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Escola Secundária José Saramago - Mafra

segunda-feira, 30 de maio de 2016

DO NOME VIII


Edward Burne-Jones (1833-1898), O Jardim das Hespérides.
Imagem daqui.



«Na tradição escolar instaurada por Dozy, o nome "al Andaluz" - que, até prova em contrário, aparece escrito pela primeira vez como denominação da Hispânia num dinar cunhado em 716 (...) - é relacionado com os Vândalos, pressupondo que a Bética teria sido chamada, ocasionalmente, "Vandalicia". Muito recentemente, no entanto, J. Vallvé (...) levantou uma hipótese que nos parece mais verosímil. Segundo esse autor, a origem da palavra deve relacionar-se com o velho mito da Atlântida, criado ou veiculado por Platão e que entrou no imaginário mediterrânico. É, pois, de considerar que a expressão "Jazirat-al-Andaluz", "a ilha de al Andaluz", adoptada pelos textos clássicos árabes, seja simplesmente a tradução-adaptação de "ilha do Atlântico" ou "Atlântida". Repare-se que na palavra "alándaluç" o acento recaía na antepenúltima sílaba e não na última, como hoje acontece (...).

Quando Al-Razi, e, com ele, a maioria dos historiadores e geógrafos árabes, se refere aos primeiros habitantes da Península Ibérica indica os "al-andlis", ou então um "al-andlis", filho de Tubal, filho de Jafet, filho de Noé. Com Hércules, Atlantes e Atlântida, a mitologia greco-romana prolonga-se pela historiografia árabe, que, afinal, é a sua principal e por vezes única herdeira. A Península Ibérica, avistada como uma ilha para quem vem da costa africana, foi certamente a origem e o objecto do mito dourado da Atlântida. Se tivermos em conta que, para o oriente mediterrânico e desde as primeiras aventuras dos marinheiros de Tiro, a Ibéria era o país das ninfas do poente, o jardim dos pomos de ouro das hespérides, não é difícil ligar a palavra "al Andaluz" a uma criação culta, que vem dar corpo a tradições veiculadas pelos mercadores levantinos. O que interessa notar é que, a partir de princípios do século VIII d. C., as convulsões e conquistas militares que abalaram a Ibéria não só introduziram uma nova denominação da Península Ibérica, como esta vai encontrar a sua fundamentação em velhos mitos, originários e alimentados no outro extremo do Mediterrâneo. Depois de um aparente hiato histórico em que a Hispânia goda se vira para si própria, o surgimento do al Andaluz é como que um regressar ao velho seio mediterrânico, sob a chancela dos seus antigos e prestigiados esteios intelectuais."

Cláudio Torres e Santiago Macias, "O Gharb al-Andalus", in História de Portugal (José Mattoso), Lisboa, Círculo de Leitores, vol. I, p. 363.


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