As obras do doutor Francisco de Saa de Miranda, 1677 (Biblioteca Nacional de Portugal)
Um dos poetas mais amados, logo a seguir a Camões, Francisco de Sá de Miranda foi um poeta-lavrador atento ao mundo que o rodeava. A sua Carta a El-Rei D. João III, escrita em verso, na medida velha, espelha não só as suas preocupações com o tempo em que viveu, como também a estima que votava ao rei.
Seguem-se alguns excertos:
(...)
Homem de um só parecer,
Dum só rosto, uma só fé,
Dantes quebrar que torcer,
Ele tudo pode ser,
Mas de corte homem não é.
(...)
Tudo seu remédio tem
E que assim bem o sabeis,
E ao remédio também;
Querei-los conhecer bem,
No fruto os conhecereis.
Obras, que palavras não:
Porém, senhor, somos muitos,
E entre tanta multidão
Tresmalham-se-vos os frutos,
Que não sabeis cujos são.
(...)
Sempre foi, sempre há de ser,
Que onde uma só parte fala,
Que a outra haja de gemer:
Se um jogo a todos iguala,
As leis que devem fazer?
(...)
Do vosso nome um grão rei
Neste reino lusitano,
Se pôs esta mesma lei,
Que diz o seu pelicano
Pola lei, e pola grei.
(...)
Assim que seja aqui fim;
Tornem as práticas vivas;
Perdestes meia hora em mim,
Das que chamam sucessivas
Estes que sabem latim.
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