Gregório de Matos (1633-1696).
Imagem daqui.
Retrata o poeta as perfeições de sua Senhora a imitação
de outro soneto que fez Felippe IV a uma dama somente
com traduzi-lo na língua portuguesa.
Se há-de ver-vos, quem há-de retratar-vos,
E é forçoso cegar, quem chega a ver-vos,
Se agravar meus, olhos, e ofender-vos,
Não há-de ser possível copiar-vos.
Com neve, e rosas quis assemelhar-vos,
Mas fora honrar as flores, e abater-vos:
Dois zéfiros por olhos quis fazer-vos,
Mas quando sonham eles de imitar-vos?
Vendo, que a impossíveis me aparelho,
Desconfiei da minha tinta imprópria,
E a obra encomendei a vosso espelho.
Porque nele com Luz, e cor mais própria
Sereis (se não me engana o meu conselho)
Pintor, Pintura, Original, e Cópia.
Gregório de Matos, "Se há-de ver-vos, quem há-de retratar-vos", in Os Mais Belos Poemas Portugueses Escolhidos por Vinte e Cinco Poetas, vol. I, organização, introdução e notas de Luís Adriano Carlos, Modo de Ler, 2017, p. 291.
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