Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

segunda-feira, 31 de julho de 2017

DA CONCISÃO LXXXIV


All concern demands for, and of, specific places, particularly moving between two places; all are about measuring or marking time, or the lapse of time; and about nature or the normal or the trivial; about coincidence, loneliness or separation, chance, and choice; about impressions you cannot put a word to; and all contain a moment of insight that has transformative power, and some fantastic thing that simply and blankly happens (a trick of the setting sun, a sudden onset of wind through high trees, an encounter); and about transcendence entering the everyday.

Stanley Cavell, "On Eric Rohmer's A Tale of Winter", Cavell on Film, Albany, State University of New York Press, 2005, p. 288.



sexta-feira, 28 de julho de 2017

O LADINO


Imagem daqui.




Quando os Judeus foram expulsos de Espanha e a seguir de Portugal emigraram para onde a fortuna ou o acaso os arrastou — para a Turquia, Servia, Bósnia, Bulgária, Palestina, Marrocos, como para os paises do Norte, França, Bélgica, Inglaterra, Hollanda, etc. A principio conservaram pura a lingua que fallavam — o espanhol ou o português — aquelle, porém, mais do que este; a breve trecho, como não podia deixar de ser, essa lingua começou a alterar-se, a decomporse, admittindo numerosas formas extranhas, deixando-se influenciar na sua phonetica, como na morphologia e na syntaxe pelas outras linguagens com que se encontrava em contacto.

 Formou-se assim uma espécie de dialecto em que os elementos predominantes sam o hebreu e o espanhol, a que se deu o nome de Idioma espanhol, ou Lingua castelhana, ou Lingua vulgar, ou Lingua Sephardi, ou ainda Judesmo ou Judeo-Espanhol, ou, enfim, como é mais conhecido, simplesmente — Ladino (...).

Uma das suas características é no que respeita á phonetica, por ex., a substituição do h por f  como em fijo por hijo, fablar por hablar, fambre por hambre, fermosa por hermosa, etc. Deu-se o mesmo phenomeno com o g. Diz-se em ladino agora por ahora. Nenhum auctor fez notar que estas trocas se explicam pela influencia do português. Quanto a nós não pode haver outra explicação do facto. Os judeos portugueses eram em menor numero, mas tinham a sua representação entre os emigrados bem accentuada por figuras distinctas nas letras ou na vida e regime da Synagoga. Estabelecer-se-hia assim inconscientemente uma lucta em que tinham de ficar vencidos os mais fracos. Entretanto um periodo de instabilidade de formas, de duplo emprego de termos, deveria existir.

É também frequente no ladino a mudança do n em m como muestros, muevo, mos, por nuestros, nuevo, nos. Ha a metathese do d antes do r em vedrad (verdad), pedrer (perder), vedre (verde), etc. Muitos termos são exclusivos deste dialecto, como meldar, frequentemente empregado, em vez de aprender, ler, meldador, isto é, leitor, prégador ; melda o mesmo que escola; darsar, (...) investigar, instruir, e que se emprega na significação de prégar, fazer um sermão, etc.

Os caracteres de que se serviram os Judeos na impressão das obras que saíram á luz em ladino são hebraicos, raras vezes latinos. Mas como os signaes dos dous alphabetos se não correspondem exactamente d'ahi as anomalias que se notam na transcripção e que nem sempre sam fáceis de descobrir. (...)

Joaquim Mendes dos Remédios, Os Judeus Portugueses em Amsterdam, Coimbra, F. França Amado Editor, 1911, pp. 149-151.



terça-feira, 25 de julho de 2017

ESCULTURA EM FILME


Lonnie Van Brummelen & Siebren De Haan, Monument to Another Man's Fatherland: Revolt of the Giants - reconstruído a partir de reproduções, 2008-2009.



Para ver na Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian, até dia 2 de outubro de 2017.



sexta-feira, 21 de julho de 2017

CASA AMADO E SARAMAGO NA FESTA LITERÁRIA DE PARATY


Imagem e todas as informações aqui.



POESIA E POETAS ANDALUSINOS II

Sevilha
Córdoba.
Granada.
Medina.
Judiaria.
Imagens daqui.




Nomearemos, por fim, três poetisas ligadas ao nosso território. Da princesa Buthayna (século XI), apenas nos chegou um único poema, em forma de epístola dirigida a seu pai, al-Mu'tamid, então já no exílio. Buthayna que, depois do desterro daquele, havia sido feita esvrava e vendida a um mercador, usa os versos para pedir autorização para casar com um filho do seu comprador. A qualidade do poema autoriza a pensar que este teria sido apenas um entre muitos dos que terá escrito.

Maryam al-Ansârî, natural de Silves (séculos X-XI), foi uma dessas numerosas intelectuais andalusinas que, além de poetisa, era mestra de literatura, tendo alcançado assinalável notoriedade na sociedade do seu tempo. (...)

Outro exemplo notável do protagonismo cultural e social das mulheres luso-árabes é-nos dado por uma poetisa do período almôada (século XII). Ficou conhecida para a posteridade apenas como al-Shilbîa (a Silvense), de tal modo a sua nomeada dispensava qualquer outra apresentação. Governava então o Alandalus o califa almôada Ya'qûb al-Mansûr e a cidade de Silves estava sobrecarregada de impostos. Pois a "Silvense" foi escolhida pelos seus concidadãos para, em nome da cidade, apresentar uma petição de protesto ao soberano. A poetisa elaborou para a circunstância um curto poema, tão belo de forma e eficaz de conteúdo que o pedido foi atendido e a carga fiscal levantada.

