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Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

terça-feira, 17 de julho de 2018

A CRÓNICA


Imagem daqui.




O Programa da Crónica

A crónica tem um programa modesto: premiar a virtude e castigar o vício. (...)

Dito isto, obriga-se o cronista a manter invariáveis os seguintes adjetivos quando vierem azados para os seguintes substantivos:

Prelado será sempre virtuoso.
Cantora será sempre mimosa.
Jornalista será sempre consciencioso.
Jovem escritor será sempre esperançoso.
Patriota será sempre exímio.
Negociante será sempre honrado.
Caluniador será sempre infame.
As maneiras de quem dá um baile serão sempre amáveis.
Os convidados sairão sempre penhorados.
O folhetim será sempre espirituoso.
poeta será sempre inspirado.
Os irmãos terceiros serão sempre veneráveis.
Os sócios de qualquer coisa mercantil serão sempre acreditados.
Os meninos recém-nascidos serão sempre robustos.
As viúvas serão sempre inconsoláveis.
Quando vier uma comenda ao assinante, diremos sempre que S. M. se dignou fazer um bom uso do cofre das graças.
Se o ricaço der doze vinténs aos inválidos, este feito será sempre um rasgo filantrópico, e a fortuna dele será sempre abençoada.
Não haverá baile que não seja animado, nem jantar que não seja lauto, nem serviço que não seja abundante, ou profuso para variar.
Nenhum homem rico terá amigos que não sejam numerosos.
Todas as firmas da praça comercial serão sempre respeitáveis.
O voto de qualquer parvoinho será sempre ilustrado, e mais depressa morrerá o cronista do que deixará de ser eloquente o discurso de qualquer Cícero fanhoso.
(...)


Camiliana 4 - Crónicas, Textos Polémicos e Artigos Escolhidos de Camilo Castelo Branco, recolha, prefácio e notas de José Viale Moutinho, Círculo de Leitores, 2015, p. 159.



sexta-feira, 13 de julho de 2018

A LEBRE E A TARTARUGA


A Lebre e a Tartaruga. Ilustração de Milo Winter.



A Lebre e a Tartaruga

La lièvre propõe à la tortue
A corrida que sabe irá ganhar,
Lá para trás relegando, à vue perdue,
A que iria avançando em seu vagar.

Mas não conta com a astúcia da rivale,
Que, além disso, é também perseverante,
E que leva, de forma spéciale,
Sua ideia teimosa sempre avante.

Põe-se a lebre a comer uma carotte,
Olha, e vê que rasteja a tartaruga,
Só depois é que larga, como seta.

A galope investindo, mais que a trote,
Não consegue atingir, em sua fuga,
A que ali cortou já a sua meta.

Tiago Veiga (1900-1988)


Mário Cláudio, Tiago Veiga - Uma Biografia, Alfragide, Publicações Dom Quixote, 2011, pp. 215-216.



sexta-feira, 6 de julho de 2018

ZORBA, O GREGO






"Why don't you put pen to paper yourself, Zorba, to clear up all the mysteries of the world for us?"

"Why don't I, you ask? Because I live them, the mysteries you talk about and I've no time left over... And that's how it came to be that the world was made over the scholars; those who experience the mysteries have got no time  [for writing]; and those who've got time, don't experience the mysteries."

Kazantzakis, Zorba, the Greek.




quinta-feira, 5 de julho de 2018

TIAGO VEIGA


Casa dos Anjos, em Venade, Paredes de Coura.
Imagem daqui.



"Um dos episódios maiores na história da Casa dos Anjos consta de um relato que, se não valer pelo seu literário desempenho, poderá servir os agentes naturais que vierem visitá-lo. Uma adolescente da época, Berta Maria, órfã de pai e mãe, senhora de «alma como que num perene coro de gorjeios», sairia daquela morada no lugar de Venade, freguesia de Ferreira, concelho de Paredes de Coura, apartando-se da companhia de suas manas. Ia por determinação da mais velha, Genoveva de seu nome, a morgada, e a despeito da dor que causava na segunda, Ifigénia de sua graça, dar à luz nos longes de Castro Laboreiro o rebento ilegítimo de um tal Leonel, galante que ela avistara pela primeira vez na romaria de São Silvestre, aparecendo-lhe como detentor de «olhar muito negro», capaz de ler «o pensamento secreto» da que dele logo se enamorara. Faltará aduzir que o rapaz, acobertado por aquele onomástico de gosto popular, só pouco antes completara os dezassete anos, e que era o filho mais novo dos que contava o romancista Camilo Castelo Branco, fruto da união adulterina que mantinha com Ana Augusta Plácido. Nuno Plácido Castelo Branco, o tal falso Leonel, ingressara neste mundo em 1864, e já por alturas do início da nossa história se levantava como índole prometida a várias falcatruas e malfeitorias. O resto é o que resulta das notas que o famoso Camilo elaborou para seu próprio uso (...)."

Mário Cláudio, Tiago Veiga - Uma Biografia, Alfragide, Publicações Dom Quixote, 2011, p. 29.



terça-feira, 3 de julho de 2018

"ÚLTIMO CADERNO DE LANZAROTE"






«No ano em que se comemoram os 20 anos da entrega do Prémio Nobel de Literatura a José Saramago será publicado o último volume dos seus Cadernos.

O livro, que corresponde ao diário de 1998, ano em que o Nobel foi atribuído ao escritor, será publicado no mês de outubro simultaneamente em Portugal e Espanha.

José Saramago havia feito referência à existência do manuscrito em 2001, na apresentação de Cadernos de Lanzarote V, em Madrid. Previa que conseguiria ter o texto pronto para publicação até à primavera de 2002. "Para que não se diga que, precisamente no ano em que me aconteceu algo que mereceria ser contado, eu não o fiz". No entanto, devido ao excesso de compromissos e à posterior publicação de outros títulos, o projeto terminou adiado.

Agora, quando passam 20 anos do Prémio Nobel, os leitores de José Saramago poderão finalmente ler o último volume dos seus diários.»

Imagem e texto da Fundação José Saramago.