Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

sexta-feira, 31 de maio de 2013

POESIA DE ADRIANO ALCÂNTARA (VI)

Fotografia do Professor Adriano Alcântara

FUTURO

Atrás deixo sentidos
Agora trago lembranças
e esquecimento e os ditos
ainda
À frente segue o nada
e sua multidão de sonhos
gente atarantada
Mas nesse malfadado golpe
de uma só e inesperada pétala
no malmequer da sorte
há sempre uma certeza
O nervo lá de muito atrás
vibra nos desconchavos do presente
e soa nas cordas do nada lá à frente

LEITURAS NO PARQUE

Imagem daqui, bem como todas as informações.
 
Leituras no Parque
8 de junho, todo o dia
Torres Vedras

quinta-feira, 30 de maio de 2013

ANDRÉ BAGINHA NA BIBLIOTECA




Hoje, assistimos ao concerto acústico "Novo Movimento Underground", por André Baginha, do 10.º M.
Os colegas de turma, acompanhados pela Professora Susana Silvestre, a organizadora da atividade, Professora Isolinda Nascimento, a mãe do aluno, a equipa da BE e os utilizadores da BE aplaudiram o talentoso músico.

DA CONCISÃO XXIII

Imagem daqui.

 
 
A Arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade.
Pablo Picasso


 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

CASA DAS ESTRELAS - Dicionário das Crianças

Imagem daqui.
 
 
Há 15 anos...
Professor Javier Naranjo
Antioquia, Colômbia 
Turma de crianças
Definições de "grandes e pequenas questões do mundo"
Criatividade

Resultado: o dicionário Casa das Estrelas - O Universo Contado pelas Crianças

Ficam algumas definições:

Adulto - "Pessoa que, em tudo o que fala, fala primeiro dela" (Andrés Bedoya, 8 anos)
Água - "Transparência que se pode tomar" (Tatiana Ramirez, 7 anos)
Colégio - "Casa cheia de mesas e cadeiras aborrecidas" (Simón Peláez, 11 anos)
Escuridão - "É como o frescor da noite" (Ana Cristina Henao, 8 anos)
Guerra - "Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz" (Juan Carlos Mejía, 11 anos)
Igreja - "Onde a pessoa vai para perdoar a Deus" (Natalia Bueno, 7 anos)
Paz - "Quando a pessoa se perdoa" (Juan Camilo Hurtado, 8 anos)
Tempo - "Coisa que passa para lembrar" (Carlos Gómez, 12 anos)


Fonte: Diário de Notícias, 28 de maio de 2013

 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

DA CONCISÃO XXII


Imagem daqui.
 
 
 
"Um bom leitor é aquele que pergunta: onde está o livro? O livro só começa quando a gente acaba o livro."

António Lobo Antunes entrevistado por Alexandra Lucas Coelho, Ípsilon, 21 de outubro de 2009.


 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

NOVO NA BE


São Palavras com Alma, porque a alma é o que permanece. São as palavras que ecoaram nos anos que deram vida e estrutura ao Jornal O Carrilhão. Elas foram semente, rebento, tronco, árvore e continuam a dar fruto... são a obra deixada, que vence a lei do esquecimento.
Muitos - tantos! - leitores d' O Carrilhão têm mostrado apreço por estas palavras, pelo que faz sentido reuni-las agora e proporcioná-las a todos aqueles que encontram nelas inspiração para a vida.
Quem conheceu o seu autor - António Vaz Antunes - sabe que foi um homem de bem, dado à caridade, desprendido de bens materiais, que sempre se empenhou na promoção do ser humano. A sua forma honesta de estar na vida marcou quantos com ele se cruzaram e sulcou caminhos. Nele, a inteligência e o saber aliavam-se, de modo sublime, a uma fé inabalável e a uma simplicidade feliz que surpreendia e cativava. Homem humilde, buscando incessantemente a Verdade, defendia, com determinação e coragem, as suas convicções visando o bem comum.
A inscrição visível na lápide da sua campa rasa - "Servir com Alegria" - resume bem a vida de quem, surda e paulatinamente, se foi da lei da morte libertando.
Os textos aqui reunidos são intemporais: mesmo quando se referem a momentos específicos, contêm reflexões sempre oportunas e potencialmente transformadoras, porque apelam ao que de melhor se esconde em cada ser humano. São palavras com verdade. Com alma.

