José Régio (Vila do Conde, 1901-1969).
Imagem daqui.
"(...) Algum dia se reconhecerá como, tendo-nos adiantado tanto no exame do que nos cerca, ainda permanecemos acanhadíssimos, hoje, no exame de nós mesmos. Algum dia se compreenderá que a idolatria da Técnica - poderosa deusa recente - se alia ao preconceito do Colectivo - ídolo não menos actual - para embaraçarem neste adiantado meado de século um conhecimento que se me afigura essencial ao bom êxito seja de que reformas: o conhecimento do próprio indivíduo humano. Os avanços que em tal sentido se têm processado como que ficam logo detidos ou suspensos. Injusto seria, porém, lançarmos sobre a idolatria da Técnica ou do Colectivo o exclusivo da responsabilidade em tal nosso atraso. O próprio amor da ciência, que parece deverá ser continuamente progressivo, dir-se-ia impedir muitas vezes os sábios - certos sábios - de se aventurarem em qualquer inquietante região. Dir-se-ia que, para estes, ciência é só o já feito; ou em vias disso, quando muito. O que fora preciso esclarecer tendo às vezes de se começar pelo começo, e partindo com um espírito de aventura não incompatível com a exigência de rigor, - quase só fica, assim, deixado aos truques dos charlatães... ou às visões dos lunáticos; entre os quais os poetas. (...)"
José Régio, "Introdução a uma Obra (Posfácio 1969)" in Poemas de Deus e do Diabo, 13ª edição, Vila Nova de Famalicão, Edições Quasi, 2002, pp. 98-99.
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