Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

quarta-feira, 27 de junho de 2012

AGORA COMO DANTES

Imagem daqui.

AGORA COMO DANTES

Outrora, no séc. XVII, chefiados pelos Conjurados,
Lutávamos pela nossa independência
Contra a Dinastia Filipina armados
Com toda a força e excelência

Hoje, no séc. XXI, pelo Bento liderada
Uma equipa de 11 luta pela conquista
Num jogo em que qualquer jogada
Tornará o sujeito protagonista

Às meias-finais chegámos e isso temos como certo
Para tal muito lutámos e sofremos
Agora da final estamos muito perto
Em todos acreditamos: defesas, médios e extremos

Força portugueses, força Portugal
De cachecóis em punho, rumo à vitória
Contra o nuestro hermano e rival
Vamos novamente fazer história!

Ana Lúcia Cardoso, Técnica de Diagnóstico e Encaminhamento do Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária José Saramago - Mafra

Arte de furtar, espelho de enganos, theatro de verdades, mostrador de horas minguadas, gazua geral dos Reynos de Portugal

Imagem daqui.

 
DO PRÍNCIPE, DOS CONSELHEIROS E DOS CONSELHOS
“O Conselho, voto, e parecer dos Conselheiros he hum aviso, que se toma sobre couzas duvidosas, para naõ errar nellas: toma-se sobre couzas, que naõ estaõ na nossa maõ; naõ se toma sobre couzas infalliveis, porque estas pedem execuçaõ, e naõ conselho; deve ser de couzas possiveis, e futuras; porque as impossiveis presentes, e passadas já naõ tem remedio. Naõ deixa o conselho de ser bom, por sahir o successo máo; nem o máo conselho deixa de o ser, por ter bom successo; porque os successos são da fortuna, e dependem das execuçoens; que muitas por serem más, damnaõ a bondade dos conselhos; e também por serem boas, emendaõ ás vezes o erro do conselho. (…) He muito prejudicial saberem os Conselheiros, o que o Principe quer; porque logo buscaõ razoens, com que o justifiquem. O Conselheiro naõ ha de approvar tudo, o que o Principe disser; porque isso será ser lisongeiro, e naõ Conselheiro. Muitos naõ tem nos conselhos respeito ao que se diz, senaõ a quem o diz; se he amigo, vaõ-se com elle: senaõ he do seu humor, ou parcialidade, reprovaõ-no: e he muito prejudicial modo de governar este. Pequenos erros, que no principio naõ se sentem, saõ mais perigosos, que os grandes, que se vêm; porque o perigo, que se entende, obriga a buscar o remedio; mas os erros, que se naõ sentem, ou dissimulaõ, crescem tanto pouco a pouco, que quando se advertem, já naõ tem remedio; (…)
Conselhos bons saõ muito bons de dar, mas muito máos de tomar: muitos os daõ, e poucos os tomaõ. Conselhos máos tem duas raízes: ou nascem de odio, ou de ignorancia: por peores tenho os primeiros; porque a ignorancia procede da fraqueza, e o odio resulta da malicia; e a malicia he peor inimigo que a fraqueza. E até nos bons conselhos pódem reinar o odio, e a malicia, quando muitos os daõ, e poucos os tomaõ; ou seja no termo a quo, quando se dá conselho, pois todos o lançaõ de si; ou seja no termo ad quem, quando se recebe, pois poucos o admittem. Que sejaõ tomados com aborrecimento, he couza muito ordinária: que sejaõ dados com odio, naõ he taõ commum; mas he grande mal; porque nunca póde ser boa a planta, que nasce de má raiz, ou se enxerta em roim arvore. E com ser máo o conselho deslindado nesta forma, era muito bom para ser dinheiro pela propriedade que tem; e já dissemos, que muitos o daõ, e poucos o tomaõ. Em huma couza se parece muito o conselho com o dinheiro, e he, que ambos saõ muito milagrosos. Tres milagres muito grandes achou hum discreto no dinheiro; naõ há quem os naõ experimente, e por serem muito ordinários, ninguem faz memoria deles. Primeiro, que nunca ninguem se queixou do dinheiro, que lhe pegasse doença. Segundo, que nunca ninguem teve nojo delle. Terceiro, que nunca cheirou mal. Digo que nunca ninguem se queixou delle, que lhe pegasse doença; porque andando por maõs de quantos leprosos, sarnosos, morbogallicos, e empéstados há no mundo, e passando dellas para as maõs do mais mimoso fidalgo, e da mais delicada donzella, nenhuma doença sabemos, que lhes pegasse, mais que fome de lhe darem mais. Donde colho que naõ he bom o dinheiro para paõ; que se fora paõ, nunca houvera de matar a fome. Digo mais, que nunca ninguém teve nojo do dinheiro; porque o recolhem em bolças, de ambar, e seda, o guardaõ no seyo, e até na boca o metem, sem terem asco delle, nem se lembrarem, que tem andado por mãos de regateiras, ramelozas, e de lacayos rabugentos, e de negros raposinhos. E digo finalmente, que nunca cheirou mal a ninguem; porque bem póde elle sahir da mais immunda cloaca, respira nelle bemjoim de boninas; ainda que venha entre enxofre, há-lhes de cheirar a ambar, algalia, e almíscar. Tal he o conselho: se he bom, nenhum mal faz: se he máo, ninguem tem nojo delle, nem lhe cheira mal; ainda que venha envolto em fumaças do Inferno, parecem-lhe perfumes aromáticos do Paraiso: e entaõ mais, quando vem deslumbrando com tais nevoas, que tolhem a vista de seu conhecimento. De tudo o dito se colhe, que se divide o conselho em bom, e máo: se he bom, recebe-se com aborrecimento, se he máo, dá-se por odio. Quando se recebe por aborrecimento, nada obra, por bom que seja: quando se dá por odio, pertende arruinar tudo, e alcança o intento, tanto que se aceita. Deos nos livre de ser odioso o conselho, tanto me dá por respeito de quem o dá, como por parte de quem o recebe: em manquejando por algum destes dous pólos, ou naõ temos fé nelle, ou executa a peçonha que traz: e de qualquer modo causa ruinas, e grandes perdiçoens. Para se livrar o Principe de todas estas Scylas, e Charybdes, deve conhecer bem de raiz os talentos, e animos de seus Conselheiros: e faça porisso, porque nisso está a perda, ou ganho total de seu Imperio.”
Arte de Furtar. Edição crítica, com introdução e notas de Roger Bismut, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1991 (Bismut apoia a autoria do Padre Manuel da Costa), pp. 219-220.