José, Fátima, João, Fernando, Teresa, Luís, Francisco, Isabel
(Texto do Prefácio da obra)

ANTUNES, António Vaz – Palavras com Alma. Mafra: Família Vaz Antunes. 2010. 384 p.
 
Dois exemplares da obra foram oferecidos à BE pela Professora Isabel Vaz Antunes. Estão disponíveis na estante das Novidades.

PENSAR É OUVIR COM MAIS FORÇA

  
Nicolas Poussin, L'Inspiration du Poète (1630)
Imagem daqui.
 
 
 
"(...) Até que ponto o livro é do autor ou ele foi apenas um meio de que o livro se serviu para existir? É um problema que sempre se me pôs enquanto leitor em relação aos grandes livros. A Guerra e Paz é feita pelo Tolstoi ou através do Tolstoi? A grande literatura, a grande pintura e a grande música é feita pelos autores dos livros, dos quadros ou das sinfonias ou por uma outra entidade que, por hipótese, é comum a todos e que toma diferentes tonalidades consoante a personalidade? (...)
 
Essas perguntas sempre existiram em mim, mas agora já estou à vontade para as fazer e, também, à vontade do ponto de vista técnico para o fazer. Os outros livros têm-me obrigado, como diz o Beckett, a entender que «pensar é ouvir com mais força» e se estivermos atentos começamos a ouvir. Tinha-me dado conta de que as minhas duas/ três primeiras horas de escrita são perdidas porque estou demasiado atento e só quando a atenção está difusa e ao mesmo tempo fixa - é quase um paradoxo - é que tudo começa. (...) Isso põe-me outro problema que é: até  que ponto é legítimo ter o meu nome enquanto autor do livro. (...)"
 
António Lobo Antunes entrevistado por João Céu e Silva, Diário de Notícias, 16 de fevereiro de 2009.

 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

EÇA DE QUEIROZ - Curso Internacional de Verão

 
Imagem e todas as informação no sítio da Fundação Eça de Queiroz


 

NA ORIGEM DA POESIA


Imagem daqui.
 
 
 
Sobre a origem da poesia

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem.
Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não-poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas.
Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa – que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história. (…)
Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas (…)?
Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado.
Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substantivos), não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéticas por natureza, mais propensas à composição analógica.
Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy – Eles dizem «maçã vermelha», «água boa», «cavalo veloz»; em vez de «a maçã é vermelha», «essa água é boa», «aquele cavalo é veloz». Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da própria existência – como se a fala não estivesse se referindo àquelas coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo que se apresenta a si mesma). (…)
Segundo Mikhail Bakhtin, (…) «o estudo das línguas dos povos primitivos e a paleontologia contemporânea das significações levam-nos a uma conclusão acerca da chamada complexidade do pensamento primitivo. O homem pré-histórico usava uma mesma e única palavra para designar manifestações muito diversas, que, do nosso ponto de vista, não apresentam nenhum elo entre si. Além disso, uma mesma e única palavra podia designar conceitos diametralmente opostos: o alto e o baixo, a terra e o céu, o bem e mal, etc». Tais usos são inteiramente estranhos à poesia referencial, mas bastante comuns à poesia, que elabora seus paradoxos, duplos sentidos, analogias e ambiguidades para gerar novas significações nos signos de sempre.
Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. Mas temos esses pequenos oásis – os poemas – contaminando o deserto da referencialidade.”
Arnaldo Antunes, Antologia, Vila Nova de Famalicão, Edições Quasi, pp.249-251.

