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Escola Secundária José Saramago - Mafra

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

SALOIOS IX

Pátio da Casa-Museu Leal da Câmara
Imagem daqui.

Do legado islâmico deixado em terras saloias não fazia parte o seu maior tesouro, a arte e as suas variações: a música, a dança, a poesia, o sufismo… O árabe, ou o muçulmano, ou o mouro, ou o marroquino, ou o berbere, que se instalou em terra saloia era o homem da força do trabalho e não o da contemplação mística, nem tão-pouco o poeta ou o músico. Contudo, o que veio trouxe bagagem, ainda que depauperada, e o que ela continha permanece. Faz-se sentir na onomástica, de forma especial na toponímia, nos hábitos arreigados relacionados com o trabalho da terra, com o pequeno negócio, nos caracteres morfológicos e psicológicos (a astúcia, a calma, a pertinácia…) do saloio e da saloia, e nas tendências sociais das populações. Além destes aspetos, existem outros que poderiam e mereceriam ser aprofundados e investigados. A título de exemplo, encontra-se aquilo que Kiesler Reinhard designa como “arabismos semânticos”, tipicamente ibéricos, inexistentes nas outras línguas românicas. É o caso da expressão matar a fome, “recortada” do árabe, e de alguns modos de falar ou fórmulas de cortesia de talhe inconfundivelmente islâmico, como refere o autor.
Uma outra vertente dessa influência que permanece por desbravar prende-se com certos aspetos arquitetónicos das casas mais antigas da região que parecem emular traços marroquinos e assim prolongar a herança recebida. O tradicional pátio das casas saloias mais abastadas (ainda há alguns que têm logrado resistir às novas construções) é um deles. Habitualmente bem servido de água, a maioria das vezes por meio de um poço, tem sempre flores, em canteiros ou em vasos, fazendo assim as vezes de um jardim e preservando a vida doméstica dos olhares indiscretos dos passantes, o pátio será um vestígio do característico riad/ jardim interior, tão prezado ainda hoje pelas culturas islâmicas e tão divulgado nos roteiros turísticos. Ele será também o local central da casa, o ponto aglutinador e a fonte de luz. Encontram-se ainda sem grande procura dois outros traços arquitetónicos da habitação, também eles tributários desse legado – a telha de canudo e o terraço. As entradas e saídas de casa fazem-se através de um portão de ferro forjado ou, então, de madeira, mas com batentes em ferro forjado; há normalmente uma outra abertura, uma porta estreita, por vezes com um pequeno postigo. As janelas que deitam para a rua normalmente são muito pequenas; já aquelas que estão viradas para o pátio são notavelmente maiores, permitindo desta forma a entrada da luz natural nos espaços interiores, dependências da mulher saloia.

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