Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

FELIZ ANO NOVO DE 2012!


Recomeça...

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

Miguel Torga

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

NOVIDADES NA BE

Últimas aquisições no âmbito do projecto novasoportunidades@ biblioteca.esjs, com o apoio integral da Fundação Calouste Gulbenkian.

ALLENDE, Isabel – A Cidade dos Deuses Selvagens. 24.º ed. Viseu: Edições Inapa. 2009. 284 p. ISBN 978-989-681-018-4
AURÉLIO, Marco – Pensamentos. Lisboa Relógio D’Água Editores. 2008. 152 p. ISBN 978-989-641-030-8
BORGES, Jorge Luis – História Universal da Infâmia. Alfragide: Leya. 2009. 93 p. ISBN 978-989-65-3012-9
BRECHT, Bertol – Poemas. Lisboa: Asa. 2007. 666 p. ISBN 978-972-41-5299-8
BUESCU, Jorge – Casamentos e Outros Desencontros. Lisboa: Gradiva. 2011. 169 p. ISBN 978-989- 616-451-5
CAPOTE, Trumman – Travessia de Verão. Alfragide: Leya. 2009. 126 p. ISBN 978-989-660-007-5
CARDOSO, Dulce Maria – O Retorno. 2.ª ed. Lisboa: Edições Tinta-da-China. 2011. 267 p. ISBN 978-989-671-098-9
CRATO, Nuno – Passeio Aleatório. 8.ª ed. Lisboa: Gradiva. 2011. 211 p. ISBN 978-989-616-216-0
CÍCERO - Da Velhice. Lisboa: Biblioteca Editores Independentes. 2009. 85 p. ISBN 978-989-8231-1
DICKENS, Charles – Oliver Twist. Mem Martins: Publicações Europa-América. 2005. 442 p. ISBN 972-1-05628-6
DICKINSON, Emily – Cem Poemas. Lisboa: Relógio D’Água Editores. 2010. 273 p. ISBN 978-989-641-173-2
ECO, Umberto – O Nome da Rosa. Lisboa: Gradiva. 2011. 612 p. ISBN 978-989-616-454-6
FARIA, Rosa Lobato – Vento Suão. 3.º ed. Porto: Porto Editora. 2011. 175 p. ISBN 978-972-0-04182-1
GARRETT, Almeida – Falar Verdade a Mentir. Porto: Porto Editora. 2010. 79 p. ISBN 978-972-0-31079-8
GODIN, Seth – Como se Tornar Indispensável. Alfragide: Lua de Papel. 2011. 278 p. ISBN 978-989-23-1277-4
GULLAR, Ferreira – Poema Sujo. Lisboa: Ulisseia. 2010. 62 p. ISBN 978-972-568-633-1
JIMÉNEZ, Juan Ramon – Platero e Eu. Lisboa: Livros do Brasil. 2006. 141 p. ISBN 972-38-2816-2
LLOSA, Mario Vargas – O Falador. Alfragide: Leya. 2011. 251 p. ISBN 978-989-660-074-7
MILL, John Stuart – Da Liberdade de Pensamento e Expressão. Alfragide: Leya. 2010. 92 p. ISBN 978-989-660-074-7
MORAES, Wenceslau – O Culto do Chá. Lisboa: Relógio D’Água Editores. 2008. 82 p. ISBN 978-989-641-007-0
NUNN, John – Manual do Xadrez: entendendo o jogo lance a lance. S. Paulo: 2010. 524 p. ISBN 978-85-370-0581-1
OVÍDIO – Arte de Amar. Lisboa: Edições Cotovia. 2008.103 p. ISBN 978-972-795-249-6
ROBERTS, Nora – A Chave do Saber. 2.º ed. Lisboa: O Quinto Selo. 2008. 265 p. ISBN 978-989-6130-86-2
SARAMAGO, José – Claraboia. Alfragide: Caminho. 2011. 398 p. ISBN 978-972-21-2441-6
SARTRE, Jean Paul – A Náusea. Mem Martins: Publicações Europa- América. 206 p. ISBN 978-972-1-01565-4
SEELEY, STEPHENS, TATE - Anatomia e Fisiologia. Loures: Lusociência. 2011. 1141 p. ISBN 978-972-8930-62-2
SILVA, Daniel – O Caso Rembrant. Lisboa: Bertrand. 2011. 441 p. ISBN 978-972-25-2358-5
SINGH, Simon – Big Bang. Lisboa: Gradiva. 2011. 587 p. ISBN 978-989-616-363-1
TATE, Philip, KENNEDY, James, SEELEY, Rod R. – Guia de Estudo para utilização com Anatomia e Fisiologia, 8.ª ed. Loures: Lusociência. 2011. 472 p. ISBN 978-972-8930-62-2
VIEIRA, Alice – Os Profetas. Lisboa: Caminho. 2011. 170 p. ISBN 978-972-21-2444-7
WOOLF, Virginia – Orlando. Lisboa: Relógio D’Água Editores. 2010. 204 p. ISBN 978-989-641-169-5
ZINK, Rui – O Amante é Sempre o Último a Saber. Lisboa: Planeta. 2011. 287 p. ISBN 978-989-657-229-7

