Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

2016... FELIZ ANO NOVO!


Imagem daqui.



"Quero um erro de gramática que refaça
na metade luminosa o poema do mundo,
e que Deus mantenha oculto na metade nocturna
o erro do erro (...)"

Herberto Helder, Poemas Completos, Porto, Porto Editora, 2014, p. 521.


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O CINEMA DE LUBITSCH


Ernst Lubitsch (1892-1947).
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"Há duas espécies de cineastas, e é igual para os pintores e os escritores; há os que trabalhariam até numa ilha deserta sem público e os que renunciariam em nome de uma pergunta: para quê? Logo, nada de Lubitsch sem público, mas atenção, o público não está para lá da criação, está com ela, faz parte do filme. Na banda sonora de um filme de Lubitsch, há o diálogo, os ruídos, a música, e há os nossos risos; são essenciais, senão não haveria filme. As prodigiosas elipses do argumento só funcionam porque os nossos risos estabelecem uma ponte de uma cena para outra. No queijo gruyère Lubitsch, cada buraco é genial.

Usada a torto e a direito, a palavra encenação significa finalmente alguma coisa; aqui, é um jogo que só pode ser praticado a três, e apenas enquanto decorrer a projecção. Quem são esses três? Lubitsch, o filme e o público."

François Truffaut, Os Filmes da Minha Vida, Lisboa, Orfeu Negro, 2015, pp. 70-71.



quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

FELIZ NATAL!

El Greco (1541-1614), Adoração dos Pastores (1612-1614).
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O NATAL DA INFÂNCIA

Ah como se alongava a província Natal
com distritos de luz dentro do Novo Ano
Vinha já de mais longe um perfume lunar
Começava em Novembro a toilette dos Anjos

No mapa da Europa a Suiça a Suécia
ganhavam posições de repente invejáveis
Andava-se na rua à procura de neve
A neve dos postais arquivava-se em casa

E brincava connosco o menino Jesus
mesmo antes da noite em que tinha nascido
Mas ninguém se atrevia a tratá-lo por tu
Era de todos nós o menino mais rico

As prendas que nos dava. E fingia-se pobre
Adorávamos nele o amor do teatro
o dom de liberdade e da metamorfose
Sorríamos de quem nos dissesse o contrário

1964

David Mourão-Ferreira, Obra  Poética, 1948-1988, Lisboa, Editorial Presença, 2006, p. 224.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

SUGESTÃO DE LEITURA (38)



REGRESSO

Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!

Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.

Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.

                                                        Miguel Torga (1951)

DA SAUDADE XVII

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"SAUDADE

Saudade - uma vida cheia
de outra vida que passou.
- Marcas de passos na areia
que o tempo não apagou..."

Ferreira Gullar, "Trovas", in Poesia Completa, Teatro e Prosa, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 2008, p. 512.



sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

DA CONCISÃO LXV

Sandro Botticelli (1445-1510), O Nascimento de Vénus (1485-1486).
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"Os valentes, ajuda-os a própria Vénus."

Tibulo, Poemas, Lisboa, Livros Cotovia, 2015, p. 52.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O DEVER DE TER DIREITOS


D. João I, eleito rei de Portugal nas segundas Cortes de Coimbra.
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"Na Crónica de D. João I, Fernão Lopes mostra o povo com um sentimento nacional e com o dever de ter direitos."


Ana Margarida Simões, Aluna do 10º CT5 desta Escola.



terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O POETA CONSTIPA-SE

Imagem daqui.



Tenho uma grande constipação,

E toda a gente sabe como as grandes constipações

Alteram todo o sistema do universo,

Zangam-nos contra a vida,

E fazem espirrar até à metafísica.

Tenho o dia perdido cheio de me assoar.

Dói-me a cabeça indistintamente.

Triste condição para um poeta menor!

Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.

O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!

As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.

Não estarei bem se não me deitar na cama.

Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!

Preciso de verdade e da aspirina.


Fernando Pessoa, Poesias de Álvaro de Campos, Lisboa: Ática, 1993, p. 48.

NATAL NA BIBLIOTECA


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

LUGAR-COMUM


Salvador Dali (1904-1989), A Persistência da Memória (1931).



