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Escola Secundária José Saramago - Mafra

terça-feira, 16 de julho de 2013

SUGESTÃO DE LEITURA (34)


(...) "Isto está cheio de gente! Não vamos conseguir ...". disse Pedro Justiceiro, desanimado, eram 14 e 40. Renato respondeu que, pelo contrário, quanto mais gente melhor para o plano. 
(...) Silvino envolve a mão num lenço de quadrados azuis, agarra a alavanca, dá uma mirada em redor, ninguém deste lado, ninguém naquele, puxa de leve, piram-se cinco abelhas a experimentar o voo, zzzzzzz, zzzzzzz, somem-se na direcção do Egipto, não tarda nada ouvem-se os primeiros gritos, gritos dilacerantes, de cortar o coração, e rebenta o cagaçal de pés em correria.
"Já está uma barulheira do escafandro", comenta Renato, e manda puxar outra vez, segunda dose, Silvino diz "okay chefe, lá vai disto", zzzzzzz, zzzzzzz, mais vinte e uma abelha em três esquadrilhas de sete revolteiam no espaço afiando os ferrões, dois japoneses atravessam a galeria aos pulos, seguidos de uma sueca que enfia desesperadamente a mão no decote, uma abelha tinha-se lá ido meter, devia ser a abelha-mestra, cada vez mais gritos, impossível distinguir um grito sueco de um grito de Campo de Ourique, zzzzzzz, zzzzzzz, um cidadão espanhol quer encafuar-se numa arca francesa, Luís XVI, é o encafuas, já lá havia abelhas, duas de rabo alçado e ferrão em riste, o espanhol dá um salto como os  bonecos nas caixas de surpresas, diz três obscenidades, mas foi em espanhol, passa, zzzzzzz, zzzzzzz, aparecem em pelotão compacto as meninas do colégio dando à perninha e berrando graciosamente.
"Puxa!", ordena de novo Renato, "quem me acaba o resto?", retruca Silvino, agarra-se à alavanca com a força toda, o fundo da caixa abre-se de par em par, "olha para este cardume", entusiasma-se Silvino, "enxame", emenda Renato, "ou isso", concorda Silvino, zzzzzzz, zzzzzzz, cena terrível, centenas de abelhas iradas atacando em todas as direcções, apanham a excursão de alemães que se tinham reunido disciplinadamente à espera que a guia desse o sinal de partida, já não esperam, arrancam como foguetes, mas chocam de frente com os italianos que vinham à desfilada, julgavam que a porta era do outro lado, há feridos ligeiros, um japonês pára para tirar fotografias, mas não tira, é atacado pela retaguarda, dá um pinote e foge agarrado à zona, toda a zona está a arder, fica uma Nikon exposta entre as obras de arte assíria.
ZAMBUJAL, Mário - Crónica dos Bons Malandros. Lisboa: Quetzal Editores, 2008. 31.ª ed. 151p. ISBN 978-972-564-662-5

O livro está disponível para requisição na Biblioteca da ESJS.

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