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Escola Secundária José Saramago - Mafra

terça-feira, 19 de setembro de 2017

GRAMÁTICA UNIVERSAL


Painéis de São Vicente.

Painel do Infante.
Imagens daqui.



«(...) Em 1960, através de uma série de entrevistas a Almada Negreiros, o Diário de Notícias anunciava a conclusão de extensos estudos que tinham levado o entrevistado à "teoria fundamental que rege o curso da humanidade", o cânone, imutável "e permanente em cada pessoa humana". O objecto dos estudos tinha sido, fundamentalmente, os painéis de São Vicente. Numa síntese entre racionalidade geométrica e messianismo nacionalista, Almada descobrira uma gramática universal - mas interpretada pela obra maior de uma tradição nacional - anterior a qualquer opinião - mas por onde todas as opiniões teriam de se exprimir -, impossível de ensinar porque imanente, um "conhecimento" em que "permanecem para todas as circunstâncias do espaço e do tempo todas as constantes encontradas primeiro". Mais do que épico, o tom é (...) messiânico, o que dá aos seus trabalhos um carácter de profecia que os coloca para além de qualquer discussão:

"A eruditos apresento o resultado. Sujeito-me absolutamente à competência das suas respectivas erudições. Que venham. Mas não queiram trazer cálculo a conhecimento cuja característica é não o ter. Se o cálculo confirmar, parabéns ao cálculo. Se não confirmar, cuidado com o cálculo."

(...) É impossível não ver na indiferença perante o "cálculo" dos eruditos sobre o cânone a mesma recusa expressa numa crítica à peça Adão e Eva de Jaime Cortesão, que é também uma tentativa de afirmação geracional, quarenta anos antes, nas páginas do Diário de Lisboa: "Mau vai, quando a nossa cabeça começa a lançar mão de raciocínio. (...) Isso era dantes. Antes de nós termos nascido. Já houve vinte séculos e mais de raciocínio, já está tudo raciocinado."(...)»


Luís Trindade, "A forma de Almada: o século XX de Almada Negreiros", in José de Almada Negreiros - Uma Maneira de Ser Moderno, catálogo da exposição patente entre 3 de fevereiro e 5 de junho de 2017, na galeria principal e na galeria do piso inferior do edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Museu Calouste Gulbenkian, 2017, p. 78.




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