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Escola Secundária José Saramago - Mafra

segunda-feira, 13 de maio de 2013

S. JOÃO DA CRUZ

Paul Cézanne, Mont Sainte-Victoire (1885-95)
Imagem daqui.




OS VERSOS SEGUINTES DECLARAM O MODO DE SUBIR PELA SENDA AO MONTE DE PERFEIÇÃO, E ADVERTEM PARA NÃO IR PELOS DOIS CAMINHOS TORTUOSOS


Para chegar a gostar de tudo
não queiras ter gosto em nada.
Para chegar a saber tudo
não queiras saber algo em nada.
Para chegar a possuir tudo,
não queiras possuir algo em nada.
Para chegar a ser tudo,
não queiras ser algo em nada.

 

Para chegar ao que não gostas,
hás-de ir por onde não gostas.
Para chegar ao que não sabes,
hás-de ir por onde não sabes.
Para chegar a possuir o que não possuis,
hás-de ir por onde não possuis.
Para chegar ao que não és,
hás-de ir por onde não és.

 

Quando reparas em algo,
deixas de atirar-te ao todo.
Para chegar de todo a tudo,
hás-de afastar-te de todo em tudo.
E quando chegues de todo a ter,
hás-de tê-lo sem nada querer.

 

Quando já não o queria,
tenho tudo sem querer.
Quanto mais eu tê-lo quis,
com tanto menos me vejo.
Quanto mais buscá-lo quis,
com tanto menos me vejo.
Quando menos o queria,
Tenho tudo sem querer.
Já por aqui não há caminho,
Porque para o justo não há lei;
Para si ele é a lei.

S. João da Cruz, Poesias Completas, tradução, prólogo e notas de José Bento, Lisboa, Assírio & Alvim, 1990, pp. 89-91.

 

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