Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

quarta-feira, 28 de março de 2018

NOS BASTIDORES DA CRIAÇÃO LITERÁRIA





«Les règles du jeu: tout apprendre, tout lire, s'informer de tout, et, simultanément, adapter à son but les Exercices d'Ignace de Loyola ou la méthode de l'ascète hindou qui s'épuise, des années durant, à visualiser un peu plus exactement l'image qu'il crée sous ses paupières fermées. Poursuivre à travers des milliers de fiches l'actualité des faits; tâcher de rendre leur mobilité, leur souplesse vivante, à ces visages de pierre. Lorsque deux textes, deux affirmations, deux idées s'opposent, se plaire à les concilier plutôt qu'à les annuler l'un par l'autre; voir en eux deux facettes différentes, deux états successifs du même fait, une réalité convaincante parce qu'elle est complexe, humaine parce qu'elle est multiple. Travailler à lire un texte du IIe siècle avec des yeux, une âme, des sens du IIe siècle; le laisser baigner dans cette eau-mère que sont les faits contemporains; écarter s'il se peut toutes les idées, tous les sentiments accumulés par couches successives entre ces gens et nous. Se servir pourtant, mais prudemment, mais seulement à titre d'études préparatoires, des possibilités de rapprochements ou de recoupements, des perspectives nouvelles peu à peu élaborées par tant de siècles ou d'événements qui nous séparent de ce texte, de ce fait, de cet homme; les utiliser en quelque sorte comme autant de jalons sur la route du retour vers un point particulier du temps. S'interdire les ombres portées; ne pas permettre que la buée d'une haleine s'étale sur le tain du miroir; prendre seulement ce qu'il y a de plus durable, de plus essentiel en nous, dans les émotions des sens ou dans les opérations de l'esprit, comme point de contact avec ces hommes qui comme nous croquèrent des olives, burent du vin, s'engluèrent les doigts de miel, luttèrent contre le vent aigre et la pluie aveuglante et cherchèrent en été l'ombre d'un platane (...).»

Marguerite Yourcenar, "Carnets de notes de Mémoires d'Hadrien", in Oeuvres Romanesques, Paris, Gallimard, 2003, pp. 528-529.




terça-feira, 27 de março de 2018

POESIA DE LUÍSA CORDEIRO (27)


"Desassossego"

Turbilhão...

folha ao vento,

descomandado pensamento,

Alma agitada,

descompassado coração.

Sobre o rochedo,

olho as vagas

que teimam em me levar,

olhar vago,

sem deixar de as fitar,

o meu espírito

une-se ao mar

em turbilhão.

E neste desassossego,

meu coração por ti cego, 

todo ele é saudade,

todo ele é amor,

amor...

em turbilhão.

Descrição: https://ssl.gstatic.com/ui/v1/icons/mail/images/cleardot.gif
Luísa Cordeiro

sexta-feira, 23 de março de 2018

RÓMULO DE CARVALHO E A ARTE DE EDUCAR


Imagem daqui.




«É a aprendizagem a marca da civilização, e é do despertar das consciências e do transmitir de saberes que depende a vivência da cultura. Com que zelo, com que amor sincero, como confessava seu filho Frederico, Rómulo se encarregava de ensinar (a começar na própria casa), nunca como monólogo, mas como autêntico diálogo. Não se tratava, porém, de descer até ao jovem aprendente, mas sim de o elevar ao conhecimento maduro, com a preocupação da clareza e do gradualismo. Para o mestre, haveria sempre que saber dar os passos necessários para chegar ao conhecimento e à compreensão. "Estimular é saber tirar proveito das coisas, saber encantar, digamos, pôr as coisas em relevo, mesmo as coisas insignificantes".

Para Rómulo de Carvalho (RC), o experimentado docente, "o professor tem de ter qualidades muito humanas e saber expressar-se, manifestar as suas ideias. Os alunos agradam-se disso. Tal como deliram com as experiências". Mas na arte de educar tem de haver uma dramaturgia. É como se estivéssemos num teatro - com encenação, marcação, representação e clímax. O amadorismo ou o improviso não cabiam nos procedimentos de RC. Tudo tinha de estar muito bem preparado. Os alunos são julgadores severíssimos. Apenas se deixam impressionar se tudo for brilhante e irrepreensível. O metodólogo sabia-o, melhor que ninguém, e explicava isso com muito cuidado e rigor aos seus formandos. (...)