terça-feira, 26 de junho de 2012

RIO DE JANEIRO: CINEMA PORTUGUÊS EM DESTAQUE

Imagem do cartaz daqui.

No próximo dia 28 de junho, realizar-se-á um Colóquio sobre Cinema Português Contemporâneo, no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro. Esta iniciativa será acompanhada de uma Mostra de Cinema Português Contemporâneo na mesma cidade brasileira.

De entre os participantes no colóquio, destaca-se a presença de Margarida Cardoso, realizadora do filme A Costa dos Murmúrios, de 2004, baseado na obra homónima da escritora Lídia Jorge.

 

JORGE AMADO EM PORTUGAL

Imagem daqui.

Exposição na Biblioteca Nacional de Portugal

de 28 de junho a 7 de setembro

Entrada Livre


terça-feira, 19 de junho de 2012

EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA (12)


 

Texto de referência para a Exposição “MULHERES A LER e a ESCREVER” EM JEITO DE CONVITE


Porque a Arte é uma inspiração para a vida, dei comigo a pensar quantos de nós temos imagens nossas tiradas a ler, a descansar sobre um livro, a escolher algum entre muitos, a olhá-los com a satisfação da descoberta ou do reencontro.
Agora, que na nossa biblioteca está uma exposição com imagens de obras de Arte com MULHERES A LER, passe por lá, contemple e interrogue-se também:
·Tenho fotografias com livros?
·No meu álbum de criança, alguma das pessoas que me acompanhavam apareciam a ler?
·Tenho na memória a imagem da Mulher, como alguém ligada à leitura?
·Desejo que os meus filhos ou netos se dediquem à leitura ou amem os livros?
Enquanto vivemos deixamos um rasto. Todos aprendemos imitando o que vemos fazer. Seria bom que a nossa imagem tivesse a ver com essa parte esquecida, porque NÓS SOMOS O QUE LEMOS. 

Texto da Professora Isabel Farias

segunda-feira, 18 de junho de 2012

LEVANTADOS DO CHÃO


Para lembrar a obra de Saramago e assinalar o segundo aniversário da sua morte, aqui ficam os Levantados do Chão, de Chico Buarque e Milton Nascimento.


sexta-feira, 15 de junho de 2012

SALOIOS II

Recanto Saloio, Edmundo Cruz
Imagem daqui.

