Imagem daqui.
«(...) Entre Machado de Assis e Eça de Queiroz sempre preferi o português ao nosso grande mulato. "Ah... porque o Machado é bem mais sutil!..." - diz-se, comparando-se, por exemplo Capitu à Luiza do "Primo Basílio" (que o próprio Machado, ciumento, acusou de plágio da "Eugenie Grandet"). "Ahhh!... porque o Machado tem mais níveis de significação, mais complexidade psicológica etc. e tal..." É verdade. Hoje, eu também acho. O grande Machado atingiu subtons que Eça nem tentou, por escolha. Machado é mais inglês (Sterne, Dickens); Eça é saído das costelas de Balzac e Zola e funda uma literatura caricatural contra as perdidas ilusões ibéricas, com um riso deslavado, com uma proposital "falta de sutileza" que resulta depois finíssima. Eça cria um realismo quase carnavalizado, sem anseios de transcendência. Machado é mais "nauseado". Deixa-se envolver por um pessimismo que o claro riso de Eça recusa. O "tipo" eciano não tem grande "complexidade"; mas isso talvez seja o que a nossa mediocridade social merece. Ele não cria personagens com uma psicologia sofisticada. Para ele, somos mesmo "tipos". Como em seu neto Nelson Rodrigues, há nele uma superficialidade "profunda", muito atual neste tempo em que os valores idealizados caíram no chão. Eça é um escritor político. (...)»
Arnaldo Jabor, "Eça e Machado nos previram", in jornal O Globo, Brasil, 10/ 05/ 2016.
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