Cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil.
“Do que
me foi dado apurar alcanço apenas o aquém-mar, desde que os portugueses
aportaram nestas terras brasílicas convencidos de ser aqui o desmundo. Atolaram-se
no equívoco. Pululava, matas adentro, indiada incontável, gente abrasiliada há
séculos, outro mundo.
Do alto
de naus e caravelas descendeu a iberada lusitana calcada na ignorância. Trazia o
pau de fogo em uma das mãos e a Bíblia na outra. Tinha os indígenas na conta de
desculturados, desprovidos de luzes e letras, mais próximos a bichos que a
homens. Faltou tino aos aportados. O que a mente não vê os olhos não enxergam. Fossem
menos obtusos, teriam captado: a povoada selvática exalava tanta cultura quanto
os súditos manuelinos do outro lado do oceano. Só que diferente, nem pior, nem
melhor – outras línguas, outros costumes, outros jeitos. Saber desescrito de
livros; porém gravado no alarido dos macacos, na correnteza dos rios, na palma
dos coqueiros, no sutil deslocar das formigas prenunciando inundações, nos
rituais cujas fogueiras respondiam crepitantes aos acenos da lua cheia.”
Frei Betto, Minas do Ouro, Rio de Janeiro, Rocco,
2011, p. 13.
Da badana do livro:
“Este
novo romance de Frei Betto descreve a saga da família Arienim através de cinco
séculos de história das Minas Gerais.
Em
torno de um misterioso mapa de «inesgotáveis fontes de riqueza», repassado de
geração em geração, a narrativa abarca episódios e figuras emblemáticas da
história mineira: entradas e bandeiras; guerra dos Emboabas e Triunfo
Eucarístico; a exploração de ouro e diamante; Tiradentes e Aleijadinho; mina de
Morro Velho e as coincidências entre o explorador Richard Burton e o ator do
mesmo nome.
Minas de Ouro, garimpo da memória familiar, é um
romance no qual o barroco transparece na sua volúpia e beleza, numa linguagem
de primorosa qualidade estética.”
Sem comentários:
Enviar um comentário