El Greco (1541-1614), Adoração dos Pastores (1612-1614).
Imagem daqui.
O NATAL DA INFÂNCIA
Ah como se alongava a província Natal
com distritos de luz dentro do Novo Ano
Vinha já de mais longe um perfume lunar
Começava em Novembro a toilette dos Anjos
No mapa da Europa a Suiça a Suécia
ganhavam posições de repente invejáveis
Andava-se na rua à procura de neve
A neve dos postais arquivava-se em casa
E brincava connosco o menino Jesus
mesmo antes da noite em que tinha nascido
Mas ninguém se atrevia a tratá-lo por tu
Era de todos nós o menino mais rico
As prendas que nos dava. E fingia-se pobre
Adorávamos nele o amor do teatro
o dom de liberdade e da metamorfose
Sorríamos de quem nos dissesse o contrário
1964
David Mourão-Ferreira, Obra Poética, 1948-1988, Lisboa, Editorial Presença, 2006, p. 224.
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