 
"À medida que a reconquista pelos nossos reis prossegue no Sul, mais sangue árabe é incorporado na população que para aí se desloca e mais intensa a aculturação.
E no plano civilizacional, repetimos, os cristãos, em todos os domínios, tinham no caso muito mais a receber do que a dar.
Daí que, avançando embora a reconquista, verdadeiras ilhas árabes fossem ficando em campo cristão, ilhas cada vez mais numerosas e, certamente, mais influentes.
É que, não tendo os nossos reis gente que pudesse povoar todos os nichos vagos dos novos territórios, não podiam dispensar mão-de-obra e capacidades tão desenvolvidas. Por outro lado, também os mouros só com muita relutância abandonavam a terra que os vira nascer. Tal preocupação nota-se desde o início: D. Afonso Henriques, alarmado com os desmandos dos assaltantes cristãos que, aquando da conquista de Lisboa, não terão hesitado em matar o bispo que aí existia sob o domínio muçulmano, entendeu proteger os mouros, por carta de segurança de 1170, proibindo que fossem molestados. São esses mouros, então numerosos nos campos de cultivo em volta da cidade, os antepassados dos saloios."
Adalberto Alves, O Meu Coração é Árabe, Lisboa, Assírio & Alvim, 1991, pp. 22-23.

SALOIOS I

Terra Saloia, Permanente Romaria da Estremadura, 1948, Sala da Estremadura do Museu de Arte Popular, pintura mural de Paulo Ferreira
Imagem daqui.

"O topónimo Saloios, se é que se pode considerar como tal, nunca teve uma consagração administrativa (civil, judicial ou militar), ao contrário de outros que apresentam algumas similitudes na escala (local/ sub-regional), como algumas terras (Basto, Maia, Santa Maria...) ou pequenos territórios na área da Grande Lisboa, como Caparica ou Azeitão. Por outro lado, no caso dos Saloios nem existe a consagração da designação em nome de lugares (ao contrário do que seria de esperar), nem se verificou qualquer fenómeno de polarização interna nesse território; a haver polarização é sempre para o exterior: seja ela de natureza socio-económica, na direcção de Lisboa, seja religiosa, para os santuários excêntricos como os das Senhoras do Cabo Espichel, da Nazaré ou da Atalaia. (...)

O que terá permitido, ao longo dos séculos, segundo algumas hipóteses ao longo de dois milénios, a permanência de uma identidade cultural (embora em evolução permanente), com uma nítida e relativamente fixa expressão territorial de base?

A melhor resposta que encontro para esta pergunta poderá parecer absurda, isto é, contrária a muitas explicações para situação com alguma afinidade com esta: creio que uma das razões, talvez a principal, que explica a continuidade dos saloios é a proximidade de Lisboa. A vizinhança de uma grande cidade, se empurra os camponeses e ocupa terras férteis, criando situações de tampão, valoriza as faixas a seguir. Por outro lado, a proximidade da capital permite, através de um mecanismo complexo, a valorização e a manutenção de certos arcaísmos: realizado através de pendulações (diárias, semanais...), o convívio do saloio com a cultura urbana e mesmo com o mercado de trabalho urbano, permite-lhe um diálogo sem assimilação ou integração, o que não acontece com os imigrantes da "província" que procuram a rápida assimilação.

A visão que o citadino tem do saloio, embora aparentemente depreciativa, no fundo é valorativa - e o habitante da periferia rural de Lisboa também o entende assim. (...)

Quando a cidade começa a acentuar as suas externalidades negativas, sejam elas decorrentes da poluição (os fumos, as poeiras, os miasmas), da difusão de epidemias ou da vida febricitante, os saloios constituíram o refúgio, representando muitas vezes o voltar à Mãe Natureza, às origens: assim como D. Duarte, no século XV se refugiou em Carnide da peste que grassava em Lisboa, vários séculos volvidos o burguês Cesário Verde recorre à quinta dos pais em Linda-a-Pastora para encontrar lenitivo para a tísica, acabando por falecer noutra aldeia saloia da periferia, o Lumiar; ao mesmo tempo que os seus conterrâneos fustigados pelo mal do século não eram aceites nos hotéis de Caneças, sendo recebidos mais longe, também em terra saloia - Montachique, onde se desenvolve um núcleo sanatorial.

O voltar à Natureza! Ainda hoje, como ao longo de todos aqueles séculos, os saloios, a terra saloia, são sinónimo e alternativa para o refúgio mítico. No fundo, a terra saloia representou sempre para o lisboeta de todas as classes a satisfação de uma série de ansiedades míticas (...) - o quadro dos prazeres simples e naturais."

Jorge Gaspar, "Território dos Saloios", in Etnografia da Região Saloia - A Terra e o Homem, Sintra, Instituto de Sintra, 1993, pp. 3-12.


quinta-feira, 14 de junho de 2012

LEITORES DO ANO

Tendo em conta o número de requisições domiciliárias, a BE elegeu os leitores do ano. Parabéns às vencedoras!

