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Escola Secundária José Saramago - Mafra

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O COPO D'ÁGUA

Imagem daqui.
 

 
“A despesa interna duma casa de nobre português é tão moderada quanto é excessiva a que diz respeito ao alarde exterior e à ostentação, como ao número de criados de libré, mulas, cavalos de mão, enfim, tudo quanto pode deslumbrar, impor-se e dar uma ideia exagerada de riqueza ou da autoridade do senhor. Os numerosos criados são sustentados com carne cozida com arroz, cortada e dividida em rações, com excepção dos dias de jejum e abstinência, que são frequentes, independentemente dos quarenta e seis dias da Quaresma, em que lhes dão bacalhau. Raras vezes precisam de vinho e, quando o pedem, trazem-lho em em pequena quantidade e de muito má qualidade, da taberna mais próxima; bebem, porém, em abundância, bela água clara; e à noite comem um pedaço pequeno de carne ou sardinhas com muita e excelente alface ou outra salada, temperada com azeite e vinagre, que é o molho universal, e também bom pão (que comem tanto como os franceses e os espanhóis); nisto consiste a sua ceia. Os patrões, de manhã, almoçam geralmente chocolate, depois de ter ouvido a missa na capela da casa, que é magnífica, resplandecente de ouro, e guarnecida de figuras, anjos alados, pintados e esculpidos. O grande regalo, o grande luxo de todos os momentos, é uma quantidade enorme de doces que conservam para todas as ocasiões, e que, com o chocolate, são as únicas coisas que não mandam buscar ao merceeiro ou ao mercado; os doces levam-nos a beber grandes copos de água, que os engordam de uma forma surpreendente. Ouvi muitas vezes dizer, em Madrid, muito antes de aqui vir, que se encontrava em Lisboa muito mais gente gorda do que em qualquer outra parte, e com efeito nunca vi tantas pessoas gordas, mal feitas e baixas e de curto fôlego, como na nobreza portuguesa.”
Arthur William Costignan, Cartas de Portugal (1778-1779), tradução, prefácio e notas de Augusto Reis Machado, vol. II, Lisboa, Edições Ática, 1946, p.122.


 

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