Cassiopeia, no céu.
Imagens daqui.
OS NOMES
Duas vezes se
morre:
Primeiro na carne,
depois no nome.
A carne desaparece, o
nome persiste mas
Esvaziando-se de seu
casto conteúdo
- Tantos gestos,
palavras, silêncios -
Até que um dia
sentimos,
Com uma pancada de
espanto (ou de remorso ?)
Que o nome querido já
nos soa como os outros.
Santinha nunca foi
para mim o diminutivo de Santa.
Nem Santa nunca foi
para mim a mulher sem pecado.
Santinha eram dois
olhos míopes, quatro incisivos claros à flor da boca.
Era a intuição rápida,
o medo de tudo, um certo modo de dizer «Meu Deus,
valei-me ».
valei-me ».
Adelaide não foi para
mim Adelaide somente
Mas Cabeleira de
Berenice, Inominata, Cassiopeia.
Adelaide hoje apenas
substantivo próprio feminino.
Os epitáfios também se
apagam, bem sei.
Mais lentamente,
porém, do que as reminiscências
Na carne, menos
inviolável do que a pedra dos túmulos.
Petrópolis,
28-2-1953
Manuel Bandeira, Poesia Completa e Prosa, Rio de Janeiro,
Editora Nova Aguilar S.A., 1990. pp.306-307
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