 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

POESIA DE ADRIANO ALCÂNTARA (V)

Fotografia do Professor Adriano Alcântara

ESQUECE

Há dias assim
onde tudo corre
quase certo
Ganham uns e os outros
fiam longe nas estatísticas
campos abandonados
em mundo sem
cambiantes
de alguém
sozinho

DE PERTO CONHEÇO O AMOR

André d'Ypres, Crucifixion du Parlement de Paris, 1449 (detalhe)
Imagem daqui.


De perto conheço o amor
De longe conheço a bondade
Hoje conheço-te a ti
A quem amo de verdade

Por dentro estou a sofrer
Sabendo que te perdi
Por fora estou a viver
Fingindo que te esqueci

Afonso Samora, David Lopes, Henrique Serra e Marcelo Policarpo, Alunos do 10º F desta Escola
 
 
 

terça-feira, 21 de maio de 2013

AS BIBLIOTECAS, VALTER HUGO MÃE

Os livros "São estações do ano, dos anos todos, desde o princípio do mundo e já do fim do mundo".


As bibliotecas são como aeroportos. São lugares de viagem. Entramos numa biblioteca como que está a ponto de partir. E nada é pequeno quando tem uma biblioteca. O mundo inteiro pode ser convocado à força dos seus livros.
Todas as coisas do mundo podem ser chamadas a comparecer à força das palavras, para existirem diante de nós como matéria da imaginação. As bibliotecas são do tamanho do infinito e sabem toda a maravilha.
Os livros são família direta dos aviões, dos tapetes-voadores ou dos pássaros. Os livros são da família das nuvens e, como elas, sabem tornar-se invisíveis enquanto pairam, como se entrassem para dentro do próprio ar, a ver o que existe dentro do ar que não se vê.
O leitor entra com o livro para dentro do ar que não se vê.
Com um pequeno sopro, o leitor muda para o outro lado do mundo ou para outro mundo, do avesso da realidade até ao avesso do tempo. Fora de tudo, fora da biblioteca. As bibliotecas não se importam que os leitores se sintam fora das bibliotecas.
Os livros são toupeiras, são minhocas, eles são troncos caídos, maduros de uma longevidade inteira, os livros escutam e falam ininterruptamente. São estações do ano, dos anos todos, desde o princípio do mundo e já do fim do mundo. Os livros esticam e tapam furos na cabeça. Eles sabem chover e fazer escuro, casam filhos e coram, choram, imaginam que mais tarde
voltam ao início, a serem como crianças. Os livros têm crianças ao dependuro e giram como carrosséis para as ouvir rir.Os livros têm olhos para todos os lados e bisbilhotam o cima e baixo, o esquerda e direita de cada coisa ou coisa nenhuma. Nem pestanejam de tanta curiosidade. Querem ver e contar. Os livros é que contam.
As bibliotecas só aparentemente são casas sossegadas. O sossego das bibliotecas é a ingenuidade dos incautos. Porque elas são como festas ou batalhas contínuas e soam trombetas a cada instante e há sempre quem discuta com fervor o futuro, quem exija o futuro e seja destemido, merecedor da nossa confiança e da nossa fé.
Adianta pouco manter os livros de capas fechadas. Eles têm memória absoluta. Vão saber esperar até que alguém os abra.
Até que alguém se encoraje, esfaime, amadureça, reclame direito de seguir maior viagem. E vão oferecer tudo, uma e outra vez, generosos e abundantes. Os livros oferecem o que são, o que sabem, uma e outra vez, sem refilarem, sem se aborrecerem de encontrar infinitamente pessoas novas. Os livros gostam de pessoas que nunca pegaram neles, porque têm surpresas para elas e divertem-se a surpreender. Os livros divertem-se.
As pessoas que se tornam leitoras ficam logo mais espertas, até andam três centímetros mais altas, que é efeito de um orgulho saudável de estarem a fazer a coisa certa. Ler livros é uma coisa muito certa. As pessoas percebem isso imediatamente. E os livros não têm vertigens. Eles gostam de pessoas baixas e gostam de pessoas que ficam mais altas.
Depois da leitura de muitos livros pode ficar-se com uma inteligência admirável e a cabeça acende como se tivesse uma lâmpada dentro. É muito engraçado. Às vezes, os leitores são tão obstinados com a leitura que nem acendem a luz. Ficam com o livro perto do nariz a correr as linhas muito lentamente para serem capazes de ler. Os leitores mesmo inteligentes aprendem a ler tudo. Leem claramente o humor dos outros, a ansiedade, conseguem ler as tempestades e o silêncio, mesmo que seja um silêncio muito baixinho. Os melhores leitores, um dia, até aprendem a escrever. Aprendem a escrever livros. São como pessoas com palavras por fruto, como as árvores que dão maçãs ou laranjas. Dão palavras que fazem sentido e contam coisas às outras pessoas. Já vi gente a sair de dentro dos livros. Gente atarefada até com mudar o mundo. Saem das palavras e vestem-se à pressa com roupas diversas e vão porta fora a explicar descobertas importantes. Muita gente que vive dentro dos livros tem assuntos importantes para tratar. Precisamos de estar sempre atentos. Às vezes, compete-nos dar despacho. Sim, compete-nos pôr mãos ao trabalho. Mas sem medo. O trabalho que temos pela escola dos livros é normalmente um modo de ficarmos felizes.
Este texto é um abraço especial à biblioteca da escola Frei João, de Vila do Conde, e à biblioteca do Centro Escolar de Barqueiros, concelho de Barcelos. As pessoas que ali leem livros saberão porquê. Não deixa também de ser um abraço a todas as demais bibliotecas e bibliotecários, na esperança de que nada nos convença de que a ignorância ou o fim da fantasia e do sonho são o melhor para nós e para os nossos. Ler é esperar por melhor.

