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Escola Secundária José Saramago - Mafra

sexta-feira, 28 de julho de 2017

O LADINO


Imagem daqui.




Quando os Judeus foram expulsos de Espanha e a seguir de Portugal emigraram para onde a fortuna ou o acaso os arrastou — para a Turquia, Servia, Bósnia, Bulgária, Palestina, Marrocos, como para os paises do Norte, França, Bélgica, Inglaterra, Hollanda, etc. A principio conservaram pura a lingua que fallavam — o espanhol ou o português — aquelle, porém, mais do que este; a breve trecho, como não podia deixar de ser, essa lingua começou a alterar-se, a decomporse, admittindo numerosas formas extranhas, deixando-se influenciar na sua phonetica, como na morphologia e na syntaxe pelas outras linguagens com que se encontrava em contacto.

 Formou-se assim uma espécie de dialecto em que os elementos predominantes sam o hebreu e o espanhol, a que se deu o nome de Idioma espanhol, ou Lingua castelhana, ou Lingua vulgar, ou Lingua Sephardi, ou ainda Judesmo ou Judeo-Espanhol, ou, enfim, como é mais conhecido, simplesmente — Ladino (...).

Uma das suas características é no que respeita á phonetica, por ex., a substituição do h por f  como em fijo por hijo, fablar por hablar, fambre por hambre, fermosa por hermosa, etc. Deu-se o mesmo phenomeno com o g. Diz-se em ladino agora por ahora. Nenhum auctor fez notar que estas trocas se explicam pela influencia do português. Quanto a nós não pode haver outra explicação do facto. Os judeos portugueses eram em menor numero, mas tinham a sua representação entre os emigrados bem accentuada por figuras distinctas nas letras ou na vida e regime da Synagoga. Estabelecer-se-hia assim inconscientemente uma lucta em que tinham de ficar vencidos os mais fracos. Entretanto um periodo de instabilidade de formas, de duplo emprego de termos, deveria existir.

É também frequente no ladino a mudança do n em m como muestros, muevo, mos, por nuestros, nuevo, nos. Ha a metathese do d antes do r em vedrad (verdad), pedrer (perder), vedre (verde), etc. Muitos termos são exclusivos deste dialecto, como meldar, frequentemente empregado, em vez de aprender, ler, meldador, isto é, leitor, prégador ; melda o mesmo que escola; darsar, (...) investigar, instruir, e que se emprega na significação de prégar, fazer um sermão, etc.

Os caracteres de que se serviram os Judeos na impressão das obras que saíram á luz em ladino são hebraicos, raras vezes latinos. Mas como os signaes dos dous alphabetos se não correspondem exactamente d'ahi as anomalias que se notam na transcripção e que nem sempre sam fáceis de descobrir. (...)

Joaquim Mendes dos Remédios, Os Judeus Portugueses em Amsterdam, Coimbra, F. França Amado Editor, 1911, pp. 149-151.



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