Tebas, Grécia.
UM TRABALHADOR, AO LER, PERGUNTA...
Quem construiu
a heptápila Tebas?
Nos livros há
só nomes de reis.
Foram os reis
quem transportou as pedras?
E a tantas
vezes destruída Babilónia –
Quem tantas
vezes a reconstruiu? E em que casas
De Lima, a
cintilante de ouro, os construtores moraram?
Para onde
foram, na tarde em que acabaram a Muralha da China,
Os alvanéis? A
grande Roma
Está cheia de
arcos triunfais. Quem os ergueu? E sobre quem
Triunfaram os
Césares? Tinha a celebrada Bizâncio
Só palácios
para os habitantes? Até na Atlântida fantástica
Gritava, na
noite em que o mar a engolia,
Quem se
afogava, pelos seus escravos.
O jovem
Alexandre conquistou as Índias.
Sozinho?
César bateu as
Gálias.
Não tinha com
ele sequer um cozinheiro?
Filipe de
Espanha chorou, quando a Armada
Foi ao fundo.
Mais ninguém chorou?
Frederico II
ganhou a Guerra dos Sete Anos. Quem a ganhou para ele?
Em cada página
uma vitória.
Quem cozinhou
o banquete triunfal?
Cada dez anos
um grande Homem.
Quem pagou a
conta?
Tantas
histórias.
Outras tantas
perguntas.
Bertolt Brecht, «Um trabalhador, ao ler, pergunta...», in Poesia do século XX, Antologia, tradução,
prefácio e notas de Jorge de Sena, Porto, ASA, 2001, p. 115
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