Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

FELIZ ANO NOVO DE 2018!


Imagem daqui.




ANO NOVO

O mundo anunciou renovação
No desejo dum tempo solidário,
Outra flor a sonhar revolução
Na fogueira do nosso imaginário.

Pediram ano novo e salvação
Para haver um resgate doutrinário,
Muitos disseram ter premonição
Rasgando ao mundo em transe um véu lendário.

Há-de chegar a força da mudança,
A cavalo num pónei de esperança,
Saído do saber da alma humana.

Há-de chegar um sopro de igualdade,
Poisando sobre a nossa realidade,
Como um movimento do nirvana.

Olímpio dos Santos Moreira da Cunha, Sonetos de Amor e Outros Sentimentos - Odes Inquietantes, Porto, Edições Ecopy, 2012, p. 99.



sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

FELIZ NATAL!


Giotto di Bondone (1276-1337), Natividade (entre 1304 e 1306).





A CONSOADA

- As argolas, mãe? - perguntou, do catrezinho de bancos, a voz estremunhada da criança, que acordara ao rangido da porta.

- Dorme, rapariga... Não ficas sem a consoada... Teu pai ainda não chegou da feira.

A criança voltou-se no catre, ficou com os olhos abertos, encolhida e emudecida, fitando o fogo da caruma, quase extinto no lar, onde requentava a ceia do Natal.

Acocorada na soleira da porta, a mãe, embrulhada num xale, está à espreita, atenta ao menor rumor que vem da estrada.

Já por duas vezes, com o ramalhar das carvalhas ao vento, ela cuidou ouvir tropear ao longe a cavalgadura. Não se enxergava um palmo na escuridão da noite de lua nova. Nem um luzeiro de estrela trespassa agora aquele negrume denso que enche os espaços e por onde o vento anda à solta, varejando as carvalheiras das bouças e assobiando nas agulhas dos pinheiros como uma orquestra de flautas.

- Valha-me Deus! O que retém lá por fora aquele homem, a estas horas da noite! - murmura a mulher, sucumbida.

- Ó mãe, não haveria argolas na feira e terá o pai ido por elas à vila...

- Dorme, rapariga! Amanhã já tens as argolas nas orelhas... Por amor delas desandou o teu pai, sozinho na égua, por essa serra, que mete medo!

Eram a consoada da filha. A colheita em pão e vinho fora de dar graças a Deus. Não havia a pequena de ficar sem as argolas por mais tempo. Logo ao clarear da manhã, o Manuel da Eira selara a égua, entalara o varapau debaixo da coxa, lembrado da quadrilha de Redemoinhos, e pusera-se a caminho para a feira de Lanhoso, prometendo estar de volta ao amortecer do sol, para consoar.

Ainda a mulher advertira, receosa:

- Mete-te a a caminho cedo. Toma tento com a ladroagem de Redemoinhos!

E o Manuel da Eira, destemido, voltara-se no selim:

- Hoje é o dia em que nasceu o Salvador. Os ladrões também são gente cristã!

E picando a égua com a espora, abalara, afoito, pela estrada.

Já ao longe, na igreja da freguesia, os sinos tinham tocado para a missa do galo. Rajadas mais fortes de vento enchiam os céus de um burburinho sibilante e agitavam no alpendre os sarmentos das vides ainda por podar.

Súbito, a criança e a mãe ergueram-se no catre e no poial da porta.

Uma voz chama, de entre o negrume da noite:

- Ó s' Maria da Eira!

Sobre as traves, o vento parece que arrasta as telhas. Na corte, os porcos grunhem. Uma nuvem de cinzas ergue-se e rodopia no lar, sobre a caruma.

Sem pinga de sangue, a mulher grita, numa ansiedade aflita, empurrando a cancela:

- Quem me chama?

E entre o rumor do vento distingue a tropeada da égua, os passos vagarosos de dois homens.

- Traga a candeia... - torna a voz, na estrada.

A criança está já fora do catre, à espera das argolas, esfregando nas costas da mão os olhos foscos de sono.

Tropeçando na saia, a mulher desengancha a candeia da parede e, à luz mortiça, saindo ao terreiro, vê o seu homem, trazido a braços, como morto. Atrás do grupo fúnebre avança a égua trôpega.

