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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O PINTOR CARTÓGRAFO


Júlio Pomar (1926-2018), Lusitânia no Bairro Latino (retratos de
Mário de Sá-Carneiro,Santa-Rita Pintor e Amadeo de Souza-Cardoso), 1985.
Imagem daqui.




JÚLIO POMAR: PINTOR


Os antigos, que de acordo com o conhecimento comum eram criaturas sábias, ao desenharem os continentes que lhes iam aparecendo reproduziam o contorno da costa, escreviam-lhe por cima

        aqui há leões

      e resolviam o assunto de uma penada. A seguir vinham outros antigos mais recentes que lhes aperfeiçoavam os bonecos e iam enxotando a ideia dos leões para o interior da terra, de tal modo que hoje, modernos que somos, e tirando a excepção amável dos Jardins Zoológicos

        (...)

      os leões habitam apenas nos mundos muito secretos do interior da vida, que é o lugar onde os artistas trabalham. Às vezes a gente pensa que eles, os artistas, estão ao pé de nós e não estão nem meia: quer dizer, parte deles está ali, a conversar, a comer, a rir-se, sossegadinho da silva, e o resto, que é tudo, anda por Atlântidas difusas a enxotar leões até ficar a ilha clara, a linha da costa como deve ser, a geografia do mundo a descoberto.

        Júlio Pomar pertence a esta espécie de criaturas raras: traz a gente à luz do dia com o camaroeiro da palma. Há alturas em que penso nele como num parteiro: está ali, vamos supor, um corpo só corpo, ele enfia o braço, dá voltas e mais voltas com os pincéis , ou o carvão, ou o que lhe der na gana, em grutas muito escuras, e pranta diante do pessoal a cartografia completa não apenas de nós mesmos mas daquilo a que pertencemos. E o resultado final não é amargurado, não é dorido, não é triste: é uma celebração da vida, porque

        (isto é tão evidente para mim, Nossa Senhora)

        Júlio Pomar pinta contra a morte: perante um quadro seu não me vem à ideia

        - Quem fez isto não acaba

        mas sim

        - Sou eu que não acabo porque ele fez isto

     ou seja, que me está a salvar da minha finitude com a sua obra, que é uma jubilação da inteligência dos sentidos. O poeta Paul Fort aconselhava que deixássemos os sentidos pensarem

        (laisse penser tes sens)

        o que apenas se torna possível com muito trabalho, muita tentativa, muito caminhar sem olhos

        (dado que isto se passa fundo, onde os olhos não chegam)

     alumiado pelo que usa chamar-se talento, génio, sei cá, e que consiste apenas, afinal, na capacidade de iluminar as coisas, de indicador feito vela, quando a electricidade falta. E, onde estão os leões, palavra de honra que não existem fusíveis. Então Pomar lá vai aos poucos, chama-os pelos nome e eles pronto, inteirinhos, poisados na concha, dado que no lugar em que os antigos escreviam

        aqui há leões

        e que é deles que os não topamos, Pomar segura-os pelo pescoço, diz sem palavras

        - Amanhem-se com esses

        e some-se no atelier em busca de uma nova remessa. Em certo sentido trata-se de uma vocação de carteiro: entrega o correio e continua até à porta seguinte. (...)


António Lobo Antunes, Terceiro Livro de Crónicas, Alfragide, Publicações Dom Quixote, 2006, pp. 103-105.




terça-feira, 18 de setembro de 2018

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

DA LEGIBILIDADE DOS LIVROS


Fragmento de papiro com versos da Odisseia, de Homero.
Imagem daqui.



«Os grandes livros são os mais legíveis. (...) E isso significa muita coisa. Se as regras da boa leitura se relacionam de algum modo com as regras da boa escrita, então são esses os livros mais bem escritos. (Se um bom leitor é eficiente em arte liberal, o grande escritor é muito mais.) Esses livros são obras-primas de arte liberal. Dizendo isso, refiro-me, primeiramente, aos livros científicos. Os maiores trabalhos de poesia ou ficção são obras-primas imaginativas. Em ambos os casos, a linguagem é utilizada pelo escritor para servir ao leitor, seja seu fim instruir ou agradar. Dizer que os grandes livros são os mais legíveis é dizer que eles não proclamam sua inferioridade, se vocês souberem lê-los. Podem seguir as regras de leitura tanto quanto sua habilidade o permitir; e, eles, ao contrário dos livros sem valor, não deixarão de pagar dividendos. Mas também têm mais o que se ler. O que importa não é apenas o modo como foram escritos, mas o que têm a dizer. Cada uma de suas páginas encerra mais ideias do que o resto dos livros, considerados totalmente. Eis por que vocês podem ler e reler os grandes livros, sem diminuir seu conteúdo e sem conseguir dominá-los de um modo completo. Os livros mais legíveis são indefinidamente legíveis. E há outro motivo para isso. Eles podem ser lidos em diferentes níveis de compreensão, e com uma grande diversidade de interpretações. Os exemplos mais evidentes dos vários níveis de leitura se encontram em obras como As Viagens de Gulliver, Robinson Crusoe e a Odisseia. As crianças podem lê-los com prazer. mas não encontram neles toda a beleza e profundidade que encantam a inteligência adulta. (...)»

Mortimer J. Adler & Charles Van Doren, A Arte de Ler, São Paulo, Artes Gráficas Indústrias Reunidas S.A. (AGIR), 1954, p. 167.



sexta-feira, 14 de setembro de 2018

O POETA


Imagem daqui.




O POETA

O poeta é igual ao jardim das estátuas
Ao perfume do Verão que se perde no vento
Veio sem que os outros nunca o vissem
E as suas palavras devoraram o tempo.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética, Porto, Assírio & Alvim, 2015, p. 350.



quinta-feira, 13 de setembro de 2018

"OS SALOIOS E AS SUAS GENTES", CASA-MUSEU LEAL DA CÂMARA


A imagem e todas as informações encontram-se aqui.



Para ver até ao final de 2018, na Casa-Museu Leal da Câmara, em Rio de Mouro.




quarta-feira, 12 de setembro de 2018