Jornal de Letras, Artes e Ideias. Dir. José Carlos de Vasconcelos. Ano XXXIII. Número 1112. 15 a 28 de maio de 2013.

O Jornal de Letras, Artes e Ideias encontra-se disponível na estante de periódicos.

EDUARDO LOURENÇO: UM TEMPO E AS SUAS CINZAS

 
Imagem e texto de apresentação aqui
 
 
Mostra na Biblioteca Nacional de Portugal, de 20 de maio a 13 de julho, com entrada livre.
 
 
 

HANNAH ARENDT, o filme

Hannah Arendt, filme de Margarethe von Trotta (2013)
 
 
 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

FEIRA DO LIVRO DE LISBOA

 
Imagem daqui.

 

JURA DE AMOR

Debussy, Clair de Lune (piano)

Amo-te daqui à lua
E por te amar assim o fiz
Saí hoje para a rua
E gritei que estou feliz

E se o mundo acabar
Não te esqueças que te amo
Como te disse ao luar
No último dia do ano

Bruna Henriques, Marina Moura e Mónica Dias, Alunas  do 10º N, desta Escola
 
 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A REPÚBLICA DI MININUS

Imagem daqui.
 
 
O mais recente filme do realizador guineense Flora Gomes, A República di Mininus, já está em exibição nas salas portuguesas. O filme, rodado em Moçambique, e com a participação do ator Danny Glover, conta a história de um país abandonado pelos adultos e entregue apenas às crianças. São elas que o irão governar, tornando-o próspero e estável.


NOITE DA LITERATURA EUROPEIA

Imagem daqui.
 
A iniciativa Noite da Literatura Europeia chega pela primeira vez a Lisboa no dia 24 de maio, decorrendo entre as 18h30 e as 22h30, em diversos espaços da cidade.
 
Para mais informações, clique aqui.

