Viriato Rey fotografado por Ricardo Velez
Imagem daqui.
“1ª PARTE
(As
montanhas, rios e vastos campos da Lusitânia serão o principal quadro
envolvente dos passos das personagens.)
(...)
IV CENA
(Tenda de comando de Viriato.
Viriato, Astolpas, Táutalo, soldados, guardas.
Táutalo conduz Astolpas e dois
dos homens da sua escolta à presença de Viriato.
Astolpas é um homem de
meia-idade. Porte altivo, dominador.
Saúdam-se com relativa frieza,
considerando que são sogro e genro.)
TÁUTALO
(Bem-disposto, acompanhado de
Astolpas.)
O teu sogro
cavalgou três dias para te encontrar. Deve ter notícias frescas e por certo
apetitosas!
(Táutalo sai. A um sinal de Viriato saem dois
guardas. Viriato e Astolpas ficam frente a frente.)
ASTOLPAS
Necessito de
falar contigo, antes de visitar a minha filha.
As nossas relações não têm sido serenas, como
as desejo.
VIRIATO
Dispomos da mais sábia das convivências! Viriato
manda na sua vida. Astolpas na sua.
ASTOLPAS
Mas chegou a altura de falarmos, se, como o
meu, também é teu o desejo de melhor nos
entendermos. (Pausa.) Os exércitos
romanos, comandados pelo cônsul Máximo Cipião, destruíram Cartago. Na sua fúria
de vingança não deixaram pedra sobre pedra!
VIRIATO
(Sereno.)
É uma triste notícia, que também a mim já
chegou.
ASTOLPAS
O Senado romano estará agora em melhor posição
para fazer deslocar para a Hispânia forças poderosas.
VIRIATO
Os perigos, que se aproximam, não nos
consentem a fuga.
ASTOLPAS
Também eu não estou a virar as costas ao
perigo!
VIRIATO
Tu és rico, Astolpas. E já foram ricos o teu
pai, o teu avô. Tu és rico antes de ser lusitano!
ASTOLPAS
(Duro. Altivo.)
Não deixes a
tua ira maltratar-me! Casaste com a minha filha única. Não é só por seres o meu
genro que te respeito. Nas horas de grandes convulsões, ser rico nem é
recomendável! As fortunas costumam ser o prato preferido pelos grandes abutres
que sobrevoam as guerras. Os chefes romanos facilmente encontram motivos para
acusar os ricos de graves traições.
(Pequena pausa, difícil, entre os dois
homens.)
VIRIATO
Não cavalgaste três dias e três noites para
me vires falar do teu ódio por Roma…
ASTOLPAS
Fazer comércio com Roma não é estar com Roma!
VIRIATO
Os Romanos
estão na Espanha para a dominar, e não como mercadores para comerciar. Quer
queiras, quer não queiras, terás agora de tomar um partido. Os Romanos não
deixarão de se lembrar que eu sou o marido da tua filha. E com o devido
respeito, recordas-me aquele homem que tinha duas mulheres, uma nova e uma
velha. A velha tirava-lhe os cabelos pretos. A nova, os brancos. E com as duas
a tirarem-lhe o cabelo, o homem depressa ficou completamente calvo. Deves
ficar-te pela velha, ou pela nova. Este conselho é mais um bom serviço que te
presto.
(Pequena
pausa incómoda.)
Já deves saber Astolpas… As nossas hostes vão
marchar ao encontro de Serviliano.”
João Osório de Castro, Viriato Rey, com ilustração de José Manuel Castanheira, 3ª edição
destinada ao Ministério da Educação de Portugal e Ministerio de Educación y
Ciencia de Espanha, 2006, pp 25 e 43-47.
Excerto da Apresentação:
“Esta obra
de João Osório de Castro, baseada na história mítica de Viriato, herói da
Lusitânia, foi estreada no dia 10 de Agosto de 2006 no Teatro Romano de Mérida
(integrada na programação do Festival Internacional de Teatro Clássico de
Mérida), com dramaturgia de João Mota, apoio dramatúrgico de Miguel Murillo e cenografia de José Manuel
Castanheira, produção do Festival, com a colaboração de Al Suroeste
produciones/ Javier Leone.”
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