Os homens param. O da frente, encarando com o desatino da mulher, resmoneia, esbaforido:

- Tome conta na luz! Não vamos agora ficar neste negrume! O homem vem vivo.

Só então ela parece acordar do seu doloroso espanto e soluça, erguendo para o céu ventoso os braços, deixando fugir o xale.

- Nossa Senhora! Divino amor de Deus, que estou desgraçada!

- Cale-se, mulher! Derreados vimos nós com este peso! Demos com ele numa vala, caído ao pé da égua. Foi pancada que lhe atiraram à falsa fé para o roubar.

Em altos gritos, ela empurra a porta, ajuda a deitar o seu homem no catre. A criança soluça, refugiada a um canto, sufocada pelo medo, e, enquanto a mulher rasga, com a violência do terror, uma camisa de linho para ligaduras, os dois homens lavam as mãos ensanguentadas num alguidar e atiçam o lume da lareira com um graveto de tojo.

Debalde a mulher agora esparge de vinagre o rosto desfigurado do ferido.

Com o braço pendente e as unhas cravadas na palma da mão direita, enlameado e lívido, o Manuel da Eira parece morto, estendido no catre.

- Ele já não tem vida! - clama, num alarido de lágrimas, a viúva, desanimando de abrir aquela mão crispada de defunto.

Os homens deixam de atiçar o braseiro, amparam-na e erguem-na do chão, onde ela se deixou cair desanimada, arrancando os cabelos, com um escarcéu de gritos e soluços.

- Os mortos não fecham as mãos. Isto é coisa que ele tem escondida.

Então, novamente, reconfortada por uma última esperança, ela esforça-se, mais do que em estancar o sangue das feridas, em abrir o punho obstinadamente fechado do seu homem.

Mas desfalece depressa e de novo abate, com a voz estrangulada de soluços maiores.

Por sua vez, os dois homens tentam, inutilmente, desunir da palma sangrenta os dedos inflexíveis.

- Pai, abra a mão! - geme também a criança, aterrada e aflita.

As suas mãozinhas molhadas de lágrimas imaginam ter a força, que aos outros falta, para despegar aquela garra.

- Abra a mão, pai!

E de repente, obedecendo à vozita implorante, a mão abre-se e duas argolas de oiro, pequeninas, aparecem, reluzem e tilintam no soalho.

Carlos Malheiro Dias, "A consoada", in Vinte Belos Contos de Natal, antologia organizada por Manuela Espírito Santo, Vila Nova de Gaia, Editora Ausência, 2004, pp. 59-62.



POESIA DE LUÍSA CORDEIRO (24)


O nosso Amor de Sempre..."

 
Eu conto as noites

e os dias

em que não te vejo,

e,

sinto nos meus lábios

o teu primeiro beijo...

e o último

que trocámos,

o leito

onde ficámos...

e o Amor

que fizemos,

é...,

o Amor que trazemos

dentro do nosso peito....


Luísa Cordeiro (assistente administrativa na ESJS)
 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

2018 - ANO EUROPEU DO PATRIMÓNIO CULTURAL


Imagens e outras informações aqui.



DA CONCISÃO XCIII


Henri-Joseph Harpignies (1819-1916), Clair de lune.



"(...) a Arte ajuda a deslocarmo-nos no meio do enigma, a encontrarmos carreiros no escuro, como as formigas."

Lídia Jorge, "O goleador de Deus", entrevista a Frei Bento Domingues, in Público, 28/ 09/ 2014.





quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

ARQUIVO DIGITAL DO LIVRO DO DESASSOSSEGO





A apresentação do Arquivo Digital Colaborativo do Livro do Desassossego (LdoD) será feita no dia 11 de janeiro de 2018, pelas 18h00, na Biblioteca Nacional de Portugal.



«O Arquivo Digital Colaborativo do Livro do Desassossego é apresentado na Biblioteca Nacional de Portugal pelos seus principais responsáveis (...).

O Arquivo LdoD contém imagens dos documentos autógrafos, novas transcrições desses documentos e ainda transcrições de quatro edições da obra de Fernando Pessoa. Além da leitura e comparação das transcrições, o sítio web do Arquivo permite que os utilizadores colaborem na criação de edições virtuais do Livro do Desassossego.

