"Cumpre, antes de mais nada, salientar que este manuscrito - embora verse assuntos prevalentemente culinários e de doçaria, distribuídos mais ou menos racionalmente em quatro secções, ou cadernos (o que lhe empresta aquela aparência vagamente sistemática que levou alguém a dar-lhe o título, algo austero, de «tratado» de cozinha) - encerra também, nas primeiras e nas últimas páginas, uma ou outra receita que nada tem com mistérios pantagruélicos. Com efeito, pode ter sido uma daquelas enciclopédias caseiras da vida prática, de consulta fácil e de utilidade óbvia (...).
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Receita para esquinência
Tomarão canela, que seja muito boa, e noz moscada,
de cada cousa destas meia onça; e de gengi-
bre, uma quarta de onça; de alva-de-cães, que
seja muito alva e seca, uma oitava de onça;
e quatro ou cinco cravos-girofles; uma onça
de açúcar refinado: tudo há-de ser muito moído
e peneirado, e muito misturado um com o outro;
e ao que tiver a esquinência tomarão quantos
pós destes possam tomar com três dedos,
e deitar-lho-ão no gorgomilo quão abai-
xo puderem, e após eles um bocado de água
fria. E desta maneira lhos darão três
vezes, uma após outra, e deitar-lhos-ão
três ou quatro dias a fio, se nos primeiros
três dias não ficar livre."
Livro de Cozinha da Infanta D. Maria, Prólogo, Leitura, Notas aos textos, Glossário e Índices de Giacinto Manuppella, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1986, pp. XVI, 147 e 162.
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