Pátio da Casa-Museu Leal da Câmara
Imagem daqui.
Do
legado islâmico deixado em terras saloias não fazia parte o seu maior tesouro,
a arte e as suas variações: a música, a dança, a poesia, o sufismo… O árabe, ou
o muçulmano, ou o mouro, ou o marroquino, ou o berbere, que se instalou em
terra saloia era o homem da força do trabalho e não o da contemplação mística,
nem tão-pouco o poeta ou o músico. Contudo, o que veio trouxe bagagem, ainda
que depauperada, e o que ela continha permanece. Faz-se sentir na onomástica,
de forma especial na toponímia, nos hábitos arreigados relacionados com o
trabalho da terra, com o pequeno negócio, nos caracteres morfológicos e
psicológicos (a astúcia, a calma, a pertinácia…) do saloio e da saloia, e nas
tendências sociais das populações. Além destes aspetos, existem outros que
poderiam e mereceriam ser aprofundados e investigados. A título de exemplo,
encontra-se aquilo que Kiesler Reinhard designa como “arabismos semânticos”,
tipicamente ibéricos, inexistentes nas outras línguas românicas. É o caso da
expressão matar a fome,
“recortada” do árabe, e de alguns modos de falar ou fórmulas de cortesia de
talhe inconfundivelmente islâmico, como refere o autor.
Uma
outra vertente dessa influência que permanece por desbravar prende-se com
certos aspetos arquitetónicos das casas mais antigas da região que parecem
emular traços marroquinos e assim prolongar a herança recebida. O tradicional
pátio das casas saloias mais abastadas (ainda há alguns que têm logrado
resistir às novas construções) é um deles. Habitualmente bem servido de água, a
maioria das vezes por meio de um poço, tem sempre flores, em canteiros ou em
vasos, fazendo assim as vezes de um jardim e preservando a vida doméstica dos
olhares indiscretos dos passantes, o pátio será um vestígio do característico riad/ jardim interior, tão
prezado ainda hoje pelas culturas islâmicas e tão divulgado nos roteiros
turísticos. Ele será também o local central da casa, o ponto aglutinador e a
fonte de luz. Encontram-se ainda sem grande procura dois outros traços
arquitetónicos da habitação, também eles tributários desse legado – a telha de
canudo e o terraço. As entradas e saídas de casa fazem-se através de um portão de
ferro forjado ou, então, de madeira, mas com batentes em ferro forjado; há
normalmente uma outra abertura, uma porta estreita, por vezes com um pequeno
postigo. As janelas que deitam para a rua normalmente são muito pequenas; já
aquelas que estão viradas para o pátio são notavelmente maiores, permitindo
desta forma a entrada da luz natural nos espaços interiores, dependências da
mulher saloia.
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