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Adélia Prado, professora, formada em Filosofia, nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935. No talento de Adélia acreditou Carlos Drummond de Andrade, poeta que contribuiu para a publicação do seu primeiro livro de poemas, Bagagem, em 1976.
Na crónica intitulada "De Animais, Santo e Gente", publicada no Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, em 9 de outubro de 1975, Drummond escreve:
"Acho que ele (refere-se a S. Francisco de Assis) está no momento ditando em Divinópolis os mais belos poemas e prosa a Adélia Prado. Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis. Como é que eu posso demonstrar Adélia , se ela ainda está inédita (...) e só uns poucos do país literário sabem da existência desta grande poeta-mulher à beira-da-linha?"
Ficam dois poemas de Adélia. O primeiro, "Antes do Nome", publicado em Bagagem, e o segundo, "Meditação à Beira de um Poema", faz parte de Oráculos de Maio, dado à estampa em 1999.
Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás",
o "o", o "porém" e o "que", esta incompreensível
muleta que me apoia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrequentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.
MEDITAÇÃO À BEIRA DE UM POEMA
Podei a roseira no momento certo
e viajei muitos dias,
aprendendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca a vira,
constelada,
os botões,
alguns já com o rosa-pálido
espiando entre as sépalas,
jóias vivas em pencas.
Minha dor nas costas,
meu desaponto com os limites do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizaram-se
diante do recorrente milagre.
Maravilhosas faziam-se
as cíclicas perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá
do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfumes.
Só porque é setembro.
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