Manoel de Barros nasceu no dia 19 de dezembro de 1916, em Cuiabá, Mato Grosso. Advogado e fazendeiro, é também poeta de profissão, fascinado, nas suas palavras, com o "encantamento verbal". Considerado um dos maiores poetas brasileiros, tem atualmente mais de vinte livros publicados.
Os seus poemas são o seu melhor e mais nítido retrato. Aqui ficam "A Disfunção" e "Tributo a J. G. Rosa", ambos parte do Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo (2001).
A DISFUNÇÃO
Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso de
a menos
Sendo que o mais justo seria o de ter um parafuso
trocado do que a menos.
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa
disfunção lírica.
Nomearei abaixo 7 sintomas dessa disfunção lírica.
1- Aceitação da inércia para dar movimento às
palavras.
2- Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3- Percepção das contiguidades anómalas entre
verbos e substantivos.
4- Gostar de fazer casamentos incestuosos entre
palavras.
5- Amor por seres desimportantes tanto como pelas
coisas desimportantes.
6- Mania de dar formato de canto às asperezas de
uma pedra.
7- Mania de comparecer aos próprios desencontros.
Essas disfunções líricas acabam por dar mais
importância aos passarinhos do que aos senadores.
TRIBUTO A J. G. ROSA
Passarinho parou de cantar.
Essa é apenas uma informação.
Passarinho desapareceu de cantar.
Esse é um verso de J. G. Rosa.
Desapareceu de cantar é uma graça verbal.
Poesia é uma graça verbal.
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