Através da integração de ferramentas computacionais num espaço simulatório, o Arquivo LdoD oferece um ambiente textual dinâmico, no qual os utilizadores podem desempenhar diferentes papéis literários. (...)»

Texto e imagem do sítio da Biblioteca Nacional de Portugal.



terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS, DE JOSÉ SARAMAGO

Imagem e todas as informações aqui.



O espetáculo "O Ano da Morte de Ricardo Reis" tem lugar no Palácio Nacional de Mafra.




segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

O GATO NO ANTIGO EGIPTO


A imagem e outras informações encontram-se aqui.



ROTA MEMORIAL DO CONVENTO


Imagem daqui.


 «A criação desta rota tem como objetivo "valorizar a notoriedade e a atratividade dos recursos patrimoniais e culturais dos concelhos e dos sítios onde os monumentos históricos e arquitetónicos classificados se localizam" e "criar uma oferta de novos nichos de turismo de cultura, com enfoque na componente literária."

A apresentação da Rota está inserida na comemoração dos 19 anos da entrega do Prémio Nobel de Literatura a José Saramago.»

Texto do sítio da Fundação José Saramago.


Iniciativa conjunta das Câmaras Municipais de Lisboa, Loures e Mafra.



sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

FEIO - FESTA DE ESCRITAS, IMPROVISOS E ORALIDADES


A imagem e todas as informações encontram-se aqui.



Palavras - NÓ GÓRDIO


Jean-Simon Berthélemy, Alexandre o Grande Corta o Nó Górdio (1767).
Imagem daqui.



O nó górdio é uma lenda que envolve o rei da Frígia e Alexandre, o Grande. É comummente usada como metáfora de um problema insolúvel (desatando um nó impossível) resolvido facilmente por um ardil astuto.

Conta-se que o rei da Frígia morreu sem deixar herdeiro, e que, ao ser consultado, o Oráculo lhe anunciou que o sucessor chegaria à cidade num carro de bois. A profecia foi cumprida por um camponês, de nome Górdio, que foi coroado. Para não esquecer o seu passado humilde, colocou a carroça no templo de Zeus, amarrando-a com um enorme nó a uma coluna. O nó era, na prática, impossível de desatar e por isso ficou famoso.

Górdio reinou por muito tempo e, quando morreu, o seu filho Midas assumiu o trono. Midas expandiu o império, mas não deixou herdeiros. O Oráculo foi ouvido novamente e declarou que quem desatasse o nó de Górdio dominaria o mundo.

Quinhentos anos se passaram sem que ninguém tivesse conseguido realizar esse feito, até que, em 334 a.C., Alexandre, o Grande ouviu essa lenda ao passar pela Frígia. Intrigado com a questão, dirigiu-se ao Templo de Zeus para observar o feito de Górdio. Após muito analisar, desembainhou a sua espada e cortou o nó. Lenda ou não, o certo é que Alexandre se tornou senhor de toda a Ásia Menor poucos anos depois.

É daí que deriva a expressão "cortar o nó górdio": resolver um problema complexo de maneira simples e eficaz.


Wikipédia (adapt.), daqui.



segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

DA CONCISÃO XCII


Imagem daqui.




"Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,"


Fernando Pessoa, excerto do poema XLVI de "O Guardador de Rebanhos", in Poemas de Alberto Caeiro, (nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor, Lisboa, Ática, 1993, p. 68.




quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

NARRATIVA E MEDICINA


A imagem e outras informações encontram-se aqui.



DA CONCISÃO XCI


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"Fernando Pessoa admitia várias personalidades durante um só dia, como numa peça teatral constante e sem limites."

Patrícia Fernandes, Aluna do 12º CT4 desta Escola.



quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

DA CONCISÃO XC


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"L'énergie, cette faculté de se précipiter dans l'inconnu."

Sylvain Tesson, Éloge de l'énergie vagabonde, Paris, Éditions des Équateurs, 2007, p. 228.




MIÚDOS, A VIDA ÀS MÃOS CHEIAS


A imagem e todas as informações encontram-se aqui.



segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

PALAVRA DO ANO 2017

A imagem e o acesso ao sítio da votação encontram-se aqui.


Até ao dia 31 de dezembro de 2017 poderá votar na palavra do ano.