"(...) O tempo pode resumir-se numa fórmula, digamos, matemática: p > f, em que p é o passado e f o futuro. O sinal  > é transição e passagem, um V que se deitou no sonho impossível de tornar eterno o fugaz. Se o levantarmos de seu sono, V é vento que foge, vela que se derrete, vaga que adonda e se desfaz, vertigem, voragem, vómito de lava de vulcão que sepulta cidades inteiras... Tudo isto é sabido e a que se costuma chamar lugar-comum. Os poetas de todos os tempos o sentiram e o pintor, que se apressa com suas tintas e pincéis a fixar um pôr de sol que está a desaparecer sobre o mar, o escultor que arranca ao seio do mármore a beleza de um momento... (...)."


Fernando Campos, A Loja das Duas Esquinas, Lisboa, Divina Comédia Editores, 2014, p. 101.



sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

ARE THE BEST THINGS IN LIFE FREE?


Richard Hell (Rebecca Smeyne), daqui.



"(...) I've learned that once you get what you want , you will just want either a greater amount of it, or you will want something else. The best thing to have is a vocation - to like doing something rather than having something. Because then the wanting more is just about to be able to do it better, and that actually pays off."

Richard Hell, "Are the best things in life free?", in The New York Times, 10/ 12/ 2015


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

SENDO NÓS PORTUGUESES, CONVÉM SABER O QUE É QUE SOMOS


Imagem daqui.


Sendo nós portugueses, convém saber o que é que somos.
a) adaptabilidade, que no mental dá a instabilidade, e portanto a diversificação do indivíduo dentro de si mesmo. O bom português é várias pessoas.
b) a predominância da emoção sobre a paixão. Somos ternos e pouco intensos, ao contrário dos espanhóis — nossos absolutos contrários — que são apaixonados e frios.
Nunca me sinto tão portuguesmente eu como quando me sinto diferente de mim — Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Fernando Pessoa, e quantos mais haja havidos ou por haver.


Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Ática, 1966, p. 94.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

CARTA DE AMADEO DE SOUZA-CARDOSO


Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), Avant la corrida (1912)
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     "Paris - 1908
      Minha querida maman:
      Hoje de manhan, quando os meus dedos rasgaram o envelope da sua carta, eu não esperava nada uma correção tão violenta.
      Mas que fiz eu, minha Maman, para tão formidavel sova? - Eu não assassinei, não roubei, o proximo não se queixa de mim com razões e a minha consciencia todos os dias me diz que subiu mais um degrau de perfeição. Não quero com isto defender os meus erros, pois já nossos paes, os latinos, diziam  «errare humanum est» - errar é humano.
      Se eu lhe disser que os erros tem tanto valor como as virtudes, digo um sacrilegio aos seus ouvidos, mas afinal só pronuncio uma verdade. O erro é o fundo em que se destaca uma virtude, e a virtude seria inapreciada se o erro não existisse.
      E de que me acusa a minha mãe? - De eu não ser a creatura que ella deseja. Porventura isto é uma falta propositada, voluntaria da minha parte? Não.
      Ao contrário, eu queria bem ser o que ella quer que eu seja para lhe dar um maior grau de felicidade! Mas que fazer! Todas as creaturas vêm ao mundo para seguir um destino proprio. É por isto que todos os filhos dão às mães uma suprema felicidade e uma incomparavel dor. Uma felicidade porque são os filhos do seu ventre, uma dor porque são creaturas que ella não pode guiar na vida ao seu desejo.
      Ah! e que acusações candidas me faz a minha maman.
      Porque é que a minha vida tem sido todas um fiasco? Por não estar incorporado na firma R. Cunha? Por varios acontecimentos que me tem sucedido, e que eu tanto considero porque são lições de vida? Mas que haverá de fiasco na minha existencia?
      Eu quando a consulto, acho-a, ao contrario, rasoavel e util porque consegui libertar-me dos meios de vida burgueza, tacanha de espirito e sentimento, em que eu estava embrenhado numa revolta. Neste ponto de vista eu sinto grandes duas creaturas que estavam a amparar-me e sinto-me grande eu proprio. Esses dois seres são meu Pae e minha mãe que me deixaram escolher livremente a minha forma de vida e me deram as mãos para ajudar os meus passos. Se eu não conseguisse livrar-me, se eu não vivesse na vida da arte, a vida de espirito e de alma, a suprema vida da perfeição, ah, minha mãe, eu, o seu filho. seria sempre um homem torturado, de existencia falha, e poderia então pronunciar tristemente: «a vida dum ser que eu creei, antes não houvesse creado - é um fiasco».
      (...). A minha vida poderá ser para os outros qualquer coisa de idiota; eu porém estou convencido que vivo numa profunda vida de arte - e estou contente. (...)"

