“Um
homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: -
todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato
e falso que denuncia logo o estrangeiro. Na língua verdadeiramente reside a
nacionalidade; - e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da
Europa vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o
especial e exclusivo encanto da fala materna com as suas influências afectivas, que o envolvem, o isolam das outras
raças; e o cosmopolitismo do verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do
carácter. Por isso o poliglota nunca é patriota. Com cada idioma alheio que
assimila, introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos
alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo. Rue
de Rivoli, Calle d’Alcalá, Regent Street, Wilhelm Strasse – que lhe importa?
Todas são ruas, de pedra ou de macadame. Em todas a fala ambiente lhe oferece
um elemento natural e congénere onde o seu espírito se move livremente,
espontaneamente, sem hesitações, sem atritos. E como pelo verbo, que é o
instrumento essencial da fusão humana, se pode fundir com todas – em todas
sente e aceita uma pátria.”
Eça de Queiroz, A Correspondência de Fradique Mendes,
Lisboa, Edição Livros do Brasil, s/d, pp.130-131.
Sem comentários:
Enviar um comentário