Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

PENSAMENTO E RITMO


Ricardo Reis, pormenor do mural de Almada Negreiros
na Faculdade de Letras de Lisboa.




VII

Ponho na altiva mente o fixo esforço
        Da altura, e à sorte deixo,
        E as suas leis, o verso;
Que, quando é alto e régio o pensamento,
        Súbdita a frase o busca
        E o scravo ritmo o serve.

Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007, p. 23.





terça-feira, 30 de outubro de 2018

DA MEMÓRIA VII



UNESCO. Memory of the World.


Memória

A memória é uma parte de um todo denominado de momento.

Todos os momentos são únicos, merecedores de ser lembrados. Contudo, nem todos os momentos acabam guardados para sempre.

O ser humano, dentro de si, armazena diversas coisas, desde pensamentos passados, atuais e futuros, a memórias antigas e outras, algumas fruto da sua imaginação.

Infelizmente, uma memória nunca vai espelhar um momento por completo. Pode, sim, permitir relembrar sensações de outrora, as que marcaram verdadeiramente.

As memórias são uma parte relevante de cada indivíduo. A verdade é que o que somos, nos dias de hoje, provém de tudo o que já passámos. Seria bom que o ser humano tivesse a capacidade de rememorar apenas o que quisesse, tendo o poder de escolha, de excluir aquilo que mais o magoa. Todavia, tal não é possível e, por isso, temos de aprender a lidar da melhor forma com as memórias, já que não as podemos controlar.

E se, algum dia, nos esquecêssemos de tudo o que vivemos? Imagine-se sem memórias. E, agora, reflita... Não se sentiria vazio e incompleto?

Isabel Santos, Aluna do 12º LH4 desta Escola.



sexta-feira, 26 de outubro de 2018

POESIA DE LUÍSA CORDEIRO (31)


23.7.2018
 

“O xadrez da minha vida”
 

O xadrez da minha vida

é bordado a ponto cruz,

em fios de ouro do sol

quando se põe sua luz.


O tecido

é o teu amor

que o torna todo especial,

tão único,

maravilhoso,

esse tecido valioso

do tear do teu amor

é tecido do destino

que me deu

O Criador.

 

"PALAVRAS DE FOGO" - FESTIVAL LITERÁRIO INTERNACIONAL DO INTERIOR






O Prémio Literário FLII - Palavras de Fogo é instituído pela Arte-Via Cooperativa e o consórcio do Festival Literário Internacional do Interior - Palavras de Fogo, em homenagem às vítimas dos incêndios florestais de 2017, e destina-se a revelar novos talentos da literatura em língua portuguesa.



quinta-feira, 25 de outubro de 2018

RECOMEÇO


Jola Wilk, London on Rainy Night 3.




Caminho sem saber bem onde os meus passos me levam. O ar é fresco, eletrizante, as nuvens negras e o piso molhado. No comboio não me apercebi de que havia chovido. Uma bicicleta passa por mim, mais uma, e outra: os donos de tal aparelho sorriem, não parecem importar-se com a roupa molhada.

A noite, tão escura, afigura-se-me iluminada. Podia renascer aqui. Este podia ser o local que tenho procurado.

Passo por um bar, parece estar cheio de homens e fumo, este tomado como oxigénio. Parece-me que Londres está cheia destas salas, feitas para agradar às barbas e aos bigodes que por lá passam.

Quando um me oferece uma bebida, recuso e continuo, mas mais apressada. Paro em frente a um motel. Este é de tijolo castanho e letras iluminadas, mas velhas: «Monstefield Motel» pode ser lido se nos esforçarmos para ignorar o «e» fundido. Entro, sendo rapidamente interpelada por uma senhora, nos seus oitenta anos. Ela é rígida nos seus movimentos, mas leve nas suas palavras. Este é o sítio. É aqui que fico. Mostro-lhe as joias douradas italianas que guardo na mala, ela não pergunta nada - o ouro também lhe dá jeito.

Já no quarto castanho, olho pela janela. Os candeeiros de rua fazem um pobre trabalho a iluminar a rua silenciosa. Olho em torno de mim, o meu quarto de princesa antigo parece-me muito melhor agora, que não o tenho. Este está equipado com uma cama com perfume a mofo, duas pequenas cómodas e um pequeno rádio. Ligo-o, e uma voz masculina grave enche o quarto, falando entusiasticamente do mais recente sabão a chegar ao mercado. Depois, uma melodia faz-se ouvir, juntamente com a voz de Doris Day.

