Ginásio Leopoldinense, Minas Gerais, Brasil.
Imagem daqui.
“Miguel
Torga
Nasceu em
1907 em S. Martinho de Anta, Trás-os-Montes.
Casado.
Altura:
um metro e 77.
Magro como
um espeto.
Perfil de
contrabandista espanhol.
Médico.
Anda que
se desunha.
Fuma,
sobretudo quando está com os amigos ou quando escreve.
Gostava de
ser pintor, e chegou mesmo a pintar um auto-retrato, que atirou ao mar, no
Portinho da Arrábida.
Vai muito
ao cinema, e ri-se perdidamente com os desenhos animados.
Só ajudou
uma vez a mulher a enxugar a louça, e há dez anos que lhe mata o bicho do
ouvido com essa avaria.
Na sua
biblioteca, pequena porque não cabem mais livros na exígua casa da Estrada da
Beira, em Coimbra, onde mora, contém o essencial das principais leituras do
mundo.
Em
pintura moderna admira Picasso, Siqueiros, Orozco e Portinari.
Tira o
chapéu a Euclides da Cunha e a Machado de Assis.
Gosta de
música, particularmente de Bach.
Mas do
que gosta a valer, é de calcorrear os montes do seu Douro transmontano e os
pauis dos campos do Mondego à caça de perdizes e de narcejas.
Nunca fez
uma tratantice a um colega das letras, em compensação, têm-lhe feito muitas.
Entre os
autores que venera: Dostoiewski, Proust, Cervantes, Unamuno e Melville.
É contra
os caçadores de autógrafos, contra os álbuns, contra a publicidade.
O “contra”
é mesmo do seu forte.
Gosta da
solidão, e preza muito quem lha respeita.
Não acredita
em fantasmas.
Anda sempre
a morrer, e não há ninguém que gaste mais energia.
Se pudesse
recomeçar a vida gostaria de ser mais poeta ainda.
Um dos
seus títulos de glória é ter passado a adolescência no Brasil (Leopoldina –
Minas).
Vive pelos
nervos.
Não há
ninguém mais amigo dos seus amigos, e tão mal compreendido por eles.
A arte
para ele não é uma ambição: é um destino.
A sua
terra é para ele como para uma planta: sítio de deitar raízes.
Tinha 20
anos quando escreveu o primeiro livro, que se chama Ansiedade.
Poetas brasileiros
que admira: Manuel Bandeira, Cecília, Ledo Ivo.
Romancistas
brasileiros que admira: Graciliano, Lins do Rego e Jorge Amado.
Gosta dos
deuses pagãos, a quem tem cantado nas suas Odes.
Mas não
conta com eles para o dia da morte, que teme como uma noite sem madrugada.”
João
Céu e Silva, Uma Longa Viagem com Miguel
Torga, Porto, Edições ASA II, S. A., 2007, p. 234.
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