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL


A abstracção não precisa de mãe nem pai
nem tão pouco de tão tolo infante

mas o natal de minha mãe é ainda o meu natal
com restos de Beira Alta

ano após ano via surgir figura nova nesse
presépio de vaca burro banda de música

ribeiro com patos farrapos de algodão muito
musgo percorrido por ovelhas e pastores

multidão de gente judaizante estremenha pela
mão de meu pai descendo de montes contando

moedas azenhas movendo água levada pela estrela
de Belém

um galo bate as asas um frade está de acordo
com a nossa circuncisão galinhas debicam milho

de mistura com um porco a que minha avó juntava
sempre um gato para dar sorte era preto

assim íamos todos naquela figuração animada
até ao dia de Reis aí estão

um de joelhos outro em pé
e o rei preto vinha sentado no

camelo. Era o mais bonito.
depois eram filhoses o acordar de prenda no

sapato tudo tão real como o abrir das lojas no dia
de feira

e eu ia ao Sanguinhal visitar a minha prima que
tinha um cavalo debaixo do quarto

subindo de vales descendo de montes
acompanhando a banda do carvalhal com ferrinhos

e roucas trompas o meu Natal é ainda o Natal de
minha mãe com uns restos de canela e Beira Alta.

João Miguel Fernandes Jorge, Actus Tragicus, 1979

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

AQUISIÇÕES RECENTES

TÍtulos disponíveis na BE:

CALVINO, Italo - O Barão Trepador. Oeiras: Público/Levoir. 2011. 302 p. ISBN 978-989-682-165-4
HASEK, Jaroslav - O Valente Soldado Chveik. Oeiras: Público/Levoir. 2011. 236 p. ISBN 978-989-682-169-2
MORAVIA, Alberto – O Conformista. Oeiras: Livros do Brasil. 2011. 349 p. ISBN 978-989-682-168-5
SENA, Jorge – O Físico Prodigioso. Oeiras: Público/Levoir. 2011. 137 p. ISBN 978-989-682-167-8
ZOLA, Émile – Nana. Oeiras: Público/Levoir. 2011. 413 p. ISBN 978-989-682-166-1

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

SUGESTÃO DE LEITURA (19)


Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo  como uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até a brisa que corre me sabe a sal.
Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há ancoras, há sereias (...)
Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enloquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos.
(Texto da contracapa da obra)

Procure na Classe 8 (Língua. Linguística. Literatura)  e requisite o livro na Biblioteca da Escola.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

JORGE DIAS - Os Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa

Jorge Dias (Etnólogo, 1907-1973)
Imagem daqui.

Recomendamos Os Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa, comunicação apresentada pelo etnólogo Jorge Dias no Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, realizado em Washington, de 15 a 20 de Outubro de 1950, e publicado em Coimbra em 1955, pela sua brilhante exposição e, curiosamente, pela actualidade de alguns dos aspectos focados. Para reflectir.

Ficam alguns excertos:

A GEOGRAFIA FAZ A HISTÓRIA
Embora a origem da Nação se deva também à política, à vontade de um príncipe, que naturalmente se aproveitou de certas aspirações de independência latentes nas populações de Entre Douro e Minho, a unificação e a permanência da Nação deve-se ao mar. Foi a grande força atractiva do Atlântico que amontoou no litoral a maior densidade da população portuguesa do Norte, criando como que um vácuo para o interior. Desde Caminha a Lisboa estabeleceram-se inúmeras amarras que defenderam Portugal da força centrípeta de Castela. Mas foi sobretudo o estuário do Tejo, esse forte abraço do mar com a terra, que definitivamente presidiu aos destinos de Portugal. Não houve o domínio de uma região sobre outras, antes se encontraram todas num ponto natural de convergência. É por isso que, ao contrário de Berlim ou de Madrid, capitais no centro das regiões dominadoras, Lisboa, na foz do Tejo, está mais apoiada no mar do que na terra. (...)