POESIA DE ADRIANO ALCÂNTARA (IV)

Fotografia do Professor Adriano Alcântara

SOZINHO

Sentado na cadeira de sempre
ouço música, sozinho
Lá onde não sei está toda a gente
a conversar no repente
dos dias e seu lento
crespúsculo
Por cá me fico, agarrado à folha
e seu nada
Agito a espada do silêncio
e num grito sem jeito
me sublevo imune
às contrariedades da cadeira
Não fico é desta maneira
sentado

quinta-feira, 16 de maio de 2013

50 ANOS DE AVENTURAS DE JOÃO SEM MEDO

(...) Os habitantes dessa cidade, como já sabem, andavam de pernas para o ar, usavam gravatas na cintura, cintos no pescoço, galochas nas mãos e luvas nos pés. Os prédios em que moravam não dispunham de portas nem de janelas. Entrava-se e saía-se dos andares, através dos telhados, por intermédio de elevadores montados nas paredes exteriores das fachadas. Outra particularidade a distinguia das demais cidades: apresentava diariamente um aspecto panorâmico novo, porque não possuía ruas fixas. Na verdade a Lei obrigava os donos dos prédios a mudarem-nos todos os dias de orientação e de rua, segundo um plano de barafunda paranóica estabelecido por poetas surrealistas reformados. Para esse fim, e obedecendo a métodos de construção especiais, edificavam-nos sobre largas plataformas metálicas com rodas, para se deslocarem com mais facilidade. Mercê deste processo ideal, a confusão da Cidade atingia requintes impossíveis de ultrapassar porque os habitantes ignoravam onde moravam.
Em resumo: ninguém sabia a quantas andava. Os relógios não marcavam as horas, os minutos e os segundos, mas os séculos. Os governantes, os professores e o escol intelectual, cuidadosamente escolhidos entre as pessoas mais insignificantes da Cidade, pugnavam com denodo pela mumificação do Disparate de pernas para o ar. E ai daquele que não pronunciasse pelo menos dez asneiras por minuto. Ou não sujasse as grandes descobertas e empresas humanas (como a energia atómica ou os satélites, por exemplo) com teorias imbecis de amesquinhamento reles. Considerados moralmente mortos, os colegas tratavam logo de excluí-los sem reluntância nem remorsos, das respectivas Academias e Universidades.
Esta estupidez, preceituada como mais uma das mais galhardas manifestações da alma da Raça, cultivava-se desde a infância com esmeros maternais. As Escolas, onde os mestres se seleccionavam não pela ciência demonstrada mas pela maneira de trajar e fazer o nó da gravata, incumbiam-se de torcer os meninos até à incapacidade perfeita. Ensinavam-lhes de propósito coisas sem significação, palavras vazias, matéria inoperantes, ideias cadavéricas, sempre com mais de duzentos anos, pelo menos, e que, conservadas em álcool, graças ao seu desuso em cabeças vivas serviam para simulações de sistemas geniais recentes.
Também se chamavam ursos aos raros estudiosos. (...)
No meio desta trapalhada, em que tudo parecia desengonçar-se e fazer o pino, o pobre João Sem Medo esforçava-se por se manter imune ao contágio, repugnando-lhe aderir à lógica absurda de certos hábitos e cerimónias.

FERREIRA, José Gomes - A Cidade da Confusão. In Aventuras de João Sem Medo. Lisboa: Diabril Editora. 1975. 4.ª ed. Cap. VII, p.95-97.

O livro encontra-se disponível para requisição na Biblioteca da ESJS.

Para saber mais sobre a obra:
 

EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA (15)



EXPOSIÇÃO DE MÓBILES NA BIBLIOTECA

Trabalhos das alunas da disciplina do Curso Profissional de Técnico de apoio à Infância do 12º Q3.

