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Escola Secundária José Saramago - Mafra

terça-feira, 24 de junho de 2014

O BELO, O BOM E O VERDADEIRO

Peter Paul Rubens (1577-1640), Retrato de Hélène Fourment (1635)
Museu Calouste Gulbenkian
Imagem daqui.




«(...)
"Lembra-se, mister Sarkisian, de uma vez lhe ter dito que existe uma relação íntima entre a beleza e a bondade?"
"Então não lembro? É a história de o vulcão que me ameaça ser horrível e de o vulcão visto à distância ser belo."
"Esse exemplo mostra a ligação entre a beleza e a bondade", confirmou sir Kenneth. "O que na altura não lhe disse é que a beleza também se relaciona com a verdade. Digamos que forma um triângulo com a bondade e a verdade. Ora a pergunta de sua excelência remete-nos directamente para essa questão da verdade. Por que razão um quadro genuíno é belo, mas uma falsificação não é? A resposta é de uma simplicidade desconcertante: o genuíno é verdadeiro e o falso é mentiroso. Ou seja, a beleza é intrinsecamente verdadeira, mesmo que a sua verdade seja apenas metafórica. Oliver Twist, de Charles Dickens, é um romance belo porque nos revela a verdade sobre os meninos de rua de Londres e O Processo de Kafka também é um livro belo porque nos expõe uma verdade profunda sobre o exercício da justiça quando os direitos das pessoas não são respeitados. A Pietà de Miguel Ângelo é uma escultura de grande beleza porque nos apresenta com verdade a dor de uma mãe diante da morte do filho e o Requiem de Mozart é uma música bela porque exprime a verdade da tragédia da morte."
Kaloust desviou a atenção para o ministro plenipotenciário da Pérsia.
"É... é isso", disse, fazendo suas as palavras do seu conselheiro de arte. "Este Rubens é belo porque é genuíno. Se fosse falso, estaríamos perante uma mentira. A beleza do Retrato de Hélène Fourment está na sua verdade."
"É por efeito da verdade que a arte se associa ao bem", sublinhou sir Kenneth. "É como se beleza, bondade e verdade fossem os três vértices do mesmo triângulo."»


José Rodrigues dos Santos, Um Milionário em Lisboa, Lisboa, Gradiva, 2013, pp.378-379.


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