 1.º Mariana Sobral, 10.º P

2.º Joana Pereira, 10.º G1

3.º Mafalda Duarte, 11.ºN

(Adultos)
1.º Eugénia Duarte

      2.º Carmen Rodriguez

3.º Sílvia Cabral


quarta-feira, 13 de junho de 2012

FUNDAÇÃO JOSÉ SARAMAGO: NA CASA DOS BICOS

Casa dos Bicos,  Lisboa, outubro de 2007
Desenho de Eduardo Salavisa.

A nova sede da Fundação José Saramago, a Casa dos Bicos, foi inaugurada hoje, 13 de junho. Poderá ser visitada nos dias úteis, das 10h00 às 18h00 e aos sábados das 10h00 às 14h00.

Fica um excerto da mensagem de Eduardo Lourenço neste dia da inauguração:

"A realidade superou a ficção. Mas só o fez porque, antes, a ficção, os sonhos de papel de um poeta filho da terra e da sua transcendência, converteu as suas fábulas em fábulas de ninguém e de toda a gente. Os muros sem norte desta casa que a capital do País achou por bem conceder ao romancista que pôs o nome da sua terra no ecrã literário do mundo são o rosário de contos que o nosso fabulista-mor consagrou à sua musa Blimunda e ao numeroso séquito que a acompanhará para sempre."

FERNANDO PESSOA (13 de junho de 1888 - 30 de novembro de 1935)

“Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. (…) Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.
Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.
Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez, numa selecta, o passo célebre de Vieira sobre o Rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio…» E fui lendo até ao fim, trémulo, confuso; depois rompi em lágrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais – tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda choro. Não é – não – a saudade da infância, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.
Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. (…)”
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, Composto por Bernardo Soares, Ajudante de Guarda-Livros na Cidade de Lisboa, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio e Alvim, 9ª edição, 2011, pp.259-260.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

COSMÉTICA CAMILIANA

Minhota (Maria), não datado, António Carneiro


“Entretanto, o barão do Rabaçal mobilava uma casaria provisoriamente no Poço das Patas, enquanto não fazia o palacete. Os estofos vinham de Lisboa, do Gardé, acompanhados de um prático, que havia de armar, dispor, harmonizar. (…) Ele pediu tudo, guiando-se pelos artigos que vira anunciados no leilão de um visconde que falira no Porto, um homem de gosto muito fino e perfeito em cores ardentes, infernais. Pediu mais a um seu amigo, também titular e minhoto, o barão da Corujeira, residente na capital, e casado com uma senhora elegante, de olhos piscos e luneta, muito falada na crónica dissoluta, que lhe mandasse os ingredientes que ele vira na toilette de sua esposa, e deu-lhe parte que se ia casar, e arrumar de todo com o negócio de Vassouras. O barão, consultando a esposa, mandou-lhe lait d’amandes douces para dulcificar as loções, e vários savons de thridace e de la reine des abeilles, com algumas caixas de porcelana cheias de la crème froide mousseuse e fleur du lys, tudo para dar macias frescuras e odores asiáticos à epiderme de Custódia. Mandou-lhe um hidróforo para pulverizar o banho, com uma explicação em francês. Para o cultivo dos cabelos, entre outras pomadas caras, enviou-lhe baume des violettes d’Italie, composto de óleos virgens de uma pureza virginal e vários tutanos; e, de igual eficácia, la crème fondante, e la crème Sévigné, e la pommade régénératrice; mas, sobretudo, a baronesa da Corujeira recomendava à sua futura colega e amiga o uso diário de l’eau rédivive de Nagasaki, de origem japonesa. Aconselhava-a a não usar do cold-cream que era já rococó; mas sim de l’eau de beauté e do crème Pompadour; quanto ao lait de concombre, às eaux de la reine de Hongrie e de lavande, que não usasse que já não era moda, e não se encontravam nos talismans de la beauté de Louis Claye. (…) Para esmero das unhas recomendava-lhe la poudre orientale, e para dar brilho aos olhos e às sobrancelhas o koheuil e l’eau de plantain et de roses. Para os dentes les larmes de l’aurore, pulverização do mastic que as sacerdotisas de Vénus mastigavam. «Eu e minha mulher gastamos destes vons pozes», escrevia o barão com a língua menos limpa que os dentes. O do Rabaçal mandou perfilar os frascos e as bocetas na toilette, com muitas quinquilharias, segundo as indicações do prático. A irmã perguntou-se se aquilo tudo eram remédios para se purgar.”
Camilo Castelo Branco, Eusébio Macário, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, 1991, pp. 103-105.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

