"(...) História que se encontra no Livro das Mil e Uma Noites. (...) O protagonista é um pobre homem de Alexandria, no Egipto, que sonha que tem de ir à cidade de Ispahan, na Pérsia, onde lhe será revelado o lugar de um tesouro. Acorda na manhã seguinte, recorda-se do sonho e empreende sem hesitação a longa e perigosa viagem. Tem de atravessar selvas, mares, desertos, cidades heréticas e cidades cristãs, mas acaba por chegar a Ispahan e deita-se para dormir no pátio da mesquita. Pouco depois, surgem bandoleiros e mais tarde soldados que prendem todos. O pobre egípcio tem de comparecer perante o juiz que lhe pergunta quem é, ao que o homem responde que é egípcio e explica porque abandonou a pátria. Ao ouvi-lo, o magistrado ri às gargalhadas, ordena que lhe apliquem chicotadas e acrescenta: «Sonhei muitas vezes com um jardim no Egipto onde há um relógio de sol e uma figueira e, debaixo desta, um tesouro, mas nunca acreditei nessas superstições.» O egípcio é chicoteado e regressa a Alexandria. Quando chega a casa, vê que há um jardim com um relógio de sol e uma figueira com um tesouro por baixo. Para o encontrar, porém, foi necessário que conversasse com o juiz que recebera a notícia, ou seja, foram necessários dois sonhos."
Entrevista a Jorge Luís Borges: María Esther Vasquez, Eu, Borges - Imagens, Memórias, Diálogos, Lisboa, Editorial Labirinto, 1986, p.114.