Tendo como objectivo a divulgação dos trabalhos dos alunos e a animação da biblioteca promovendo o interesse pela mesma, esta exposição, apresenta o trabalho desenvolvido no Módulo 11- Práticas de Representação Aplicada II, na disciplina de Expressão Plástica.
A seleção e utilização das técnicas e materiais nas áreas do desenho, pintura e estampagem, colagem, modelagem e outras, foram opções individuais apresentadas na definição do projeto de um móbile, cuja temática foi também definida por cada aluna. Assim a variedade de móbiles que povoam uma grande parte do teto da biblioteca remetem-nos para universos que vão dos oceanos às estações do ano ou aos meios de transporte num colorido vibrante em constante mutação que não deixará indiferentes aqueles que nos visitarem.
Texto  e fotografias do Professor Carlos Marques

A JUDAICA

Imagem e todas as informações complementares, incluindo o programa, encontram-se no endereço www.judaicacinema.org
 
 
A cidade de Lisboa acolhe este ano a 1ª Mostra de Cinema e Cultura Judaica, de 22 a 25 de maio, no cinema São Jorge. De entre os filmes exibidos destacam-se Zayton (2012), de Eran Riklis, O Quinto Céu (2011), de Dina Riklis, A Mala de Hana (2009), de Larry Weinstein, e o documentário biográfico Nunca te esqueças de mentir (2012), de Marian Marzynski, sobrevivente do Holocausto. O filme Hannah Arendt (2013), de Margarethe Von Trotta, será apresentado na sessão de encerramento.
 
 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

POESIA DE ADRIANO ALCÂNTARA (III)

Fotografia do Professor Adriano Alcântara

RETÓRICA

Não sinto sonhos
em lugar nenhum
Dormito neles
livre
quando acordo
e te vejo na menina
do mundo todo
Aí somos
aqui estamos
a salvo
Sabe-se lá do quê
De um dia assim
danado
sem mercê?

terça-feira, 14 de maio de 2013

NOSTALGHIA EX [POSTA]



 

PERFUME I

Imagem daqui.


O perfume

Envio-te um doce perfume, presente que ofereço ao perfume, não a ti. Porque tu podes perfumar o próprio perfume.

Anónimo

Antologia da Poesia Grega Clássica, tradução e notas complementares de Albano Martins, Lisboa. Portugália Editora, 2009, p.455.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

S. JOÃO DA CRUZ

Paul Cézanne, Mont Sainte-Victoire (1885-95)
Imagem daqui.




OS VERSOS SEGUINTES DECLARAM O MODO DE SUBIR PELA SENDA AO MONTE DE PERFEIÇÃO, E ADVERTEM PARA NÃO IR PELOS DOIS CAMINHOS TORTUOSOS


Para chegar a gostar de tudo
não queiras ter gosto em nada.
Para chegar a saber tudo
não queiras saber algo em nada.
Para chegar a possuir tudo,
não queiras possuir algo em nada.
Para chegar a ser tudo,
não queiras ser algo em nada.

 

Para chegar ao que não gostas,
hás-de ir por onde não gostas.
Para chegar ao que não sabes,
hás-de ir por onde não sabes.
Para chegar a possuir o que não possuis,
hás-de ir por onde não possuis.
Para chegar ao que não és,
hás-de ir por onde não és.

 

Quando reparas em algo,
deixas de atirar-te ao todo.
Para chegar de todo a tudo,
hás-de afastar-te de todo em tudo.
E quando chegues de todo a ter,
hás-de tê-lo sem nada querer.

 

Quando já não o queria,
tenho tudo sem querer.
Quanto mais eu tê-lo quis,
com tanto menos me vejo.
Quanto mais buscá-lo quis,
com tanto menos me vejo.
Quando menos o queria,
Tenho tudo sem querer.
Já por aqui não há caminho,
Porque para o justo não há lei;
Para si ele é a lei.