Tudo à minha volta me parece pequeno, mas gigante. O futuro que desejava está agora fechado na cave. Mas esta cidade, este mundo com o qual nunca contactei, é enorme, chamativo. Algo de aliciante toca-me no esqueleto.

Esta cidade, este pequeno quarto castanho, são o meu recomeço. Aquilo que me ajudará a apagar por completo a antiga Maria.

Com sorte, nunca haverão de encontrar-me.

Francisca Fonte, Aluna do 12º LH4 desta Escola.



terça-feira, 23 de outubro de 2018

OLHOS FITOS


Imagem daqui.



OLHOS

É fácil desenhar olhos que divagam
Pelo quadro todo
Mas só até ao instante em que se tornam
Os que vão à proa do barco

Olho do piloto fito
No real
Atento
À rota nunca recta

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Olhos", in Obra Poética, Alfragide, Caminho, 2011, p. 826.




sexta-feira, 19 de outubro de 2018

DOS DIAS DA SEMANA


Primeira referência escrita conhecida à «Segunda-feira»,
na Igreja de São Vicente, Braga, datada de 618.




"Nas línguas europeias, só o português e o grego moderno recorreram à designação dos dias da semana por um número ordinal, imitando o calendário judaico baseado nos dias da Criação do Mundo.

O facto de esse calendário judaico ter sido transmitido à cultura portuguesa através da acção persistente da liturgia cristã, dirigida a partir de Roma, explicará a existência de algumas diferenças, entre elas a pronúncia do nome Sábado (o Chabat judaico) e a substituição da designação «primeiro dia» (o yôme arichône judaico) por Domingo. Na Hispania do séc. VI, a grande influência e implantação do calendário da liturgia romana, consta ter sido uma consequência da forte acção evangelizadora de São Martinho de Dume, arcebispo de Braga (?-10.3.579), isto é, em pleno território do actual domínio cultural lusitano.

Para além dessas alterações, os nomes portugueses para os outros dias da semana não deixam de ser a apropriação do calendário eclesiástico (da Igreja de Roma que já o tinha decalcado sobre o calendário hebraico): na liturgia católica latina temos secunda feria, tertia feria, quarta feria, quinta feria, sexta feria e sabbatum, o que foi pelos portugueses adaptado para «Segunda-feira», «Terça-feira», «Quarta-feira», «Quinta-feira», «Sexta-feira» e «Sábado».

A única coisa que normalmente se ignora, é que a palavra «feira» (evolução do latim feria) significa «festividade» ou «comemoração» e, assim, corresponde a uma adaptação do significado do vocábulo «dia» (em hebraico yom) usado no calendário judaico para exactamente indicar a «comemoração» dos dias da Criação, sendo o «Sábado» o sétimo e último dia (Chabat deriva de chê, o numeral sete). Desta verificação se deduz a nossa crítica e oposição bem fundamentada à regra do «novo acordo ortográfico» quando defende a utilização de minúsculas para os dias da semana (...).

O termo português «Domingo» (formado a partir de Dominica dies) substituiu a designação judaica para a festa do primeiro dia da Criação, considerando a Igreja que o «dia primeiro» (em hebraico yôme arichône - dia primeiro) passaria a ser designado por Dominica Dies, o «dia do Senhor», e não a «*Feira Primeira», sintagma não aceitável pela norma portuguesa.

Para os que conhecem os outros calendários das línguas da Europa Ocidental, devem reparar que os dias da semana se designam nas línguas românicas pelos nomes dos astros e dos deuses mais importantes, excepto no caso dos «Sábados» e «Domingos»: o francês diz «Samedi» e «Dimanche», o espanhol escolhe «Sábado» e «Domingo», o italiano «Sabato» e «Domenica». Para os restantes dias da semana, à «Segunda-feira» chamam o «Dia da Lua»: castelhano, lunes, ... francês, lundi..., o italiano, lunedì.

E assim se pode documentar em relação aos restantes dias da semana. (...)"

Pedro da Silva Germano, Nova Visão sobre Hebraísmos na Língua Portuguesa, Lisboa, Chiado Editora, pp. 102-103.



terça-feira, 16 de outubro de 2018

RAJADAS DE FLORES


Eugène Delacroix, Bouquet de Fleurs.
Imagem daqui.





