Ford Madox Brown (1821-1893), Romeo and Juliet.
"Amor e política são dois pólos unidos por um arco: a pessoa. A sorte da pessoa na sociedade política reflecte-se na relação amorosa e vice-versa. A história de Romeu e Julieta é ininteligível se se omitem as lutas senhoriais nas cidades italianas do Renascimento e o mesmo acontece com a de Larisa e Jivago fora do contexto da revolução bolchevista e da guerra civil. É inútil citar mais exemplos. Tudo se corresponde. A relação entre o amor e a política está presente ao longo da história do Ocidente. (...)
Se o nosso mundo há-de recuperar a saúde, a cura deve ser dual: a regeneração política inclui a ressurreição do amor. Ambos, amor e política, dependem do renascimento da noção que foi o eixo da nossa civilização: a pessoa. Não penso num impossível regresso às antigas concepções da alma; creio que, sob pena de extinção, devemos encontrar uma visão do homem e da mulher que nos devolva a consciência da singularidade e da identidade de cada um. Visão ao mesmo tempo nova e antiga, visão que veja, em termos de hoje, cada ser humano como uma criatura única, irrepetível e preciosa. Cabe à imaginação criadora dos nossos filósofos, artistas e cientistas redescobrir não o mais distante mas o mais íntimo e diário: o mistério que é cada um de nós. Para reinventar o amor, como pedia o poeta, temos que inventar outra vez o homem."
Octavio Paz, A Chama Dupla, Lisboa, Assírio & Alvim, 1993, p. 124.
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