HERBÁRIO CAMILIANO

Chemin montant dans les hautes herbes (1875), de Pierre-Auguste Renoir


“Depois, o Fístula portou-se bem, laborioso, inteligente. Ia à colheita das ervas na estação própria, e fazia manipulações, aviava receitas com limpeza, assobiando fados cheios de saudades das Travessas e dos seus condiscípulos malandros. Conhecia as flores do urgebão, em espigas filiformes, roxas, de sabor amargo, boas para cataplasmas com gemas de ovos nas intumescências do fígado; as urtigas, sedosas, cheias de tubérculos que espirram à epiderme um líquido cáustico, e que bem espremidas dão um suco muito medicinal na brotoeja; a alfavaca sudorífera; a arruda, muito oleosa, de um odor acre, muito usada em infusão pelas mulheres opiladas, amarelas, congestionadas, histéricas, com grande peso nas virilhas e zumbidos nas orelhas; a parietária vermelha, empubescida, acre, nitrosa, muito diurética; a malva emoliente, estimável em gargarejos e clisteres e nos semicúpios refrigerantes; o verbasco que frutifica umas cápsulas biloculares muito peitorais; a bardana dos monturos, de raiz fusiforme, tónica, sudorífera, antídoto das herpes; a salva, de flor violácea, aromática, muito provada nas esquinências, gargarejada com um golpe de mel; os grãos do funcho estriados, cilíndricos, famosos nas cólicas; a erva-cidreira, de aroma citrino, excitante, digestiva e antiespasmódica; a erva-moura que é narcótica; a hortelã vermelha, eficaz contra o reumatismo e nos narizes tapados por fluxões crassas; a mostarda, sinapis nigra, a do sinapismo, o divino sinapismo derivativo, revulsivo, que puxa às pernas o morbo do cérebro, dos olhos, da garganta; as bagas dos murtinhos para lavagem das impigens, cozidas e feitas em pó, muito antipútridas, contra chagas canceradas, crónicas; a tília para os chás das velhas que impam e arrotam com grandes borborigmos de gases, e dizem que têm flato. Conhecia todas as ervas e arbustos que secavam em tabuleiros na eira. E os porcos às vezes foçavam nas ervas e raízes, misturando-as; mas ele com o fino sentimento moderno ecléctico em terapêutica, colhia do sequeiro as plantas às manadas e atirava com elas às gavetas que tinham rótulos grudados (…). Ele também manipulava o unguento de basilicão, derretendo o pez no azeite e na cera; e, quando o mexia no gral, zangava-se, dando ao diabo a farmácia, ou cantava fados com um grande azedume mefistofélico. Fazia ceroto de espermacete, com que se curavam os cáusticos e as queimaduras; e o unguento de Genoveva e o de Madre Tecla, muito bom para amadurecer abcessos com o seu litargírio, e sebo de carneiro; não lhe punha a manteiga da fórmula porque preferia comê-la com pão trigo. Havia grande provisão em potes de unguento da Madre Tecla, receita que lhe ensinara o brasileiro da Casa Grande, muito atreito a furúnculos nas costas e na região sob e sobre; tinha de sua lavra muitos frascos de pomada mercurial de que ele gastava um terço no seu consumo próprio pessoal; enquanto o pai e o abade, inveterados nas hemorróidas, lhe gastavam em breves prazos o unguento de populeão em unturas, de cócoras, José Macário, o Fístula, trabalhava, regenerava-se.”
Camilo Castelo Branco, Eusébio Macário, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, 1991, pp. 46-47.

AQUISIÇÕES RECENTES

 Títulos disponíveis nas estantes das Novidades.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

FUTEBOL & LETRAS


de 8 a 30 de junho de 2012

Entrada Livre

ARTE NA BIBLIOTECA (11)

 Green Light 
 Concepção de candeeiros de mesa feitos com materiais reutilizáveis  

Fotografias do Professor Martinho Rangel

Estes candeeiros de mesa foram realizados por alunos das turmas G e H do 12.º ano, sob a orientação da Professora Eleanora Luz, no âmbito da disciplina de Oficina de Artes, e encontram-se expostos na Biblioteca da Escola.

Em simultâneo, no espaço de leitura informal, é apresentado um vídeo, com uma sequência de trabalhos " O Que Não Mata Engorda", "Sangue de Luz""  No Limits",  da autoria de Pedro Passos (12.º G),  Patrícia Coelho (12.º H) e Ricardo Vaz (12.º G).