BALAS NO DICIONÁRIO

As nossas palavras são armas. Umas disparam balas, capazes de ferir muitos sentimentos. Outras são pacíficas, atiram flores, tendo um impacto de bondade. Outras falham o tiro, não conseguindo acertar no alvo.

Por vezes, saem-nos tiros disparados, impulsivos, que atingem no coração a pessoa que os recebeu. O problema? A ferida que originam é totalmente invisível. Por vezes, nem nós sabemos bem o que dissemos. Estas palavras são o pior tipo de palavras. Aquelas que, juntas, conseguem matar. Há quem as diga com o intuito de magoar, há quem as diga por ter perdido o controlo da arma. Mas, quando as dizemos, não as podemos retirar, elas foram ditas, ouvidas, assimiladas. Há, por exemplo, quem não goste de pessoas diferentes de si. Por vezes, ouvimos alguém dizer "tu és horrível", pela simples razão de que a pessoa tem um tom de pele diferente ou uns olhos mais rasgados. Outras vezes, ouvimos quem chame "burro" a quem não tem uma licenciatura. (...) Estas armas não deveriam ser disparadas. Salvo raras exceções, se o que estamos prestes a dizer vai magoar alguém, não deve ser dito. Principalmente sendo apenas opiniões - não factos. Cedo aprendi que alguém achar algo de ti não o faz de todo verdade.

Há, porém, outro tipo de palavras. Essas armas, uma vez premido o gatilho, disparam flores. Rosas, margaridas, cravos, violetas. Muitas vezes, simples palavras provocam grandes sorrisos. Estas deviam ser utilizadas muitas mais vezes. Acho maravilhoso termos esse poder nas mãos, o poder de melhorar o dia do outro. Defendo que o que consideramos ser bom numa pessoa deve ser dito, ouvido. Basta dizermos simples palavras como "gosto muito da forma como te vestes" ou "tu és uma pessoa incrível". Desde que sejam palavras sinceras, devem ser ditas sem restrição. Infelizmente, usamo-las pouco. O melhor destas flores que disparamos é que florescem e originam mais. Facilmente, através de um simples elogio, criamos uma onda de boas energias e sentimentos. Por exemplo, quando confessamos a um amigo que o adoramos - certamente que o dia dele melhorará, e o nosso também.

Concluindo, as palavras são das coisas mais importantes do mundo, só temos de ter a certeza de que as utilizamos bem, mesmo sem manual de instruções.


Francisca Fonte, Aluna do 12ºLH4 desta Escola.



sexta-feira, 12 de outubro de 2018

POESIA DE LUÍSA CORDEIRO (30)


“ O quadro de mim”

 

Com as palavras,

pinto um quadro,

surreal

porque perfeito.

 

A tinta,

é cor do sangue

que lhe dá cor,

a tela,

é o meu peito

emoldurado.

 
 

Luísa Cordeiro
 

11.10.2018

 

COMO FOMOS, ASSIM ESTAMOS - PORTUGAL ESCRITO PELOS PORTUGUESES, E NÃO SÓ


Todas as informações sobre o lançamento do livro encontram-se aqui.




segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O «NOSSO» PRÉMIO: 20 ANOS DO NOBEL DE JOSÉ SARAMAGO


Diploma concedido a José Saramago pela Academia Sueca como Prémio Nobel da Literatura, 1998.




"Com o intuito de recordade aqueles dias de alegria em que a literatura esteve na rua, no topo dos noticiários e na ordem do dia da política, é organizada esta pequena mostra em homenagem ao Prémio Nobel da Literatura de 1998. Além de jornais e revistas, nacionais e estrangeiros, com notícias sobre a atribuição do prémio a José Saramago, estão expostas mensagens que o escritor recebeu, de personalidades públicas e leitores anónimos, de parabéns e agradeciemnto pela conquista. É também visível uma pequena parte do espólio do escritor, nomeadamente o manuscrito de Levantado do Chão e um caderno com textos preparatórios deste romance, que foi confiado, através de um protocolo de doação, pela FJS à BNP em 2016.

Na ocasião, irão ser lançados os livros Último Caderno de Lanzarote, diário de José Saramago referente ao ano de 1998, e Um País Levantado em Alegria, de Ricardo Viel, que relata os bastidores dos dias que antecederam e se seguiram ao anúncio do Prémio, cuja apresentação estará a cargo de Carlos Reis."