Num texto intitulado "Presença de Descartes" afirmava: "A finalidade dos estudos deve consistir em orientar o espírito para a construção de juízos sólidos e verdadeiros sobre todos os objetos que se lhe apresentem". E isto obriga à liberdade criadora - de alguém que foi, em complementaridade perfeita (o próprio diria, no seu sentido autocrítico, quase perfeita), o pedagogo, o praticante da cultura científica, o divulgador e também, com existência própria, o poeta...»

Guilherme d'Oliveira Martins, "Rómulo de Carvalho", in Jornal de Letras, 14 a 27 de março de 2018, p. 28.




quinta-feira, 22 de março de 2018

DAS TERRAS DO PRESTE JOÃO





No Museu do Oriente, de 28 de junho até 16 de setembro.



«Das Terras do Preste João convida o visitante a conhecer aspectos da rica diversidade cultural da Etiópia, em tempo de celebração dos 500 anos de relações diplomáticas e cooperação técnica entre este país e Portugal. Os três núcleos expositivos organizam-se em torno de peças emblemáticas, convocadoras de histórias que abrem uma fresta iluminadora sobre o passado e o presente da terra onde emergiu a nossa humanidade comum, a  terra que foi sede de um dos grandes impérios da Antiguidade, a terra que não se subjugou à vaga colonizadora e que, por isso, encarnou a esperança de uma África livre e independente - uma terra de segredos, mitos e artes que convidarão à viagem.

No primeiro núcleo descobrem-se, em paralelo, a visão europeia sobre a Etiópia centrada na figura cristomimética do Preste João e as histórias que se desenvolveram a partir da lenda fundadora, centrada na relação exogâmica entre a Rainha do Sabá e o Rei Salomão.

A demanda do reino abissínio e as relações que firmaram uma história partilhada dão passagem para o segundo núcleo, em que se foca o elemento religioso da vida do povo etíope através das artes do fogo, da gravura, da pintura, da caligrafia e iluminura.

O terceiro núcleo abre uma janela sobre os modos de vida e a cultura material, com peças de uso quotidiano e fotografias que dão conta de usos e costumes dos povos das terras altas da Etiópia.»

Fotografia e texto do sítio do Museu do Oriente.



quarta-feira, 21 de março de 2018

NO DIA MUNDIAL DA POESIA


Bosh, O Jardim das Delícias (c. 1500-1505) - painel esquerdo.




Vt Pictura Poesis

Como a pintura é a poesia: há aquela que, se perto estiveres,
mais te seduz; e há a que te encanta, se algo te afastares;
esta gosta de penumbra; quer ser vista à luz aquela,
que não teme o olhar arguto de quem a julgar;
uma agradou uma vez; a outra, dez vezes revista, agradará.

Horácio, Arte Poética, 362-365, in Romana - Antologia da Cultura Latina, organização e tradução de Maria Helena da Rocha Pereira, Lisboa, Babel, 2010, p. 209.



segunda-feira, 19 de março de 2018

A LÍNGUA DETERMINA O PENSAMENTO?

        
Pieter Brueghel, o Velho, A Torre de Babel (1563).
Imagem daqui.




EXCERTO DE UMA ENTREVISTA A ANDRÉ MARTINET (1908-1999)