A PERSONALIDADE
Se a situação geográfica contribuiu indiscutivelmente para o carácter expansivo da cultura portuguesa, ela só não basta para explicar tudo. Além dela, temos de considerar a feição psíquica portuguesa e a maneira como esta actuou perante as circunstâncias. A personalidade psicossocial do povo português é complexa e envolve antinomias profundas (...).
O Português é um misto de sonhador e de homem de acção, ou, melhor, é um sonhador activo, a que não falta certo fundo prático e realista. A actividade portuguesa não tem raízes na vontade fria, mas alimenta-se da imaginação, do sonho, porque o Português é mais idealista, emotivo e imaginativo do que homem de reflexão. Compartilha com o Espanhol o desprezo fidalgo pelo interesse mesquinho, pelo utilitarismo puro e pelo conforto, assim como o gosto paradoxal pela ostentação de riqueza e pelo luxo. Mas não tem, como aquele, um forte ideal abstracto, nem acentuada tendência mística. O Português é, sobretudo, profundamente humano, sensível, amoroso e bondoso, sem ser fraco. Não gosta de fazer sofrer e evita conflitos, mas, ferido no seu orgulho, pode ser violento e cruel. A religiosidade apresenta o mesmo fundo humano peculiar ao Português. Não tem o carácter abstracto, místico ou trágico próprio da espanhola, mas possui uma forte crença no milagre e nas soluções milagrosas. (...)

A SAUDADE
A mentalidade complexa que resulta da combinação de factores diferentes e, às vezes, opostos dá lugar a um estado de alma sui generis que o Português denomina saudade. Esta saudade é um estranho sentimento de ansiedade que parece resultar da combinação de três tipos mentais distintos: o lírico sonhador - mais aparentado com o temperamento céltico -, o fáustico de tipo germânico e o fatalístico de tipo oriental. Por isso a saudade é umas vezes um sentimento poético de fundo amoroso ou religioso, que pode tomar a forma panteísta de dissolução na natureza, ou se compraz na repetição obstinada das mesmas imagens ou sentimentos. Outras vezes é a ânsia permanente da distância, de outros mundos, de outras vidas. A saudade é então a força activa, a obstinação que leva à realização das maiores empresas; é a saudade fáustica. Porém, nas épocas de abatimento e de desgraça, a saudade toma uma forma especial, em que o espírito se alimenta morbidamente das glórias passadas e cai no fatalismo de tipo oriental, que tem como expressão magnífica o fado, canção citadina, cujo nome provém do étimo latino fatu (destino, fadário, fatalidade). (...)

O TEMPERAMENTO
Outra constante da cultura portuguesa é o profundo sentimento humano, que assenta no temperamento afectivo, amoroso e bondoso. Para o Português o coração é a medida de todas as coisas. (...)

A RELIGIÃO
A própria religião tem o mesmo cunho humano, acolhedor e tranquilo. Não se erguem nas aldeias portuguesas essas igrejas enormes e solenes, tão características da paisagem espanhola, que na sua imponência apagam a nota humana. A igreja portuguesa, ora caiada e sorridente entre ramadas, ora singela e sóbria na pureza do granito, é simplesmente a casa do Senhor. É sempre um templo acolhedor, habitado por santos bons e humanos. Não se vêem os Cristos lívidos e torturados de Espanha. A sensibilidade portuguesa não suporta essa visão trágica e dolorosa. (...)

A GENEROSIDADE
É a sobreposição dos valores humanos ao lucro e ao utilitário que explica muitos capítulos da nossa história e que nos deixa compreender muitas formas da sociedade actual. Tal mentalidade é a negação do espírito capitalista. No campo, sobretudo, é ainda viva a mentalidade patriarcal, onde a mesa está pronta para quem se quiser sentar e onde se não nega o pão e o caldo ao mendigo que passa. De dinheiro podem ser avaros, mas não fazem as contas ao que é da sua lavoura. (...)

O IMPROVISO
A imaginação sonhadora, a antipatia pela limitação que a razão impõe e a crença milagreira levam-no com frequência a situações perigosas, de que se salva pela invulgar capacidade de improvisação de que é dotado. (...) Nesses momentos a sua inteligência viva, a enorme capacidade de adaptação a todas as circunstâncias e o jeito para tudo permitem-lhe dominar as situações com êxito. (...)

A ADAPTAÇÃO
A capacidade de adaptação, a simpatia humana e o temperamento amoroso são a chave da colonização portuguesa. O Português assimilou adaptando-se. Nunca sentiu repugnância por outras raças e foi sempre relativamente tolerante com as culturas e religiões alheias. (...)

AS VIRTUDES E OS DEFEITOS
O Português, muito intimamente, é incapaz de ambicionar para a sua pátria o bem-estar e a prosperidade que, por exemplo, o Suiço conseguiu pelo esforço pertinaz e constante. É certo que o Português se envergonha perante um suiço, pelo elevado nível de vida que aquele soube conquistar, mas se fosse ele o suiço, envergonhar-se-ia da mesma maneira, por ter conseguido um bem-estar sem glória. É um povo paradoxal e difícil de governar. Os seus defeitos podem ser as suas virtudes e as suas virtudes os seus defeitos, conforme a égide do momento.