Frei Luís de Granada, por Francisco Pacheco, no Libro de descripción de verdaderos retratos, ilustres y memorables varones (1599).
"FREI LUÍS DE GRANADA
Se visitardes um dia, em Lisboa, a Igreja de S. Domingos (e quem vai visitá-la, se é morta e queimada como clareira de floresta sem árvores, frutos e fontes limpas?), no que foi a antecâmara da capela-mor, encontrareis o túmulo de Frei Luís de Granada. É de mármore branco com jaspes embutidos de cores variadas, mais baços do que reluzentes. Os ossos que contém são dum homem que o povo de Lisboa amou com paixão; tanto lhe pretendeu as relíquias, até os dentes, que eram poucos e desolados na boca maviosa, que foi preciso defender-lhe o cadáver a ponta de punhal.
Dois nobres portugueses o escoltaram até ao antecoro do convento de S. Domingos, onde ficou quase meio século. Já se armavam as conspirações com que o reino se libertou dos Filipes, quando, com esmolas dos fiéis, se levantou a arca em que jaz Frei Luís.
Mas perdeu-se a memória de tão grande predicador."
Agustina Bessa-Luís, Caderno de Significados, selecção, organização e fixação de texto de Alberto Luís e Lourença Baldaque, Lisboa, Guimarães Editores, 2013, pp. 50-51.
Sem comentários:
Enviar um comentário