Paul Cézanne, Mont Sainte-Victoire (1885-95)
Imagem daqui.
OS VERSOS SEGUINTES DECLARAM O MODO DE SUBIR PELA
SENDA AO MONTE DE PERFEIÇÃO, E ADVERTEM PARA NÃO IR PELOS DOIS CAMINHOS
TORTUOSOS
Para chegar a gostar de
tudo
não queiras ter gosto
em nada.
Para chegar a saber
tudo
não queiras saber algo
em nada.
Para chegar a possuir
tudo,
não queiras possuir
algo em nada.
Para chegar a ser tudo,
não queiras ser algo em nada.
Para chegar ao que não
gostas,
hás-de ir por onde não
gostas.
Para chegar ao que não
sabes,
hás-de ir por onde não
sabes.
Para chegar a possuir o
que não possuis,
hás-de ir por onde não
possuis.
Para chegar ao que não
és,
hás-de ir por onde não és.
Quando reparas em algo,
deixas de atirar-te ao
todo.
Para chegar de todo a
tudo,
hás-de afastar-te de
todo em tudo.
E quando chegues de
todo a ter,
hás-de tê-lo sem nada
querer.
Quando já não o queria,
tenho tudo sem querer.
Quanto mais eu tê-lo
quis,
com tanto menos me vejo.
Quanto mais buscá-lo
quis,
com tanto menos me vejo.
Quando menos o queria,
Tenho tudo sem querer.
Já por aqui não há
caminho,
Porque para o justo não
há lei;
Para si ele é a lei.
S. João da Cruz, Poesias Completas, tradução, prólogo e
notas de José Bento, Lisboa, Assírio & Alvim, 1990, pp. 89-91.
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