, Nova Visão sobre Hebraísmos na Língua Portuguesa, Lisboa, Chiado Editora, pp. 102-103.