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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

FILOTECTES

Ulisses e Neoptólemo arrancam a Filoctetes as flechas de Hércules, François-Xavier Fabre (1800)
Imagem daqui.


Introdução
O Filotectes (409 a.C.) baseia-se no contraste entre três figuras, duas que se opõem frontalmente, Filotectes e Ulisses, e uma terceira que é atraída ora para a esfera de um, ora para a esfera do outro, Neoptólemo. Filotectes, o homem abandonado que a solidão e o sofrimento endureceram, sem lhe destruírem a sensibilidade; Ulisses, o político sem escrúpulos morais que age pelo oportunismo e interesse e utiliza quaisquer meios para atingir os seus objectivos; Neoptólemo, o jovem ingénuo, bom e generoso, que aprende com as situações embaraçosas, e sofre uma visível transformação psicológica. Da correlação de forças entre estas três personagens nasce e se desenvolve a acção. (…)
Um (…) aspecto que se encontra corporizado na figura de Neoptólemo e que talvez derive mesmo da realidade da época (…) é o de saber até que ponto um soldado deve seguir as ordens injustas do chefe, as ordens que a sua consciência desaprova. Deve obedecer, sabendo que são injustas, ou desobedecer, incorrendo, por isso, numa falta militar? É o velho problema da disciplina do exército: na opinião de Ulisses, o soldado, para maior eficiência, deve obedecer cegamente às ordens dos seus chefes. (…) No Filotectes, Sófocles toma nitidamente partido pela desobediência, pela autonomia da consciência individual e pela transcendência de valores: Neoptólemo, embora tema ser considerado um traidor, se desobedecer, e apesar de Ulisses lhe lembrar que está sob as suas ordens, acaba realmente por desobedecer (…).
Filoctetes, Ulisses e Neoptólemo – três figuras que corporizam altos problemas morais, sociais e educativos. No seu confronto, assistimos à vitória da justiça, quer através da derrota total dos que usam da injustiça, quer através da recompensa dos deuses ao homem que longo tempo a sofreu e que recebe armas para fazer prevalecer a sua vontade contra todas as pressões, venham elas dos homens ou do poder.”
Sófocles, Filotectes, tradução, introdução e notas de José Ribeiro Ferreira, Lisboa, Edições 70, 2005, p. 11-30.
 

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