Não é demais sublinhar-se a altíssima conta em que era tido o talento literário entre os andalusinos. Os dotes poéticos valiam, quase sempre, ao seu possuidor a ascensão social pois, tarde ou cedo, um príncipe ou um mecenas haveria de reparar neles. (...) Os poetas árabes, para além da poesia amorosa, cultivavam quer a sátira quer o panegírico, o que lhes dava protagonismo e visibilidade suficientes para utilizarem, sobretudo a partir de finais do século X, o seu estro como modo de vida.

A poesia luso-árabe era, essencialmente, de cariz aristocrático. Com o tempo, «democratiza-se» e, a partir de finais do século X, os novos géneros estróficos (...) «descem à rua» trazidos pelos próprios poetas da corte. Servem de base a canções/ danças populares que, após a conquista cristã, influenciaram decisivamente as cantigas de amigo galaico-portuguesas, tal como já haviam influenciado as de amor de origem provençal. O ideal cavalheiresco, bem como o do amor cortês, têm uma inegável componente islâmica, com a sua natural repercussão nos topoi poéticos.


                                                                                                       Adalberto Alves, A Herança Árabe em Portugal, CTT Correios de Portugal, 2001, pp. 72-77.




quinta-feira, 20 de julho de 2017

POESIA E POETAS ANDALUSINOS I


Imagem daqui.




Entre todos os poetas luso-árabes, o mais universalmente conhecido, até porque foi rei de Sevilha e versos seus figuram nas Mil e Uma Noites, é, sem dúvida, al-Mu'tamid ibn 'Abbâd, de Beja (século XI). Ele cantou o seu cativeiro, após ser destronado pelos Almorávidas e enviado para o desterro em Âgmât (Marrocos), em versos pungentes, até à morte. Outro admirável poeta foi Abû Bakr ibn 'Ammâr, de Estômbar (Silves, século XI), amigo de al-Mu'tamid e seu grão-vizir, contra quem se viria a revoltar, proclamando-se independente em Múrcia. Por força de intrigas palacianas, a rebeldia de Ibn 'Ammâr acabaria por custar-lhe a vida às mãos de al-Mu'tamid num acesso de incontrolável fúria. Ibn 'Ammâr foi um importante protagonista político, utilizando um estilo requintado nos seus versos.

De Évora era Ibn 'Abdûn que, além de notável poeta, foi grande erudito: deu mostras da sua proverbial cultura numa célebre elegia sobre a morte do seu patrono, o emir de Badajoz.

Ibn Bassâm, de Santarém (século XII), é considerado uma das glórias da Literatura árabe, não só pela qualidade dos seus versos mas, muito especialmente, pela excepcional antologia comentada da poesia do Alandalus, que ele intitulou com toda a propriedade al-Dhakîra (Tesouro). Trata-se de uma recensão, de valor, de toda a produção neo-clássica da poesia do Alandalus, e a ela se deve ter sido salva uma considerável parte da posia luso-árabe, e andalusina, do seu tempo. Também de Santarém foi Ibn Sâra (séculos XI-XII), homem de independência de carácter, que nos deixou uma poesia dotada de grande poder evocador, através de metáforas audaciosas.

Ibn Darrâj al-Qastallî, de Cacela (séculos X-XI), escreveu na grande tradição da poesia árabe clássica, cultivando, com mestria, um estilo solene muito admirado no seu tempo.

Ibn Muqânâ (século XI) nasceu em Alcabideche, terra para onde voltou depois de uma vida errante ao serviço de vários senhores. Poeta reputado, abandonou voluntariamente a vida na corte para passar os seus últimos dias como camponês quase anónimo, trabalhando a terra em comunhão com a natureza.

(continua...)

Adalberto Alves, A Herança Árabe em Portugal, CTT Correios de Portugal, 2001, pp. 69-71.



terça-feira, 18 de julho de 2017

LISBOA


Imagem daqui.



LISBOA

Descei do céu para Lisboa, vindos de Nova York, e vereis a torre de Belém como um castelo de areia. Se o rio crescesse como cresce o mar, arrancava-lhe os dentes um a um. E ficava desdentada a bela torre; a sua lendária face deixava de ser a proa de Lisboa. E o velho do Restelo não sabia mais o que dizer nem onde se encostar.


Agustina Bessa-Luís, Caderno de Significados, selecção, organização e fixação de texto de Alberto Luís e Lourença Baldaque, Lisboa, Guimarães Editores, 2013, p. 57.



quarta-feira, 12 de julho de 2017

ENID BLYTON (1897-1868): 75 ANOS DE "OS CINCO"


Capa de Os Cinco e a Ciganita, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1957.
Imagem e informações detalhadas aqui.



Mostra patente na Biblioteca Nacional de Portugal, a partir de julho (data a anunciar) até 7 de outubro de 2017.



sexta-feira, 7 de julho de 2017

DA CONCISÃO LXXXIII


Imagem daqui.




"(...) a cultura é uma iniciação. E é-o porque tem a essência da iniciação - ser uma outra vida."

Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão, introdução e organização de Joel Serrão, Lisboa, Ática, 1980, p. 52.