         «L'Express»: Em que língua sonha?
        A. Martinet: Não sonho numa língua. Mas não existe um só momento em que o homem não pense. Tudo é pensamento, mesmo o sonho, mas, em cada doze horas, há onze em que o nosso pensamento não é um pensamento de palavras, o que seria muito fatigante. No entanto, desde que o pensamento se apoie na língua, é apesar de tudo mais fácil construir um raciocínio. A palavra é uma espécie de estribo. Não há dúvida que não existe progressão do pensamento que não seja fundado sobre a língua. (...)
        «L'Express»: A língua determina o pensamento?
        A. Martinet: Claro que sim. Um pensamento organizado consiste, em primeiro lugar, em combinar palavras. Muitas descobertas não são senão a combinação inesperada de dois conceitos ou de duas palavras. O linguista americano Benjamin Lee Whorf pôde dizer que Aristóteles não teria escrito a sua obra se tivesse pensado na língua hopi. E que a ciência moderna deveu a sua eclosão à estrutura própria da linguagem nos países ocidentais. Se a humanidade conhece um progresso científico e técnico, sem que, de resto, eu me pronuncie sobre o valor desse progresso, é porque a humanidade é dotada de linguagem. (...)

Entrevista publicada em L'Express de 24 de março de 1969, in Mais Além Com..., Edições Europa-América, 1993, p. 114.




quarta-feira, 14 de março de 2018

DOMENICO SCARLATTI EM PORTUGAL: UMA PERSPETIVA HISTÓRICA


A imagem e todas as informações encontram-se aqui.



A conferência decorrerá no dia 3 de abril de 2018, pelas 16h00, na Biblioteca Nacional de Portugal.



segunda-feira, 12 de março de 2018

quinta-feira, 8 de março de 2018

NO DIA DA MULHER


Rembrandt Harmensz van Rijn (1606-1669), Palas Atena (1657).
Imagem daqui.




Pelos extremos raros que mostrou
em saber Palas, Vénus em fermosa,
Diana em casta, Juno em animosa,
África, Europa e Ásia as adorou.

Aquele saber grande que ajuntou
esprito e corpo em liga generosa,
esta mundana máquina lustrosa,
de só quatro Elementos fabricou.

Mas mor milagre fez a natureza
em vós, Senhoras, pondo em cada ũa
o que por todas quatro repartiu.

A vós seu resplandor deu Sol e Lũa,
a vós com viva luz, graça e pureza,
Ar, Fogo, Terra e Água vos serviu.

Luís de Camões, Rimas, texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão, Acta Universitatis Conimbrigensis, Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1953, p. 170.



quarta-feira, 7 de março de 2018

ENCONTRO COM A ESCRITORA LICÍNIA QUITÉRIO


A ESPANTOSA VARIEDADE DO MUNDO


A imagem e outras informações encontram-se aqui.



A exposição sobre seres extraordinários e criaturas maravilhosas pode ser visitada no Padrão dos Descobrimentos, até 3 de junho.



terça-feira, 6 de março de 2018

DO NOME XIV





nomes a menos

Nome mais nome igual a nome,
uns nomes menos, uns nomes mais.
Menos é mais ou menos,
nem todos os nomes são iguais.
Uma coisa é a coisa, par ou ímpar,
outra coisa é o nome, par e par,
retrato da coisa quando límpida,
coisa que as coisas deixam ao passar.
Nome de bicho, nome de mês, nome de estrela,
nome dos meus amores, nomes animais,
a soma de todos os nomes,
nunca vai dar uma coisa, nunca mais.
Cidades passam. Só os nomes vão ficar.
Que coisa dói dentro do nome
que não tem nome que conte
nem coisa pra se contar?

Paulo Leminski, Toda Poesia, São Paulo, Companhia das Letras, 2013, p. 123.



segunda-feira, 5 de março de 2018

ADAPTAÇÃO TEATRAL DE "O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS", NO FUNCHAL


A imagem e todas as informações encontram-se aqui.



Dias 9, 10 e 11 de março de 2018, no Teatro Municipal Baltazar Dias, no Funchal.



sexta-feira, 2 de março de 2018

quinta-feira, 1 de março de 2018

TEMPO PASSADO


Imagem daqui.



Não chores...
Pensa no que fomos,
Ambos pecadores
sem remorsos; ficaram as dores.
Esconder emoções é esconder o amor,
Esquecer o passado é esquecer tudo...
Ao ver-te, olho o mundo,
Mas o meu mundo é incolor.
E a atenção foi necessária,
Neste amor moderado...
Tu foste tudo,
Mas «foste» é passado.

Miguel Jacinto, Aluno do 12º LH3 desta Escola.