Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

quinta-feira, 13 de junho de 2013

POESIA E FILOSOFIA

Alexandre Roubtzoff, Manoubia
Imagem daqui.
 
 

“É do saber oriental a preferência pelas formas não-discursivas. O provérbio, o prolóquio, a sentença, o apotegma, o aforismo, o poema, ainda são os fascinantes relâmpagos que iluminam a escuridade do saber. A prova, tanto se acha na Índia, como em Israel, como na Arábia e, com efeito, o adagiário árabe é um longo colar de pérolas, dispostas como astros, em torno do sol, contendo em enigma iluminativo todas as experiências do saber. O adagiário português, onde se identificam os enigmas provenientes da sabedoria grega, da cultura latina e da moralidade hebraica, apresenta um depósito de provérbios e de aforismos orientais, cuja enumeração seria inoportuna, e cuja forma se tem mantido nesse plano de conhecimento adquirido nominado de «cultura popular». A medievalidade europeia imitou a antiguidade oriental nos métodos didácticos das crianças e dos adultos, valorando, não os grandes sermonários e as complexas sumas discursivas, mas as alegorias, os símbolos, os exemplos, as fábulas, os apólogos e os ditos, ou «grãos de bom senso». A faculdade imaginativa era viçosa na medievalidade (…). A mãe de família e os avós tinham, nessa escola doméstica, uma função parabolar e magistral e, no harém, os meninos aprendiam a ser adultos, educando simultaneamente a imaginação, a intuição e a razão. Muitos dos contos, mitos e ditos muçulmanos acham-se circunscritos à escola doméstica, ou palatina, de modo que os jovens, antes de iniciarem a aprendizagem mesquital e das artes e ofícios, já gozavam de algum saber bebido nas fontes populares, saber esse envolvido na roupagem do mito, do enigma e da poesia.
(…) A poesia serve de ponte entre a mística nativa e a filosofia grega, chega a exprimir uma atitude filosófica, a veicular um pensamento filosófico. Há poemas que resultam em exercícios paroxísticos e silogísticos, em paráfrases de ditos e feitos, em glosas das sunas e das suras.
A sensibilidade à flor da pele, a incansável intuição, o gesto de um pensamento que mais parece nascer no coração do que na cabeça, acham-se no teor e na estesia da poesia árabe, em que abundam os exemplos de poesia elegíaca, de poesia moral, ética, política, filosófica, os exemplos dos cantos de amor e de guerra, e, enfim, de uma crença em movimento expansivo.”


Pinharanda Gomes, História da Filosofia Portuguesa, 3- A Filosofia Arábigo-Portuguesa, Lisboa, Guimarães Editores, 1991, pp.210-211.


Sem comentários:

Enviar um comentário