S. João da Cruz, Poesias Completas, tradução, prólogo e notas de José Bento, Lisboa, Assírio & Alvim, 1990, pp. 89-91.

 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

RELANCE


Fotografia do Professor Martinho Rangel

Altas serras felizes
Que o sol doira de luz logo à nascença.
Que o céu olha de cima
Com a ternura extensa
Da eternidade.
Que o vento anima
De movimento
E a neve cobre de um alvacento
Manto de augusta serenidade.

Miguel Torga (1976)

TORGA, Miguel - Relance. In Diário. (Volumes IX a XII). Rio de Mouro: Círculo de Leitores. 2001. ISBN 972-42-2548-8. Diário IX, p. 1213.

Esta obra está disponível para requisição na BE da ESJS.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

OS CURSOS DE ÁGUA DA HISTÓRIA

Rede de afluentes do rio Ohio (à esquerda, a azul). | Taylor Perron, MIT
Imagem daqui.



“(…) Tereis ouvido bem? Terei eu realmente afirmado que este presente que somos poderia e deveria explicar o passado que outros foram, que o hoje poderia e deveria, para usar esta expressão coloquial, pôr o ontem no seu lugar? Assim é, e agora apenas será necessário demonstrá-lo, para o que me socorrerei da ajuda de um modestíssimo professor de História chamado Tertuliano Máximo Afonso, personagem de um romance saído ao público há poucos dias e do qual sou autor.

Defende o dito professor a arriscada ideia de que o ensino da História não se deveria fazer de trás para diante, isto é, do mais antigo para o mais recente, mas sim de diante para trás, isto é, (…) começar por estudar profundamente a galinha a fim de se poder chegar a uma melhor compreensão das propriedades reprodutivas do ovo. Convidado a expor esta nada canónica teoria, eis como ele a desenvolveu: «Falar do passado é o mais fácil que há, está tudo escrito, é só repetir, papaguear, conferir pelos livros o que os alunos escrevam nos exercícios ou digam nas chamadas orais, ao passo que falar de um presente que a cada minuto nos rebenta na cara, falar dele todos os dias do ano ao mesmo tempo que se vai navegando pelo rio da História acima até às origens, ou lá perto, esforçar-nos por entender cada vez melhor a cadeia de acontecimentos que nos trouxe aonde estamos agora, isso é outro cantar, dá muito trabalho, exige constância na aplicação, há que manter sempre a corda tensa, sem quebra». Noutra passagem do romance, esta velha e banal alegoria do rio da História enriquece-se com uma novidade de tomo ao chamar-se a atenção para a importância dos pequenos e médios cursos de água que afluem ao rio principal, esses sem os quais a rede hidrográfica da História não passaria de um estagnado e apodrecido pântano. O que o meu professor de História pretendia expressar, com estes aparentemente gratuitos jogos de água, é que, sendo verdade que o passado nos fornece, como é sua obrigação, inúmeras chaves indispensáveis à compreensão do presente, não menos verdade é, porém, que o estudo do presente aplicado à História, também a antiga, mas principalmente a recente, lançaria novas luzes sobre sucessos que aos observadores e testemunhas coetâneos deviam ter parecido unívocos, encerrados e limitados no seu próprio acontecer, e, sobretudo, inocentes de outras consequências além das imediatas, sem ir mais longe nas previsões que a linha do horizonte visível. (…)