Imagens e texto do sítio da BNP.

Mostra: de 12 de outubro a 29 de dezembro de 2018
Lançamento: 12 de outubro de 2018, pelas 18h00
BNP



O AZULEJO PORTUGUÊS NO LIVRO




Mostra patente de 8 de outubro a 28 de dezembro de 2018, na Sala de Referência da Biblioteca Nacional de Portugal.



quarta-feira, 3 de outubro de 2018

terça-feira, 2 de outubro de 2018

GATOS-GATOS E GATOS-PALAVRAS

Imagem daqui.



Uma prosa sobre os meus gatos

Perguntaram-se um dia destes
ao telefone
por que não escrevia
poesia (ao menos um poema)
sobre os meus gatos;
mas quem se interessaria
pelos meus gatos,
cuja única evidência
é serem meus (digamos assim)
e serem gatos
(coisa vasta, mas que acontece
a todos os da sua espécie)?
Este poderia
(talvez) ser um tema
(talvez até um tema nobre),
mas um tema não chega para um poema
nem sequer para um poema sobre;
porque é o poema o tema,
forma apenas.
Depois, os meus gatos
escapam de mais à poesia,
ou de menos, o que vai dar ao mesmo,
são muito longe
ou muito perto,
e o poema precisa do tempo certo
de onde possa, como o gato, dar o salto;
o poema que fizesse
faria deles gatos abstractos,
literários, gatos-palavras,
desprezível comércio de que não me orgulharia
(embora a eles tanto lhes desse).
Por fim, não existem «os meus gatos»,
existem uns tantos gatos-gatos,
um gato, outro gato, outro gato,
que por um expediente singular
(que, aliás, também absolutamente lhes desinteressa)
me é dado nomear e adjectivar,
isto é, ocultar,
tendo assim uns gatos em minha casa
e outros na minha cabeça.
Ora só os da cabeça alcançaria
(se alcançasse) o duvidoso processo da poesia.
Fiquei-me por isso por uma prosa,
e mesmo assim excessivamente corrida e judiciosa.

31/ 3/ 99

Manuel António Pina, Todas as Palavras - Poesia Reunida, Porto, Porto Editora, 2015, pp. 270-271.




segunda-feira, 1 de outubro de 2018

IN MEMORIAM: CHARLES AZNAVOUR, 1924-2018

MÊS INTERNACIONAL DA BIBLIOTECA ESCOLAR 2018


A partir do tema definido pela International Association of School Librarianship (IASL) para o International School Library Month (ISLM) em 2018, "Why I love my school library", a RBE procurou uma formulação que melhor traduzisse para a língua portuguesa a ideia transmitida, optando-se por uma linguagem híbrida em que todas as gerações se reveem: “Eu   biblioteca escolar.

Desafio para os alunos:

A partir do lema e com a hashtag #Eu♥BE, a RBE convida os alunos a demonstrar a sua relação com a biblioteca escolar.

Instruções:
- Criar uma frase, um meme, uma foto, um vídeo, … original que ilustre a sua ligação à biblioteca escolar;
- Partilhar no Facebook e/ou no Instagram com a hashtag #Eu♥BE.

A RBE divulgará nos seus canais as propostas mais criativas que surgirem. 

 Fonte: RBE

DISTANTE MELODIA


Claude Monet, Catedral de Rouen (1894).
Imagem daqui.




(...)

Balaústres de som, arcos de Amar,
Pontes de brilho, ogivas de perfume...
Domínio inexprimível d'Ópio e lume
Que nunca mais, em côr, hei de habitar...

Tapêtes doutras Persias mais Oriente...
Cortinados de Chinas mais marfim...
Aureos Templos de ritos de setim...
Fontes correndo sombra, mansamente...

Zimbórios-panthéons de nostalgias...
Catedrais de ser-Eu por sobre o mar...
Escadas de honra, escadas só, ao ar...
Novas Byzancios-alma, outras Turquias...

(...)

Paris 1914 - Junho 30


Mário de Sá-Carneiro, "Distante melodia...", in AAVV, Orpheu, vol, I - 1915, edição fac-similada (digitalização: biblioteca da Casa Fernando Pessoa), Lisboa, Edições Tinta-da-china, 2015, p. 13.