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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

VIRIATO REY

Viriato Rey fotografado por Ricardo Velez
Imagem daqui.
 

“1ª PARTE
(As montanhas, rios e vastos campos da Lusitânia serão o principal quadro envolvente dos passos das personagens.)
(...)
 
IV CENA
(Tenda de comando de Viriato. Viriato, Astolpas, Táutalo, soldados, guardas.
Táutalo conduz Astolpas e dois dos homens da sua escolta à presença de Viriato.
Astolpas é um homem de meia-idade. Porte altivo, dominador.
Saúdam-se com relativa frieza, considerando que são sogro e genro.)

TÁUTALO
(Bem-disposto, acompanhado de Astolpas.)
O teu sogro cavalgou três dias para te encontrar. Deve ter notícias frescas e por certo apetitosas!
(Táutalo sai. A um sinal de Viriato saem dois guardas. Viriato e Astolpas ficam frente a frente.)
ASTOLPAS
Necessito de falar contigo, antes de visitar a minha filha.
As nossas relações não têm sido serenas, como as desejo.
VIRIATO
Dispomos da mais sábia das convivências! Viriato manda na sua vida. Astolpas na sua.
ASTOLPAS
Mas chegou a altura de falarmos, se, como o meu, também é teu o desejo de melhor nos entendermos. (Pausa.) Os exércitos romanos, comandados pelo cônsul Máximo Cipião, destruíram Cartago. Na sua fúria de vingança não deixaram pedra sobre pedra!
VIRIATO
(Sereno.)
É uma triste notícia, que também a mim já chegou.
ASTOLPAS
O Senado romano estará agora em melhor posição para fazer deslocar para a Hispânia forças poderosas.
VIRIATO
Os perigos, que se aproximam, não nos consentem a fuga.
ASTOLPAS
Também eu não estou a virar as costas ao perigo!
VIRIATO
Tu és rico, Astolpas. E já foram ricos o teu pai, o teu avô. Tu és rico antes de ser lusitano!
ASTOLPAS
(Duro. Altivo.)
Não deixes a tua ira maltratar-me! Casaste com a minha filha única. Não é só por seres o meu genro que te respeito. Nas horas de grandes convulsões, ser rico nem é recomendável! As fortunas costumam ser o prato preferido pelos grandes abutres que sobrevoam as guerras. Os chefes romanos facilmente encontram motivos para acusar os ricos de graves traições.
(Pequena pausa, difícil, entre os dois homens.)
VIRIATO
Não cavalgaste três dias e três noites para me vires falar do teu ódio por Roma…
ASTOLPAS
Fazer comércio com Roma não é estar com Roma!
VIRIATO
Os Romanos estão na Espanha para a dominar, e não como mercadores para comerciar. Quer queiras, quer não queiras, terás agora de tomar um partido. Os Romanos não deixarão de se lembrar que eu sou o marido da tua filha. E com o devido respeito, recordas-me aquele homem que tinha duas mulheres, uma nova e uma velha. A velha tirava-lhe os cabelos pretos. A nova, os brancos. E com as duas a tirarem-lhe o cabelo, o homem depressa ficou completamente calvo. Deves ficar-te pela velha, ou pela nova. Este conselho é mais um bom serviço que te presto.
(Pequena pausa incómoda.)
Já deves saber Astolpas… As nossas hostes vão marchar ao encontro de Serviliano.”
João Osório de Castro, Viriato Rey, com ilustração de José Manuel Castanheira, 3ª edição destinada ao Ministério da Educação de Portugal e Ministerio de Educación y Ciencia de Espanha, 2006, pp 25 e 43-47.

Excerto da Apresentação:
“Esta obra de João Osório de Castro, baseada na história mítica de Viriato, herói da Lusitânia, foi estreada no dia 10 de Agosto de 2006 no Teatro Romano de Mérida (integrada na programação do Festival Internacional de Teatro Clássico de Mérida), com dramaturgia de João Mota, apoio dramatúrgico de Miguel  Murillo e cenografia de José Manuel Castanheira, produção do Festival, com a colaboração de Al Suroeste produciones/ Javier Leone.”
 

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