(Foi mantida a grafia original.)


Carta de Amadeo de Souza-Cardoso à mãe, Paris, 1908. Espólio da Família Sousa Cardoso. In Amadeo de Souza-Cardoso - Fotobiografia, catálogo raisonné, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007, p. 81-83.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

DEIXA-ME SER FELIZ (IX)



Fotografias de Fátima Pinheiro e Laurinda Mafra

No espaço da biblioteca, a jovem escritora Cristiana Vicente Martins contou a sua história de vida. As suas palavras ficarão certamente na memória dos alunos que participaram na sessão de apresentação do livro Deixa-me Ser Feliz

Obrigada, Cristiana!

V PRÉMIO LITERÁRIO ALDÓNIO GOMES 2016 - CATEGORIA: NARRATIVA JUVENIL


Imagem e todas informações aqui.


MAGNA CARTA - SIGNIFICADOS

A imagem e o programa encontram-se aqui.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

DEIXA-ME SER FELIZ (VIII)



Amanhã, dia 4 de dezembro,  pelas 10h15, na BE, Cristiana Vicente Martins apresentará o seu livro Deixa-me Ser Feliz.

Não perca!

 

A ARTE SEGUNDO BERNARDO SOARES


Paul Delaroche (1797-1856), La jeune martyre (1855).
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"A arte é um esquivar-se a agir, ou a viver. A arte é a expressão intelectual da emoção, distinta da vida, que é a expressão volitiva da emoção. O que não temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuí-lo em sonho, e é com esse sonho que fazemos arte. Outras vezes a emoção é a tal ponto forte que, embora reduzida à acção, a acção, a que se reduziu, não a satisfaz; com a emoção que sobra, que ficou inexpressa na vida, se forma a obra de arte. Assim, há dois tipos de artista: o que exprime o que não tem, e o que exprime o que sobrou do que teve."

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, Composto por Bernardo Soares, Ajudante de Guarda-Livros na cidade de LIsboa, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 9ª edição, 2011, p. 234.



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

"BRIC-À-BRAC"


Imagem daqui.



"Quem passe num dia de chuva numa rua principal da província verá, através das vitrines embaciadas, um amontoado de coisas que brilham e que parecem atiradas para ali para estarem arrumadas, e não para serem expostas. São jarras de loiça e canecas com pinturas regionais e frases típicas ou provérbios; são imagens de santos e de padres famosos pela sua beatitude; são dançarinas, ciganas, cupidos e fontes com pombas e grinaldas; são placas com sentenças e conselhos, andorinhas pintadas dum negro fuliginoso; lâmpadas de cabeceira, ferros eléctricos com mudanças de calor e borrifadores, crucifixos, espelhos com motivos Mary Quant, estojos de toda a espécie, tabuleiros, grelhadores, loiça inglesa, almofadas, pratinhos para copos, sábios chineses e potes para chá, tacinhas de cobre, de pó de mármore, de madeiras de buxo. E estanhos, ao gosto medieval, em forma de gomil, de bacia de barbeiro, de pratos que parecem dignos de Carlos Magno, com pedras embutidas. Tudo isso vem de toda a parte, com guias alfandegárias ou de contrabando, coisas destinadas mais ao desejo ocioso, do que à necessidade das diferentes fortunas. Um povo inteiro, muitos povos estão representados nessas coisas. Elas representam, de facto, a felicidade como atitude - e não há talvez outra, nem mais barata nem mais inteligível. (...)"

Agustina Bessa-Luís, Crónica do Cruzado Osb., 1ª edição 1976, Lisboa, Guimarães Ed., 2015, p. 136.



terça-feira, 1 de dezembro de 2015

DA CONCISÃO LXIV


Charles Meynier (1768-1832), Apolo, deus da Luz, Eloquência, Poesia e Arte, com Urânia, musa da Astronomia (1789-1800).
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"O pensamento pode ter elevação sem ter elegância, e, na proporção em que não tiver elegância, perderá a acção sobre os outros. A força sem a destreza é uma simples massa."

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, Composto por Bernardo Soares, Ajudante de Guarda-Livros na cidade de LIsboa, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 9ª edição, 2011, p. 259.