Imaginemos então que o meu personagem Tertuliano Máximo Afonso é professor de História nesta Universidade e que, com a necessária aprovação superior, vai pôr em prática, aqui, o seu revolucionário projecto. Na sua classe há estudantes de diversas nacionalidades – alemães, franceses, espanhóis, ingleses, belgas, holandeses, polacos, búlgaros, canadianos, gregos, norte-americanos, suecos, austríacos, japoneses, sul-africanos, e até mesmo, quem sabe, algum português –, todos eles empenhados em conhecer a história de Itália e a cultura italiana. Escusado será dizer que Tertuliano Máximo Afonso satisfará escrupulosamente o interesse dos seus alunos, mas, invertendo a ampulheta da História, principiará por traçar o panorama da situação política, económica, social e cultural da Itália de hoje, e daí avançará para o passado, mas sempre, e isso não será o menos importante, detendo-se na análise do como e do porquê de cada caso concreto, de modo a que os encadeamentos, os nexos, as ligações de tudo com tudo fiquem claramente inscritos na memória e no espírito dos seus estudantes. Um trabalho de Hércules, direis. Assim é, de facto, mas Tertuliano Máximo Afonso irá querer muito mais. Dirá aos seus alunos: «Agora é a vossa vez, que cada um de vós, na medida dos conhecimentos que haja adquirido, faça, em relação ao país donde é natural, o mesmo trabalho que eu fiz aqui em relação a Itália, que seja cada um de vós, ao mesmo tempo, mestre dos seus condiscípulos e mestre meu, e que, depois de terdes aprendido comigo, possamos começar agora a aprender todos com todos». Não é difícil prognosticar que a aula do professor Tertuliano Máximo Afonso se transformaria num vulcão de entusiasmo… Utopia, direis. Assim é, de facto, mas, se a ideia é absurda e portanto impraticável, então que se inventem e apliquem outras que sejam igualmente criadoras de memória, ideias que nos salvem do «buraco negro» de esquecimento que todos os dias, mais e mais, nos vai engolindo (…). Sem Zeus, nem Hera, nem Héracles, atrevo-me a pensar que na aula do professor Tertuliano Máximo Afonso se passaria algo como a aparição igualmente resplandecente de uma nova Via Láctea, mas nessa nenhum «buraco negro» ameaçaria… Se ao outro não vamos poder escapar, ao menos que não façamos este por nossas próprias mãos. Tenho dito.”

José Saramago, Esquecimento: O «Buraco Negro» da Galáxia Humana, Siena, Università per Stranieri di Siena, Facoltà di Lingua e Cultura Italiana, Lectio Doctoralis per la Laurea Honoris Causa in Lingua e Cultura Italiana, 21 de novembro de 2002.

 

MURAL DA BIBLIOTECA

Liberdade...

... é respeitar o próximo.
... é poder!
... é ilusão!
... é não ter consciência.
... é poder não escrever, mas ainda assim fazê-lo.
... era voltarmos para Calpe!
... é os meus pais permitirem que eu vá a um concerto de Quim Barreiros.
... é andar nu na escola.
... é fazer sexo na rua.
... é a faixa 1 do álbum " À queima roupa" do Godinho.
... é poder comer na biblioteca.
... de sujar os livros com comida tira a liberdade de ler.
... é o que não temos na biblioteca, não nos deixam rir a não ser para dentro.
... terminar a liberdade de rir para começar a liberdade de estudar e concentrar.
... é ficar fechado na biblioteca antes de abrir.
... é ouvir a nossa música favorita vezes e vezes sem conta.
... é poder escolher a cadeira onde sentar.
... é poder escolher ir ao Facebook na biblioteca.
... eu aqui a fazer desenhos e os outros a estudar. Isto é liberdade.
(Pensamentos de utilizadores da BE sobre liberdade)


NEWBERRY LIBRARY


Newberry Library, Chicago
Imagem daqui.
 
 
 
"(...) Dir-se-á: mas então, vai-se a Chicago para ler livros que existem em Portugal? A questão é outra, e não falo de Camilo ou de Eça ou outros, falo mesmo da Literatura de Viagens: é que nada existe na Newberry que não possamos achar nas nossas bibliotecas, simplesmente... em nenhuma das nossas há todo o material, em simultâneo, que na Newberry existe! É nisso que ela é um paraíso para o investigador, que tem lá tudo à mão, proporcionando economia de tempo e trabalho harmónico."
 
Maria Alzira Seixo, "A Newberry Library e as letras lusas", in Jornal de Letras, Artes e Ideias, Ano XXXIII, nº 1110, de 17 a 30 de abril de 2013, p. 33.