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Escola Secundária José Saramago - Mafra

sexta-feira, 21 de julho de 2017

POESIA E POETAS ANDALUSINOS II

Sevilha
Córdoba.
Granada.
Medina.
Judiaria.
Imagens daqui.




Nomearemos, por fim, três poetisas ligadas ao nosso território. Da princesa Buthayna (século XI), apenas nos chegou um único poema, em forma de epístola dirigida a seu pai, al-Mu'tamid, então já no exílio. Buthayna que, depois do desterro daquele, havia sido feita esvrava e vendida a um mercador, usa os versos para pedir autorização para casar com um filho do seu comprador. A qualidade do poema autoriza a pensar que este teria sido apenas um entre muitos dos que terá escrito.

Maryam al-Ansârî, natural de Silves (séculos X-XI), foi uma dessas numerosas intelectuais andalusinas que, além de poetisa, era mestra de literatura, tendo alcançado assinalável notoriedade na sociedade do seu tempo. (...)

Outro exemplo notável do protagonismo cultural e social das mulheres luso-árabes é-nos dado por uma poetisa do período almôada (século XII). Ficou conhecida para a posteridade apenas como al-Shilbîa (a Silvense), de tal modo a sua nomeada dispensava qualquer outra apresentação. Governava então o Alandalus o califa almôada Ya'qûb al-Mansûr e a cidade de Silves estava sobrecarregada de impostos. Pois a "Silvense" foi escolhida pelos seus concidadãos para, em nome da cidade, apresentar uma petição de protesto ao soberano. A poetisa elaborou para a circunstância um curto poema, tão belo de forma e eficaz de conteúdo que o pedido foi atendido e a carga fiscal levantada.

Não é demais sublinhar-se a altíssima conta em que era tido o talento literário entre os andalusinos. Os dotes poéticos valiam, quase sempre, ao seu possuidor a ascensão social pois, tarde ou cedo, um príncipe ou um mecenas haveria de reparar neles. (...) Os poetas árabes, para além da poesia amorosa, cultivavam quer a sátira quer o panegírico, o que lhes dava protagonismo e visibilidade suficientes para utilizarem, sobretudo a partir de finais do século X, o seu estro como modo de vida.

A poesia luso-árabe era, essencialmente, de cariz aristocrático. Com o tempo, «democratiza-se» e, a partir de finais do século X, os novos géneros estróficos (...) «descem à rua» trazidos pelos próprios poetas da corte. Servem de base a canções/ danças populares que, após a conquista cristã, influenciaram decisivamente as cantigas de amigo galaico-portuguesas, tal como já haviam influenciado as de amor de origem provençal. O ideal cavalheiresco, bem como o do amor cortês, têm uma inegável componente islâmica, com a sua natural repercussão nos topoi poéticos.


                                                                                                       Adalberto Alves, A Herança Árabe em Portugal, CTT Correios de Portugal, 2001, pp. 72-77.




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