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Escola Secundária José Saramago - Mafra

terça-feira, 2 de abril de 2019

ARGOS, O CÃO DE ULISSES


Imagem daqui.





O CÃO DE ODISSEU
FALA A ANTÓNIO CABRITA


não sei há quantos anos te espero
e eis que regressas mendigo e velho

reconheci-te Odisseu
gostaria de me ter erguido ir ao teu encontro
pousar a cabeça com a fidelidade destes anos
em tuas mãos gretadas pela demorada viagem
mas estou trôpego e quase cego
mal consigo arrastar o etéreo peso dos ossos
e quase não pressenti o cheiro dos teus passos

olhaste-me sabendo que eu te reconhecera
e te esperara pacientemente para morrer
deixa lá
talvez seja possível partilhar uma outra vida
quando nos reencontrarmos
na derradeira travessia do Aqueronte
mas agora vai não demores mais
vai Odisseu
e diz a Penélope que já pode terminar
a interminável e triste tapeçaria

                                                                            Al Berto, O Medo, Porto, Assírio & Alvim, 2017, p. 470.




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