"A
leitura enquanto viagem é uma metáfora muito antiga. Na Epopeia de Gilgamesh [poema
épico da Mesopotâmia], o poeta diz ao leitor logo no início para deixar o livro
e ir até à cidade de Uruk, entrar e subir à torre. No cimo da torre encontra
uma caixa que contém um poema que é o mesmo poema que está a ler. Ou seja, o
poema está a oferecer ao leitor parte do texto como uma parte literal e
enquanto se vai da página um à página dez vamos desenrolando as cenas que o
poeta nos quer mostrar. A metáfora começa cedo, mas estende-se a todos os tipos
de culturas de todos os tempos. Santo Agostinho comparava a leitura com a
viagem quando dizia que começamos em frente a uma paisagem que não conhecemos e
à medida que atravessamos o texto a paisagem começa a fazer parte do território
da nossa memória. A paisagem que habita a nossa memória expande-se e ganha cada
vez mais contornos à medida que a leitura avança. É uma metáfora muito
complexa.”
Alberto Manguel, a propósito do seu último livro, de 2013, The traveler, the tower, and the worm: the
reader as metaphor, numa entrevista concedida ao jornal Público, suplemento Ípsilon, sexta-feira, 20 de dezembro de 2013, pp.6-7.
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