Eugénio de Andrade, por Bottelho.
Imagem daqui.
"Pego no papel e começo a escrever, abandonando-me perfeitamente ao ritmo das palavras, às próprias palavras. E quando paro volto a reler tudo o que escrevi, e nessa altura há um verso que salta. Pego noutra folha de papel e começo, abro com esse verso que apareceu. Então aí as palavras começam a chamar-se umas às outras, o poema começa realmente a organizar-se e é uma luta, quase corpo a corpo, que dura às vezes horas, a tarde inteira. E se tiver sorte chego ao fim da tarde com um poema, ou assim me parece. Levo isso à noite para a cabeceira e na manhã seguinte, em regra, também de uma maneira geral, inutilizo tudo o que escrevi. Mas qualquer coisa fica na memória porque depois recomeço a escrever, com algumas alterações já, e vou assim perseguindo o poema, às vezes durante uma semana. E persigo até o poema de edição para edição."
Eugénio de Andrade
Textos e Pretextos - Eugénio de Andrade, Centro de Estudos Comparatistas e Fundação Eugénio de Andrade, número cinco, inverno de 2004, p. 118.
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