Imagem daqui.
A uma dama que lhe mandou pedir algumas obras suas
Senhora, se eu
alcançasse,
No tempo que ler
quereis,
Que a dita dos meus
papéis
Pela minha se trocasse;
E por ver
Tudo o que posso
escrever
Em mais breve relação,
Indo eu onde eles vão,
Por mim só quisésseis
ler;
Depois de ver um cuidado
Tão contente de seu mal,
Veríeis o natural
Do que aqui vedes
pintado;
Que o perfeito
Amor, de que sou
sujeito,
Vereis áspero e cruel:
Aqui, com tinta e papel;
Em mim, com sangue no
peito.
Que um contínuo imaginar
Naquilo que o Amor
ordena,
É pena que, enfim, por
pena
Se não pode declarar;
Que, se eu levo
Dentro na alma quanto
devo
De trasladar em papéis,
Vede qual melhor lereis:
Se a mim, se aquilo que
escrevo.
Luís de Camões, Lírica, Círculo de Leitores, 1980, pp.59-60.
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