Foto daqui.
“Em mil
oitocentos e oitenta e oito, parte António Nobre para Coimbra, a fim de
frequentar o primeiro ano do Curso de Direito. Nesse espaço geográfico, que
profundamente o marcará, veremos o poeta descobrir um contexto universitário
caracterizado, ainda, pelo escolasticismo medieval, se bem que segregador de
uma admirável camaradagem de afectos e de letras. E, entre as aulas, nos Gerais,
a que assiste, algo distraído da lição dos lentes e dos compêndios, e uma certa
boémia, que o há-de arrastar por melancolias e patuscadas, começará ele a
erguer o corpo de um imaginário que irá resumir-se, a breve trecho, num tecido
de linhas escritas a tinta negra.
(…)
Em mil
oitocentos e noventa, a fim de tentar obter a licenciatura em Direito, na
Sorbonne, parte António Nobre para Paris, a bordo do Britannia.
Se leva infinitas saudades da Pátria, cedo se enfeitiçará pela metrópole que o
acolhe, e na qual o seu provincianismo respira a sensação do grande ar
cosmopolita. Acotovelar-se com os ídolos da literatura do momento, julgando-se
da sua côterie, ou intentando
ingressar nela, haverá de lhe adormecer, durante a fase inicial, a consciência
da solidão dilacerante. E isto, sem falar do encontro inesquecível que, no
intuito de regularizar a sua situação de emigrado, irá ter o poeta, predisposto
a uma funda impressão, com Eça de Queirós, cônsul na capital de França.”
Mário
Cláudio, António Nobre, 1867-1900,
Fotobiografia, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001, pp. 43 e 61.
Sem comentários:
Enviar um comentário